quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Crítica – Wicked

 

Análise Crítica – Wicked

Review – Wicked
Na Broadway, o musical Wicked trazia uma interessante releitura para a mitologia do universo de O Mágico de Oz, ponderando como sobre o perigo de ouvir apenas um lado da história e como isso resulta em maniqueísmos injustos. Fiquei curioso com o anúncio de uma adaptação para cinemas, principalmente pela escolha de dividir o musical em duas partes, que evitaria ter que condensar demais a narrativa e prejudicar a construção dos personagens e conflitos, como aconteceu em Caminhos da Floresta (2014). Sim, esse filme é só a primeira metade da história.

Metáforas da diferença

A narrativa começa com a derrota da bruxa Elphaba (Cynthia Erivo) no filme de O Mágico de Oz e enquanto a terra de Oz comemora a sua morte, Glinda (Ariana Grande), a bruxa boa, relembra o passado das duas e como ninguém nasce naturalmente maligno. Acompanhamos então a juventude das duas e como elas estudaram juntas para se tornarem feiticeiras, com Elphaba sempre demonstrando uma aptidão natural para magia enquanto Glinda não tinha o mesmo talento embora desejasse dominar a magia. As habilidades de Elphaba chamam a atenção da professora Morrible (Michelle Yeoh), que a consideram capaz de ajudar o grande Mágico de Oz (Jeff Goldblum), embora a aparência verde de Elphaba desperta preconceito e intolerância nos colegas.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Crítica – Tesouro

 

Análise Crítica – Tesouro

Review – Tesouro
Adaptando um romance escrito por Lily Brett este Tesouro tenta ser simultaneamente um road movie sobre pai e filha se reconectando depois da morte da mãe e um exame sobre a memória do Holocausto e as consequências do antissemitismo. Nem sempre ele se sai bem nas duas coisas, funcionando melhor na dimensão familiar do que no exame histórico.

Viagem em família

A narrativa se passa em 1990 e acompanha a jornalista Ruth (Lena Dunham) que viaja à Polônia para conhecer a cidade em que os pais cresceram. Ela é acompanhada pelo pai, Edek (Stephen Fry), um octogenário sobrevivente do Holocausto. Os dois se afastaram depois da morte da mãe de Ruth, então a viagem é também uma tentativa dos dois em se reaproximarem. De início Edek reluta em voltar para sua antiga cidade, mas o retorno acaba despertando nele sentimentos que havia esquecido.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Crítica – Cobra Kai: Sexta Temporada Parte 2

 

Análise Crítica – Cobra Kai: Sexta Temporada Parte 2

Review – Cobra Kai: Sexta Temporada Parte 2
A impressão ao assistir essa segunda parte da temporada final de Cobra Kai é estar diante de alguém que já sofreu morte cerebral, mas a família se recusa a desligar os aparelhos e aceitar que acabou. Não apenas a trama já não tinha mais para onde ir, algo que mencionei quando escrevi sobre a primeira parte, como essa segunda parte se recusa a encerrar a história e prolonga a série para mais uma terceira leva de episódios que não tem mais qualquer razão para ter se alongado tanto.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Drops – Corte no Tempo

 

Crítica – Corte no Tempo

Review – Corte no Tempo
Uma adolescente volta ao passado para impedir um serial killer de matar um ente querido e no processo aprende mais sobre o passado de sua família. Essa era a premissa de Dezesseis Facadas (2023) e que é repetida neste Corte no Tempo, mas sem o humor ou o gore da produção de 2023.

Mortes sem impacto

A trama é protagonizada por Lucy (Madison Bailey, de Outer Banks), uma garota que acidentalmente viaja no tempo para 2003, dias antes da irmã mais velha, Summer (Antonia Gentry, de Ginny & Georgia) ser assassinada. Presa no passado, ela precisa encontrar um meio de retornar ao presente ao mesmo tempo em que busca um meio de impedir a morte da irmã.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Crítica – A Extraordinária Vida de Ibelin

 

