A narrativa segue a família da garota Maya, que desde pequena apresentou sintomas de uma rara doença que lhe causava dores constantes e atrofia nas pernas. Durante muito tempo os pais dela não encontravam um tratamento até conhecerem médicos que administravam cetamina como um meio de aplacar a dor, funcionando para a garota. Depois de anos bem, Maya tem uma nova crise e é levada para um hospital pediátrico e chegando lá os médicos não aceitam as informações do diagnóstico e do tratamento dados pela família da menina, suspeitando de maus tratos. O conselho tutelar é chamado e os pais perdem a guarda da garota, iniciando uma batalha jurídica contra o hospital que termina em tragédia.
A produção usa os recursos típicos desse tipo de documentário sobre crimes com aspecto denuncista de recorrer a entrevistas, imagens de arquivo e reconstituições, se beneficiando da quantidade enorme de material registrado pela mãe de Maya, que fez longas anotações e gravou todas as ligações que fez para os funcionários do hospital. Esse material registrado pela família, além do trabalho investigativo de uma repórter local, ajuda a dar consistência às denúncias de negligência e abuso dos sistemas médicos e jurídicos, que parecem mais interessados no lucro. Inclusive porque o equivalente dos EUA ao nosso Conselho Tutelar não é um órgão de Estado, mas uma instituição privatizada, que recebe a cada criança colocada em seu sistema, então seria do interesse financeiro desse órgão e dos hospitais remover a guarda dos pais e ganhar a maior quantidade possível de dinheiro das crianças que “auxiliam”.
Aliada a essa falta de escrúpulo e do incentivo das assistentes sociais em acionar remoção da guarda por qualquer coisa está o fato do sistema dar poder demais aos médicos pediatras que fazem esse tipo de denúncia, de modo que basta que uma médica não conheça um diagnóstico ou tratamento para considerar que há algum tipo de abuso acontecendo e acionar os órgãos competentes sem que a opinião de mais nenhum outro profissional de saúde seja ouvida, reduzindo a questão mais à impressão subjetiva do pediatra do que uma decisão técnica/científica. Ao apresentar várias famílias que tiveram suas vidas prejudicadas pela ação de uma mesma médica, o documentário também questiona como as estruturas postas facilitam a impunidade de maus profissionais.
Através das entrevistas com Maya, seus familiares e outras pessoas afetadas por esse tipo de ação o documentário consegue mobilizar nossa revolta contra uma estrutura que é mais uma máquina de moer gente visando lucro do que instituições verdadeiramente preocupadas com o bem estar das crianças. As vozes e corpos em cena ajudam a tornar visível o trauma e dano psicológico que não é facilmente traduzido em imagens, nos fazendo sentir o peso disso naquelas pessoas mesmo anos depois. Em alguns momentos, como quando a família de Maya retorna decepcionada para casa depois do julgamento do processo contra o hospital é mais uma vez adiado, o filme opta por nos deixar apenas com áudio dos personagens, evitando expor demais em imagem o sofrimento da família, mas nos dando a medida de dor e frustração que tudo aquilo causa neles.
O Mistério de Maya é um documentário típico no modo como usa os
recursos audiovisuais, mas a competente investigação e dados apresentados são
eficientes na construção de uma dura denúncia contra um sistema que destrói as
crianças e famílias que deveria proteger.
Nota: 7/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário