sábado, 25 de outubro de 2008

Os Boêmios Analisam - Speed Racer


A primeira vez que vi o trailer deste Speed Racer tive certeza de que seria um fracasso financeiro. Não que tenha me parecido ruim, na verdade, fiquei indiferente à qualidade do filme ao ver os trailers. Era um filme-família que não parecia querer atingir nenhum de seus públicos-alvo, por demais orientalizado para o grande público ocidental, um personagem antigo demais para chamar a atenção da garotada(e também era um personagem mais puro e ingênuo, que não condiz com a era de anti-heróis que estamos vivendo) e com um estilo hiperbólico demais para chamar a atenção dos adultos.

Ao contrariarem toda a lógica de mercado os irmãos Wachowski criaram um ótimo filme, entretanto pagaram o preço por estarem muito fora dos padrões(assim como o Hulk de Ang Lee) e a fita naufragrou nas bilheterias.

Falou-se demais pelo visual demasiadamente estilizado do filme, mas fica claro ao assistir a projeção que a inteção dos diretores era mesmo criar um anime em live-action e essa estética funciona perfeitamente na lógica do filme, mais até do que se tentassem fazer algo mais real(tentaram fazer isso com Dragon Ball e vejam a merda que deu). Assim, ao mostrar cifrões nos olhos de determinado personagem ou outro rodando um ninja no ar como se não fosse nada, os irmãos nos lembram que Speed Racer é, essencialmente, um desenho animado e que negar isso negaria todo o universo que o personagem habita.

E já que estou falando da parte técnica do filme, tenho que tirar o chápeu pros Wachowski. Não só os efeitos especiais estão perfeitos, criando corridas com manobras inacreditáveis principalmente as do rali Casa Cristo, como também para toda a maneira com eles filmaram, com transições entre planos que lembram bastante um desenho animado, bem como os movimentos frenéticos de câmera que aqui servem para acentuar o ritmo movimentado da narrativa e funcionam muito bem para este objetivo(ao contrário dos filmes do Tony Scott).

O roteiro me surpreendeu bastante, apesar da narrativa permeada por flashbacks e idas e voltas no tempo, o que diminui sua fluidez e pode confundir os desatentos, a história trata de temas como totalitarismo corporativo, esporte como arte e não negócio, compromisso e legado familiar, tudo isso sem cair nos pieguismos fáceis que permeiam os chamados filmes-família,. E o mérito disso é todo do ótimo elenco. Emile Hirsch transmite com segurança a garra e a tenacidade de Speed, Matthew Fox(o Jack de Lost) traz em si todo o mistério e amargura que cercam o Corredor X e Susan Sarando e John Goodman parecem que simplesmente saltaram direto do desenho original nos papéis dos pais de Speed, tamanha sua fidelidade com o material original.

Speed Racer é certamente um filme que merece ser descoberto pelo público, seu fracasso nas bilheteria mostra que nem sempre a originalidade é facilmente assimilada pelas grandes audiências.

Nota 8,5

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