Análise Crítica – A Extraordinária Vida de Ibelin

Review – A Extraordinária Vida de Ibelin
É curioso como só conhecemos certas facetas de entes queridos depois que eles falecem. O documentário A Extraordinária Vida de Ibelin explora esse sentimento ao contar a história de Mats Steen, um jovem norueguês que morreu aos vinte e poucos anos por conta de uma doença muscular degenerativa. Seus pais achavam que a vida dele tinha sido só sofrimento por conta de seus problemas de saúde e de estar preso em uma cadeira de rodas, conseguindo mexer apenas os dedos, mas depois de seu falecimento descobriram que ele tinha uma enorme rede de amigos, paixões e apoiadores dentro do jogo World of Warcraft e perceberam que a vida do filho não tinha sido tão solitária quanto pensavam ser.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Crítica – Gladiador 2

 

Análise Crítica – Gladiador 2

Review – Gladiador 2
Não creio que ninguém que tenha assistido Gladiador (2000) tenha saído do filme pensando “nossa, mal posso esperar por uma continuação que conte a história do filho do protagonista”, mas mesmo sem ninguém querer ou que fosse necessário para amarrar qualquer ponta da história que Ridley Scott contou há mais de vinte anos atrás, Gladiador 2 está entre nós. Não faz a menor diferença, não precisava existir, mas não é exatamente ruim.

Ecos da eternidade

A narrativa é centrada em Lucius (Paul Mescal), filho de Lucilla (Connie Nielsen) e Maximus (Russell Crowe) do primeiro filme. Para ser mantido em segurança Lucius foi mandado para longe e se tornou um guerreiro no norte da África. Quando suas terras são conquistadas por Roma e sua esposa é morta pelo general Acacius (Pedro Pascal) ele é vendido como escravo e usado como gladiador pelo inescrupuloso Macrinus (Denzel Washington). Agora Lucius retorna à Roma para se vingar do general e dos cruéis imperadores Geta (Joseph Quinn, de Stranger Things) e Caracalla (Fred Hechinger).

É basicamente a mesma premissa do primeiro filme, mas tudo é duplicado. Ao invés de um guerreiro que luta por vingança e para restaurar a justiça em Roma temos essas motivações divididas entre Lucius e Acacius. Ao invés de um imperador imaturo e sádico temos dois em Geta e Caracalla (cujas ações parecem inspiradas na figura real de Calígula), mas de resto é a mesma história sobre defender “o sonho de Roma” que embalou a história trágica de Maximus.

Repetição também está no trabalho do elenco ainda que entreguem performances competentes. Denzel Washington devora o cenário ao interpretar Macrinus como uma versão romana e com mais joias do que um bicheiro carioca de seu Alonzo de Dia de Treinamento (2001). Macrinus é um sujeito ardiloso, que joga em vários lados sempre visando o ganho pessoal e está sempre a frente dos oponentes, como se ele estivesse jogando xadrez enquanto os demais jogassem damas. É um personagem que domina cada cena em que está, mas a essa altura da carreira Washington o interpretaria com as mãos amarradas nas costas. Connie Nielsen traz a mesma dignidade e altivez a Lucille que apresentava no original, enquanto Pedro Pascal traz um misto de honra e desilusão a Acacius.

Os dois imperadores, por outro lado são tão histriônicos que pendem para a caricatura. Joseph Quinn se sai um pouco melhor ao conseguir injetar algum mínimo grau de humanidade a Geta, mas o Caracalla de Fred Hirchinger passa do ponto do exagero e soa como um vilão de desenho animado. Sim, eu entendo que ele deveria ser um sujeito louco com o cérebro carcomido pela sífilis, mas mesmo entre toda essa loucura há uma pessoa ali (pensem em Forrest Whitaker como Idi Amin em O Último Rei da Escócia) e o trabalho de Hirchinger é tão exagerado ao ponto de soar falso.

Arena Mortal

O primeiro filme foi alvo de críticas por sua falta de precisão histórica, algo que nunca me incomodou pessoalmente, mas aqui Scott desvia tanto da realidade que o filme praticamente entra no domínio da fantasia. Digo isso não apenas por sua trama se povoada por muitos personagens ficcionais, mas por uma série de eventos que transcorrem, principalmente dentro da arena do Coliseu. Aqui vemos batalhas com rinocerontes, uma batalha naval com direito a tubarões nadando na arena uma série de outras ocorrências que qualquer leigo é capaz de dizer que se trata de liberdades artísticas.

