A trama é levemente baseada na vida do músico Dave Van Ronk (1936-2002), músico importante do cenário da musica folk de Greenwich Village nos anos 60 de onde saíram artistas famosos como Bob Dylan. O filme acompanha Llewyn Davis (Oscar Isaac) e seus percalços para tentar vencer como músico. Sem dinheiro, Llewyn vive como um eremita dormindo na casa de amigos enquanto espera seu agente mandar material para o famoso empresário Bud Grossman (F. Murray Abraham), que pode fazer sua carreira deslanchar.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
Crítica – Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
Crítica – 12 Anos de Escravidão
A trama segue a história real de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um homem negro livre que, em 1841, foi sequestrado e vendido como escravo e por doze anos viveu como trabalhador escravo em diversas propriedades dos Estados Unidos. A partir daí o filme irá mostrar não apenas a jornada de Solomon, mas como a escravidão é um construto social aberrante que desumaniza e degrada tanto vítima quanto algoz, permitindo a barbárie e a violência imperem.
Afinal, mesmo um fazendeiro menos impiedoso como Ford (Benedict Cumberbatch) que tenta tratá-los com gentileza ainda os vê como uma propriedade da qual pode dispor como quiser e mesmo todos os confortos que fornece não muda o fato que ainda assim estão todos cativos ali e desprovidos de liberdade, sujeitos aos caprichos de seu senhor e aos arroubos violentos dos capatazes. A naturalização deste comportamento brutal e desumano fica terrivelmente clara no incômodo plano-sequência em que Solomon é mantido preso pelo pescoço em uma corda, debatendo-se em agonia, e todas as pessoas ao seu redor, tanto escravos quanto membros da “casa grande”, seguem com suas atividades sem se importar com o homem às portas da morte que agoniza diante deles. Crianças brincam, mulheres lavam roupa e a esposa de Ford o observa da varanda como se visse um boi a ser abatido e não um ser humano.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
Crítica – Clube de Compras Dallas
Na década de 80 ser diagnosticado com AIDS era praticamente receber uma sentença de morte iminente, pouco se sabia sobre como tratar a doença e muitos medicamentos ainda estavam em fase de testes e traziam em si uma enorme quantidade de contraindicações que poderiam até mesmo acelerar a morte do paciente. Isso sem falar em todo o preconceito que havia em torno dos portadores da doença, devido à falta de conhecimento da população sobre como ela se espalhava. Clube de Compras Dallas trata desse período, quando AIDS ainda era considerada uma doença de gays e as pessoas eram abertamente homofóbicas.
A história é centrada em Ron Woodroof (Mattew McConaughey) um eletricista que leva uma vida desregrada em consumo de álcool, drogas e praticando sexo sem proteção com diversas parceiras. Tudo isso desmorona quando, em 1985, Ron é diagnosticado com AIDS recebendo a notícia de que provavelmente estará morto em um mês. Desesperado, resolve se submeter ao tratamento experimental da droga AZT, que ainda estava sendo testado na época, mas o medicamento apenas o deixa mais debilitado. Assim, Ron segue em busca de outras formas de tratamento e encontra medicamentos aparentemente mais eficazes, mas que são ilegais nos Estados Unidos. Sem outra escolha, Ron começa a traficar os medicamentos para o país e tem a ideia de revendê-los para outras pessoas com a doença, logo o negócio se expande e ele inicia uma parceria com o travesti Rayon (Jared Leto), também soropositivo, para fundar o Clube de Compras Dallas para distribuir medicamentos a soropositivos que pagarem uma taxa mensal.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
Crítica – Ela
Relacionamentos não são uma coisa fácil, por mais que haja amor, compreensão, coisas em comum e o desejo genuíno de ficar junto, sempre serão duas pessoas diferentes, com experiências diferentes e olhares diferentes sobre o mundo. Com o tempo é inevitável que essas diferenças colidam, que as personalidades se choquem e as coisas cheguem a um ponto que não é possível mais seguir em frente. Lidar com as dores do fim de uma relação, bem como entender a nossa conflituosa relação com uma tecnologia que nos aproxima, mas ao mesmo tempo nos distancia é o cerne deste sensível Ela.
No filme, Theodore (Joaquin Phoenix) é um solitário e melancólico escritor que não consegue superar o fim de seu casamento com Catherine (Rooney Mara) e tem sua solidão preenchida pela inteligência artificial Samantha (Scarlett Johansson), que vai aos poucos se revelando ser mais do que apenas uma voz em um computador e cria profundos laços afetivos e até românticos com seu dono.
