Na trama, depois de anos no espaço tentando encontrar um novo lar para os skrulls, Nick Fury (Samuel L. Jackson) retorna à Terra para lidar com a ameaça de Gravik (Kingsley Ben-Adir), um líder skrull que se cansou da política de “boa vizinhança” de Talos (Ben Mendelsohn) e decidiu iniciar um movimento para tomar o planeta para sua raça. Gravik infiltrou skrulls nas principais estruturas de poder do planeta e visa iniciar um conflito entre várias nações. Sem ter em quem confiar, Fury conta apenas com Talos para tentar deter Gravik.
Os primeiros episódios estabelecem bem esse clima de paranoia, de que qualquer um pode ser um skrull e que Fury não tem em quem confiar, inclusive com mortes de personagens importantes. Torci para que essa tendência continuasse e que a série fosse mais um bom exemplar dessa faceta de intriga e conspiração que a Marvel soube explorar muito bem em produções como Capitão América: O Soldado Invernal (2014) e em Falcão e o Soldado Invernal (2021), mas infelizmente o mesmo não aconteceu com Invasão Secreta.
Conforme a trama progride as coisas vão ficando cada vez mais óbvias e simplórias, com boa parte das reviravoltas se tornando bastante previsíveis. Isso acontece em parte pelo escopo reduzido da narrativa que pouco explora as décadas de personagens que a Marvel estabeleceu em seus filmes e séries. Assim, com tão pouca gente aparecendo fica fácil prever que Rhodes (Don Cheadle) seria revelado como um skrull, já que não tem nenhum outro personagem importante que poderia servir a isso.
Incomoda também como personagens que começam interessantes, vão perdendo nuance e se tornando mais simplórios. O vilão Gravik é quem mais sofre com isso. Inicialmente ele soa como um revolucionário justificado em sua revolta e frustração com Fury por conta das promessas não cumpridas, tendo sido usado como instrumento de guerra a vida toda a troco de nada. Por mais que possamos questionar seus métodos, é possível entender como ele chegou ao ponto em que o encontramos, farto de falsas promessas e disposto a resolver com as próprias mãos a questão de encontrar um lar para os skrulls, mesmo que tenha que destruir a humanidade no processo.
Conforme a trama progride, no entanto, Gravik se torna mais um déspota sedento por poder, não mostrando nenhum escrúpulo em atacar seus próprios apoiadores quando questionado e disposto a sacrificar vários skrulls para fomentar sua guerra contra a humanidade. Se ele começa com alguma nuance, conforme a narrativa avança ele passa a ser só mais um genocida genérico incapaz de nos manter investidos em sua disputa com Fury.
A série ao menos consegue explorar novas facetas de Fury, nos dando vislumbres de sua vida fora dos holofotes, como o fato dele ter uma esposa, e também no modo como o estalo de Thanos o impactou. É um Fury que está cansado de anos de luta, abalado pelos objetivos deixados ainda incompletos e o sentimento de fracasso que vem com tudo isso. A essa altura Samuel L. Jackson poderia interpretar Fury mesmo que estivesse inconsciente, então é muito bem vinda a tentativa de adicionar mais ao personagem.
Além de Fury é preciso destacar o trabalho de Olivia Colman como uma implacável agente da inteligência britânica. Colma transita bem entre o sarcasmo e a ameaça, fazendo sua espiã montar uma fachada de pessoa banal que esconde uma imensa crueldade e ao longo da temporada a série nos permite ver como ela pode ser brutal com aqueles que atrapalham seu caminho, a exemplo do momento em que ela tortura um skrull capturado. Emilia Clarke acaba tendo pouco o que fazer como G’iah, já que a personagem deveria ser uma figura ambígua, flutuando entre sua lealdade a Talos e a Gravik, mas como o texto faz de Gravik um vilão tão maniqueísta, a ambiguidade de G’iah se perde.
As séries da Marvel no Disney+ sempre sofreram por conclusões apressadas, com episódios finais que precisavam correr para amarrar todos os elementos, resultando em desfechos que nem sempre funcionavam. Isso é bem visível aqui quando série tenta encerrar usando a reação do presidente dos EUA à trama dos skrulls como uma tentativa de comentário político sobre xenofobia e o modo como potências mundiais tratam refugiados. São questões complicadas que a série tenta resolver em pouquíssimos minutos e sem a devida construção, fazendo tudo soar gratuito e sem impacto nenhum.
A decisão do presidente em tratar todo e qualquer alienígena como inimigo da nação nunca soa plenamente justificada se lembrarmos que seres de outro mundo como Thor, Rocket ou Nebulosa colaboraram por anos com a Terra, sem falar do sacrifício de Talos em salvar o presidente do atentado perpetrado por Gravik. Do mesmo modo, a montagem que mostra as consequências do discurso odioso do presidente tenta fazer um paralelo com as consequências de discursos de ódio no mundo real, mas não funciona porque no contexto da série muitos dos skrulls sendo mortos eram de fato uma ameaça e não refugiados inocentes. O roteiro mistura uma série de variáveis complexas em uma coisa só em muito pouco tempo e acaba não dando conta da mensagem política que tenta passar.
A despeito de lançar um novo
olhar sobre Nick Fury e de performances competentes de Samuel L. Jackson e
Olivia Colman, Invasão Secreta nunca
entrega a paranoia e tensão que prometia, além de não dar conta de suas aspirações
a comentário social.
Nota: 5/10
Trailer
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