Não que a ação seja ruim, pelo contrário, ela é um dos pontos altos do filme. Essas liberdades que Scott toma servem para evidenciar ainda mais a opulência e desigualdade de sua Roma corrompida que gastava horrores com esses jogos no Coliseu enquanto a população ficava à míngua e os espetáculos brutais serviam como uma distração para essa miséria. A condução de Scott é eficiente em construir o senso de escala dessas e o caos brutal desses embates. São lutas vencidas tanto na estratégia quanto na força e cujas consequências sangrentas o filme faz questão de exibir. Seja nas batalhas mais grandiosas ou em duelos mais íntimos, como na luta entre Lucius e Acacius, a produção instila uma energia intensa na ação e um senso de que Lucius e outros personagens passam por um risco palpável de serem derrotados. O senso de grandiosidade e de tragédia também é construído pela música, inclusive com o uso de faixas da trilha do primeiro filme como Now We Are Free de Hans Zimmer cuja melodia dá senso da jornada grandiosa de seus personagens enquanto os vocais de Lisa Gerrard, cuja letra menciona liberdade, constrói a dimensão transcendental e trágica dessa história.

É por conta desse senso de grandiosidade da ação e pelo trabalho do elenco que Gladiador 2 consegue oferecer algo de interessante ainda que não tenha nada que Ridley Scott já não fez melhor antes. De certa forma é como ver aquela banda que você gosta e que já não toca como antes sair em uma turnê cantando seus melhores sucessos. É bacana, mas você sabe que é uma reprodução menor do que veio antes.

 

Nota: 7/10


Trailer

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Crítica – Pinguim

 

Análise Crítica – Pinguim

Review – Pinguim
O anúncio de que o recente Batman (2022) ganharia uma série derivada centrada no Pinguim (Colin Farrell) não me soava muito interessante. Parecia mais o tipo de tentativa de forçar mais um universo compartilhado cheio de spin offs do que algo que partia de alguma premissa interessante. Os primeiros episódios de Pinguim reforçaram um pouco essa impressão, já que apesar de um drama competente, tudo soava muito derivativo. O protagonista, com seu ego instável, sociopatia violenta, relação tóxica com a mãe e Complexo de Édipo mal resolvido remetiam tanto ao Tony Soprano que a série parecia ser basicamente um Família Soprano situado no universo do Batman.

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Crítica – Herege

 

Análise Crítica – Herege

Review – Herege
Aproveitando sua boa fase como vilão nos filmes do Paddington ou no divertido e pouco visto Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes (2023), Hugh Grant resolve fazer um vilão de terror neste Herege. A produção visa ser um questionamento sobre fé e instituições religiosas conta a história de duas missionárias mórmons, Barnes (Sophie Tatcher) e Paxton (Chloe East), que se veem presas na casa do estranho Sr. Reed (Hugh Grant) depois dele convidá-las para falar mais do mormonismo. Na casa, Reed irá testar as convicções delas em situações que começam desconfortáveis, se tornam tensas e logo se transformam em desafios mortais.

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Crítica – The First Slam Dunk

 

Análise Crítica – The First Slam Dunk

Review – The First Slam Dunk
Apesar do título, The First Slam Dunk não é um prelúdio para a história do anime/mangá Slam Dunk de Takehiko Inoue. Na verdade, ele é uma espécie de continuação do anime ao adaptar o último arco do mangá e mostrar a partida decisiva entre os protagonistas do colégio Shohoku e os rivais do colégio Sannoh. De partida isso pode afastar novatos a este universo, já que encontramos esses personagens e suas relações plenamente desenvolvidos, mas o filme, dirigido pelo próprio Inoue em sua estreia como realizador de cinema, consegue funcionar como uma ótima introdução a Slam Dunk.

Vidas em jogo

A narrativa se passa durante a partida derradeira entre Shohoku e Sannoh e ao logo do jogo volta algumas vezes ao passado dos protagonistas para construir suas histórias e o que está em disputa para cada um naquela partida numa estrutura similar a Rivais (2024). Se o anime e mangá eram protagonizados pelo jovem delinquente Sakuragi, que entrava para um time de basquete para se aproximar de uma garota de quem gostava, aqui o foco da narrativa é Ryota, um armador de baixa estatura, mas muito ágil.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Crítica – Operação Natal

 

Análise Crítica – Operação Natal

Review – Operação Natal
Não esperava muita coisa de Operação Natal. O trailer dava a impressão de um blockbuster genérico, feito para cumprir a cota de filmes natalinos do ano, mas o resultado é uma aventura divertida, que cria um universo interessante e tem um inesperado calor humano. Além do mais, em um ambiente em que praticamente todos os blockbusters são continuações de franquias longevas ou pertencem a algum universo compartilhado, é um alívio enorme assistir um filme-pipoca que não te cobra o “dever de casa” de ter acompanhado meia dúzia de outros filmes, séries e spin-offs para conseguir minimamente se situar na narrativa. É bom ver que Hollywood ainda sabe fazer filmes que você pode simplesmente sentar e se divertir.

