Sobreviver a um naufrágio pode ser algo extremamente complicado. O cinema já nos mostrou isso em filmes como Náufrago (2001) ou para as muitas versões já produzidas pela sétima arte para o clássico da literatura Robinson Crusoé. Entretanto, mais complicado do que sobreviver a um naufrágio deve ser sobreviver a um naufrágio sendo um adolescente, em mar aberto e apenas na companhia de um selvagem tigre de bengala em seu bote salva-vidas e é esta a história que nos conta As Aventuras de Pi. O filme começa com um escritor (Rafe Spall) entrevistando Pi (Irfan Khan) sobre uma história fantástica ocorrida em sua juventude enquanto o protagonista narra tudo que lhe aconteceu.
O diretor Ang Lee mantém aqui seu uso estilístico de planos mais demorados, de natureza quase que contemplativa, enquanto explora as paisagens das cidades indianas ou do bote do jovem Pi (Shuraj Sharma) em mar aberto. A construção do diretor entrega-se, também, em muitos momentos de pura beleza plástica e lirismo. Em determinado momento Pi narra o quanto seu padrinho Mamaji gostava de nadar e o vemos mergulhar em uma piscina com a câmera posicionada em baixo d´água e virada para cima. Isto nos permite ver o céu além da água, dando a impressão de que Mamaji está voando e não nadando, transmitindo a sensação de liberdade que o personagem tem ao nadar. Ao longo do filme vemos outras composições bastante interessantes e belíssimas como o mar de águas-vivas e alguns outros que não revelarei para não diminuir seu impacto. A fotografia luminosa e com cores fortes contribui para a construção do tom fabulesco da obra.