domingo, 9 de agosto de 2009
Os Boêmios Analisam - G.I Joe: A Origem de Cobra
Metonímia é uma figura de linguagem em que uma parte significa o todo(e vice-versa). Na arte, normalmente analisar uma parte fora do todo normalmente não é válido, pois a parte perde seu significado fora do contexto do todo. Entretanto, há uma parte de G.I Joe que simboliza perfeitamente o todo do filme.
O ninja Snake Eyes(Ray Park) é um dos personagens principais do filme e durante toda a projeção ele não mostra o rosto, não diz uma palavra e distribui porrada pra todos o lados. E é exatamente isso que o filme é, uma obra sem cara(personalidade), que não tem nada a dizer, mas que chuta muitas, muitas bundas.
Se é ação que procura dificilmente G.I Joe irá decepcionar, o filme é recheado de tiroteios, lutas e perseguições de encher os olhos, ao contrário de filmes recentes como Transformers, cuja "ação" se resume a explosões intermináveis. A única ressalva são os efeitos especiais que continuam exibindo aquela CGI preguiçosa característica do diretor Stephen Sommers(A Múmia 1 e 2, Van Helsing), que mais parece saída de um videogame.
O roteiro simplesmente não existe, a trama gira em torno de um objeto que ambos os Joes e a organização liderada por Destro(Cristopher Eccleston), que ainda não é a entidade terrorista Cobra, desejam e por isso ficam se porrando o filme inteiro. O ritmo da "narrativa" ainda é bastante prejudicado por muitos flashbacks inúteis, que em muitas vezes apenas mostram coisas que já foram ditas pelos personagens ou com informações que poderiam ser esclarecidas com simples diálogos. Aliás, devo salientar que é a história do Comandante Cobra e o suas motivações são pra lá de patéticos. O roteiro tenta lhe dar um passado, mas falha miseravelmente em mostrar as razões dele ter resolvido seguir por aquele caminho. Seria melhor não mostrar sua história. Por outro lado, é bastante interessante que aqui G.I Joe é uma divisão internacional, ao contrário do desenho e dos bonecos onde todos eram americanos e mostrando que o restante do mundo também produz bons soldados.
Os personagens também não existem, sendo um bando de estereótipos unidimensionais definidos mais por suas caraterísticas físicas e equipamentos do que pela suas personalidades, se bem que esperar profundidade de um filme baseado em bonecos é pedir um pouco demais. Sendo assim, vemos atuações preguiçosas, como o inexpressivo Channing Tatum que é um zero à esquerda como Duke, e/ou caricatas, o Comandante Cobra interpretado por Joseph Gordon-Levitt, por exemplo, parece ter saído de um seriado dos anos 60 de tanto que ele força na entonação vilanesca(só faltou a clássica cena da gargalhada macabra com a câmera fazendo zoom-out). E para registrar, a ponta do Brendan Fraser é uma das mais inúteis que já vi num filme, colocaram o cara em meio minuto de filme só pra ficar repetindo a fala "de novo" umas 47 vezes, se ele foi pago deve ter sido a grana mais fácil que já ganhou.
Mas a verdade é que o filme é muito melhor nos momentos em que não tenta contar uma história ou exibir algum conflito dramático, sendo muito mais bem sucedido nos conflitos físicos como as lutas entre Snake Eyes e Storm Shadow ou o ataque ao Poço, a fortaleza dos Joes. Como já falei antes, as cenas de ação estão entre as melhores vistas esse ano.
G.I Joe mostra-se como um filme de ação razoavelmente satisfatório e bastante divertido apesar de sua total falta de conteúdo. Quem está procurando apenas se divertir não vai se decepcionar.
Nota: 5
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Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
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