segunda-feira, 25 de maio de 2009
Rapsódias Revisitadas - O Quarto Poder
Assisti esse filme semana passada(ou retrasada, sei lá) na faculdade e devo dizer que é bastante interessante a maneira como ele trata a construção(em todos os sentidos da palavra) da notícia e foge um pouco da imagem que tradicionalmente é passada do jornalista no cinema de ser aquela pessoa que arrisca tudo para investigar a verdade por trás dos fatos(como vemos em filmes como Todos os Homens do Presidente e O Informante), passando a mostrar o lado mais "sujo", por assim dizer, da profissão.
Max Breckett(Dustin Hoffman) é um repórter banido das grandes redes de televisão e fadado ao esquecimento das emissoras locais, mas ele enxerga uma oportunidade de retornar à cobertura nacional quando, durante uma reportagem a um museu, um antigo segurança, Sam(John Travolta), invade o lugar armado com um uma espingarda e dinamite e exige a sua chefe que o contrate de volta, trancando ela e uma turma de estudantes dentro do museu.
Max aproveita-se da situação para dar um furo de reportagem já que é o único jornalista até o momento naquele local. Em sua ânsia para fazer uma matéria exclusiva, Max desconsidera os interesses e a segurança de todos os envolvidos, fazendo o possível para alongar a situação(e consequentemente a matéria), chegando ao ponto de repreender sua estagiária por ajudar um homem ferido ao invés de filmá-lo, evidenciando assim o predatismo midiático que se importa mais em explorar as vidas e as imagens do indivíduo para obter audiência e dinheiro do que efetivamente realizar algo que traga benefícios à sociedade.
Logo se forma um verdadeiro circo em torno do acontecido, com repórteres de diferentes emissoras explorando cada ângulo da tragédia que se segue no museu e construindo os fatos de acordo com seus próprios interesses e pontos de vista, alimentando a população com factóides fruto de meras conjecturas e de manipulação de testemunhos.
Manipulação esta que também é feita por Max, que se torna quase um assessor de imprensa de Sam, dizendo-o como se portar diante da polícia e da mídia para que o público tenha uma imagem positiva dele. Novamente, Max leva primeiramente em conta os seus interesses e não os do ex-segurança. Conforme a crise se avança, o veterano diretor Costa-Gravas vai tecendo uma trama que coloca o espectador dentro dos bastidores do jornalismo televisivo com um amplo escopo que vai desde os repórteres aos diretores de redação até os executivos das grandes emissoras, mostrando um panorama bastante completo do âmbito da mídia.
A habilidade de Max em manter Sam sob controle vai se esvaindo conforme os dias passam. Cansado físico e mentalmente, o segurança não consegue mais pensar com clareza e tenta resolver as coisas ao seu modo. A decadência do personagem, aliás, é muito bem retratada por John Travolta que, conforme o filme avança, vai adotando um olhar quase imóvel, como se Sam se esforçasse para se concentrar e se manter acordado, seu cansaço pode ser visto pelo tremor em suas pernas quando ele caminha e quando ele toma remédios para evitar a fadiga suas mãos tremem como se fosse algo natural.
A fraqueza de Sam é percebida pelas autoridades e por um repórter rival de Max, que vê a oportunidade de desacreditar Sam perante o público e registrar com exclusividade sua prisão ao mesmo tempo em que se vinga do rival Max. As tensões aumentam à medida que os dois jornalistas dão suas últimas cartadas para encerrar a situação, chegando ao chocante final que nos mostra que todos nós não passamos de produtos descartáveis a serem explorados pelos meios de comunicação.
Um filme que incita a debates tão ricos sobre mídia, ética, construção da realidade e banalização da violência certamente é uma rapsódia que merece ser revisitada.
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