Devo dizer que não sou um profundo conhecedor de One Piece, com meu contato com esse universo se limitando a games como One Piece Pirate Warriors ou One Piece Odyssey. Eu sei quem são os personagens e tenho alguma noção dos principais arcos, mas não seria a melhor pessoa para dizer se é fiel ou não.
A trama segue a mesma premissa do mangá e do anime. Luffy (Iñaki Godoy) deseja encontrar o mítico tesouro One Piece e se tornar o Rei dos Piratas, para tal precisa encontrar uma tripulação que tope cruzar a perigosa Grand Line ao seu lado. Ele encontra aliados em Zoro (Mackenyu, que foi o Seiya no pavoroso live action de Cavaleiros do Zodíaco) e Nami (Emile Rudd), mas o caminho até a Grand Line é cheio de perigos e eles encontrarão muitos obstáculos, seja na poderosa Marinha, que combate os piratas com mão de ferro, seja em outros piratas que veem Luffy como um problema.
Se a maioria das adaptações ocidentais de animes tenta inscrever seus universos e personagens em uma estética realista, One Piece acerta em manter tudo dentro de um regime cartunesco, mantendo as matizes saturadas, cabelos coloridos e armas exageradas, deixando claro que estamos diante de um desenho que ganhou vida ao invés de forçar esse universo em um regime estético que não dá conta da inventividade visual do material original.
O texto também acerta na construção da amizade entre o bando dos Chapéus de Palha, que aos poucos aprendem a confiar um no outro. Os episódios dão espaço não apenas para que eles se desenvolvam como um coletivo, mas também dando cenas isoladas com cada um ao lado de cada companheiro (ou da maioria deles) permitindo que vejamos como essas diferentes personalidades vão se ajustando umas as outras. Muito do mérito vem também do elenco, no modo como Iñaki Godoy dá uma energia vibrante e interminável a Luffy, Mackenyu traz uma sisudez estoica a Zoro ou como Emily Rudd faz de Nami alguém que usa sua dubiedade moral e fachada durona para não ter que se abrir aos outros.
A ação mantem o espírito das lutas grandiloquentes do anime, com personagens como Luffy, Zoro ou Sanji (Taz Skylar) despachando dezenas de inimigos de vez ou golpes que põem abaixo prédios inteiros. Muito do motivo de tudo funcionar não é apenas a qualidade dos efeitos visuais ou a energia das coreografias de luta, mas o já citado regime visual cartunesco que faz tudo soar coeso. Mesmo poderes como as habilidades elásticas de Luffy soam convincentes dentro do regime estético excêntrico que a série adota para si e a linguagem corporal de Iñaki Godoy ajuda a dar um senso de peso e movimento aos golpes do pirata, com Luffy “engatilhando” os braços brevemente antes de esticá-los, como que fazendo um movimento pendular para que eles tenham energia para chegar longe com bastante força.
Como a temporada condensa todo o arco de East Blue, é visível mesmo para um neófito que alguns eventos acontecem rápido demais. Toda a batalha com Buggy (Jeff Ward) e a libertação da cidade sob seu controle parece se resolver de maneira muito repentina, como se a série precisasse resolver logo o conflito para partir para o seguinte. A velocidade também faz alguns temas ficarem na superficialidade. O vilão Arlong (McKinley Belcher) menciona como o Governo Mundial escravizou os homens-peixe e que mesmo depois do fim da escravidão eles ainda são estigmatizados. É claramente uma tentativa de fazer um paralelo com a escravidão e diáspora negra no mundo real (o fato de Arlong ser interpretado por um ator negro não parece ser coincidência), mas o texto não investe realmente nessas ideias, rapidamente levando à batalha entre Luffy e Arlong, deixando de lado a discussão dessas ideias.
Ainda assim, One Piece: A Série é uma competente adaptação live action que traz as batalhas empolgantes, senso de humor e
conexão emocional entre os protagonistas que tornaram o material original tão
longevo.
Nota: 7/10
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