As coisas não pareciam promissoras para Crô: O Filme. A tentativa anterior de emplacar um filme baseado em um personagem de novela foi o totalmente execrável Giovanni Improtta que (felizmente) passou praticamente despercebido do público. Assim sendo, foi com uma expectativa em níveis glaciais que entrei na sala de cinema para assistir a este filme e devo dizer que, embora ele não seja a hecatombe nuclear que temi que fosse, ainda assim tem muito pouco que se aproveitar aqui.
A trama coloca Crô (Marcelo Serrado) aproveitando a vida como milionário, mas sentindo falta de um propósito em sua vida. Uma noite ele sonha com sua falecida mãe (Ivete Sangalo) e tem uma revelação: deve voltar a ser mordomo. Após o anúncio público de que irá entrevistar candidatas a patroa, Crô passa a ser visitado por todo tipo de socialite exótica, inclusive a maligna Vanusa (Carolina Ferraz), uma dona de confecção que usa mão de obra escrava de imigrantes ilegais.
O primeiro problema do filme é o tom desencontrado, já que a todo o tempo parecemos ver dois filmes distintos. De um lado temos as peripécias, o escracho e o pastelão de Crô e seus funcionários tentando encontrar uma patroa, do outro lado temos as cenas na confecção com as trabalhadoras escravas que exagera a mão na tragédia e no melodrama, principalmente através de uma música pesadamente intrusiva, e parece não casar com o tom leve e despretensioso do resto filme, principalmente porque todo o segmento da confecção tem aquele tom de denuncismo barato de boa parte das produções televisivas globais que apresenta um problema de forma simplória e maniqueísta sem nunca produzir qualquer pensamento ou reflexão acerca do problema ou das variáveis que o cercam, apenas aponta e diz “isso é ruim”, como se qualquer pessoa não fosse capaz de chegar sozinha à conclusão de traficar e escravizar pessoas é uma coisa negativa.