Dirigido por Paul Schrader, Oh, Canadá é sobre como nenhum registro
é capaz de dar conta de um indivíduo. Tentar contar a história de alguém envolve
escolhas, envolve fabulação, e nesse processo o sujeito é transformado em um
ser de linguagem, um personagem, que por mais que se tente nunca refletirá
completamente a complexidade de uma pessoa real. É uma análise de como se constrói
um discurso mitificado sobre alguém e as fissuras nesse discurso, embora nem
chegue a executar suas ideias com a contundência que acredita estar exercendo.
Multidões dentro de si
A narrativa adapta o romance Foregone, de Russell Banks, e é centrada
em Leo Fife (Richard Gere), um renomado documentarista que nos anos 60 teria
fugido dos Estados Unidos para o Canadá por se recusar a servir na Guerra do
Vietnã. Agora, com um câncer em estado avançado, ele aceita falar para o documentário
que um antigo estudante, Malcolm (Michael Imperioli), está fazendo a seu
respeito. Ao longo da conversa, Leo revisita sua juventude (na qual passa a ser
interpretado por Jacob Elordi) e, sabendo que seus dias estão contados, reconta
sem reservas a sua vida, oferecendo um olhar sobre si que vai além da visão
construída de um cineasta engajado.