Papai Noel em perigo

A trama é centrada em Cal (Dwayne “The Rock” Johnson), o guarda-costas pessoal do Papai Noel (J.K Simmons). Ele está prestes a se aposentar por estar descrente com a humanidade, cuja lista de pessoas malvadas já superou a de pessoas boazinhas. No seu último dia de trabalho, Noel é sequestrado e a única pista é o hacker que ajudou os sequestradores a encontrarem a fábrica do Papai Noel. Assim, Jack (Chris Evans), que nunca acreditou em Papai Noel, é arrastado por Cal para descobrir o paradeiro do bom velhinho.

De certa forma é uma trama bem esquemática. Uma dupla de personalidades opostas, com Cal sendo o sisudo focado na missão enquanto Jack é um malandro que tenta resolver tudo na lábia e sempre busca tirar vantagem. É claro que ao longo da trama eles irão aprender algo um com o outro e Jack, que está na lista dos malcriados desde criança, vai aprender a ser bonzinho e se reaproximar do filho com quem tem pouco contato. É previsível, mas funciona pelo carisma do elenco.

Chris Evans é bem divertido fazendo um canalha de bom coração que aos poucos aprende a importância de formar laços com outras pessoas enquanto Johnson funciona como o contraponto mais sério à personalidade escorregadia de Jack. Evans inclusive encontra momentos de emoção genuína nas conversas entre Jack e o filho durante o clímax. J.K Simmons traz a Noel uma presença que é simultaneamente marcante e humilde. É um sujeito que demonstra um grande poder, mas uma medida similar de benevolência e afeto.

Universo fantasioso

A produção é criativa na construção de seu universo em que seres mitológicos vivem ocultos em meio ao nosso mundo, com uma agência secreta que mantem a paz entre seres lideradas pela expediente Zoe (Lucy Liu). Cal, por exemplo, consegue se mover rapidamente para qualquer lugar do mundo usando uma rede de portais que são acessados em qualquer loja de brinquedos e uma manopla que pode transformar qualquer brinquedo em um objeto real, como transformar um carrinho em miniatura em um carro de verdade. Sim, esses momentos muitas vezes servem de publicidade para algumas marcas de brinquedos, mas não deixam de gerar alguns momentos divertidos.

O filme também acerta nas cenas de ação e como usa diferentes criaturas de histórias natalinas, como os bonecos de neve que congelam tudo em que tocam e servem de capangas para a vilã ou o modo como Cal altera entre sua forma humana e sua forma de elfo enquanto luta usando a variação de tamanho ao seu favor como se fosse o Homem-Formiga. O fato de boa parte dessas criaturas serem feitas usando próteses e maquiagem ajuda a tornar tudo mais crível e a dar um senso de materialidade a esse universo, como no segmento em que Cal e Jack invadem o lar do Krampus (Kristofer Hivju), o irmão maligno do Papai Noel, e todas as criaturas ali são primordialmente fruto de efeitos práticos.

Inclusive nos momentos em que o filme recorre a criaturas completamente digitais chega a ser difícil não sentir algum estranhamento, já que elas não parecem pertencer ao mesmo universo que o resto dos personagens, Alguns, como o urso polar Garcia, são convincentes, mas outros nem tanto. O melhor exemplo disso é quando a bruxa Gryla (Kiernan Shipka, de O Mundo Sombrio de Sabrina) assume sua forma monstruosa durante o clímax e o resultado parece mais um design rejeitado para chefão de Dark Souls.

O texto ocasionalmente apresenta algumas incongruências. Um exemplo é o fato de Cal trabalhar há séculos protegendo o Noel e agindo como um guarda-costas pró-ativo e diligente, mas quando é conveniente para o roteiro ele desconhece completamente como lidar com determinadas criaturas embora ele se comporte como se já tivesse enfrentado esses seres antes.

Mesmo com uma trama previsível, Operação Natal diverte pelo elenco carismático e pelo universo criativo que mistura fantasia e realidade.

 

Nota: 6/10


Trailer