Claro, o namoro tem lá seus problemas, parte deles derivado do fato de que uma das partes é uma inteligência artificial sem corpo, mas outros são simplesmente problemas comuns que surgem em qualquer relacionamento, como distanciamento emocional ou ciúmes. Neste ponto, a direção de Spike Jonze é bem cuidadosa em não julgar os personagens, tratando a relação de forma completamente normal. Tanto que quando eles começam a trocar palavras mais, digamos, picantes, a câmera se afasta, nos deixando apenas com a tela escura enquanto ouvimos as palavras dos dois, como se fosse um momento tão íntimo que devêssemos observá-los ou para nos deixar imaginando que estão fazendo, além disso nos faz compartilhar da experiência sensorial dos dois personagens já que basicamente o que tem um do outro é a voz.
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Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
Crítica – Robocop
Quando anunciaram que seria feito um remake do Robocop (1987), do holandês Paul Verhoeven, muita gente torceu o nariz, afinal, o filme e sua crítica ácida e cínica à banalização da violência e ao totalitarismo corporativo dialogam tanto com a sociedade atual quanto à do fim dos anos 80. Claro, as duas horrendas sequências que o filme teve ajudaram a dar a impressão de que o filme do Verhoeven era algo único e que não poderia ser reproduzido, os que dizem isso estão, de certa forma, corretos, já que o diretor tinha mesmo uma visão própria que dificilmente poderia ser reproduzida por outro realizador. O brasileiro José Padilha sabe disso e inteligentemente não tenta reproduzir aqui a visão do diretor holandês, mas apresentar seu próprio olhar sobre o personagem e o que seria relevante para ele nos dias de hoje.
A trama é praticamente a mesma do original. Alex Murphy (Joel Kinnaman) é um policial honesto em uma Detroit mergulhada no crime. Quando ele e seu parceiro Lewis (Michael K. Williams) se aproximam de um perigoso traficante, Murphy leva a pior. Diferente do original, Alex não morre aqui, mas fica gravemente ferido e a perigo de se tornar um vegetal para o resto da vida. A esposa de Murphy, Clara (Abbie Cornish), é então abordada pelo Dr. Norton (Gary Oldman) e executivos da multinacional Omnicorp para realizar um complexo procedimento que poderá salvar a vida do policial, praticamente transformando-o em uma máquina. Logicamente, os interesses da corporação e seu presidente (Michael Keaton) não são apenas salvar vidas, mas criar um protótipo de policial ciborgue para atrair a simpatia da população de modo a revogar a lei que proíbe o uso robôs em solo americano, apesar das forças armadas os usarem em outros países.
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Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
Crítica – Philomena
A trama acompanha o jornalista e ex-assessor do governo britânico Martin Sixsmith (Steve Coogan) que se encontra em depressão depois de ser demitido de modo controverso (algo que o filme jamais explica). Buscando um novo trabalho, acaba encontrando por acaso a idosa Philomena Lee (Judi Dench), uma mulher que foi abandonada pelo pai em um convento ainda adolescente depois de engravidar, teve seu filho vendido para adoção pelas freiras e passou os 50 anos seguintes tentando encontrá-lo. Assim, Sixsmith decide fazer uma matéria acompanhando a aposentada em sua busca para reencontrar o filho.
Os dois formam uma dupla improvável com a personalidade positiva, ingênua e crédula de Philomena contrastando com o cinismo, o sarcasmo e a amargura de Sixsmith, que começa sua pesquisa vendo toda situação apenas como uma forma de faturar. Entretanto, conforme vai desvendando a questão do filho de Philomena, se envolve cada vez mais com a busca e se revolta com o tratamento desonesto preconceituoso e fundamentalmente pouco cristão dado a ela pelas freiras do convento em que foi abandonada.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Crítica – Operação Sombra: Jack Ryan
Depois de uma trilogia de filmes bem sucedida na década de 90 o analista de inteligência Jack Ryan passou alguns anos de molho até Hollywood resolver trazê-lo de volta em A Soma de Todos os Medos(2002), cujo resultado mediano acabou levando o personagem novamente ao ostracismo. Quase dez anos depois temos uma nova tentativa de devolvê-lo ao estrelato com este Operação Sombra: Jack Ryan.
A trama acompanha a primeira missão de Jack Ryan (Chris Pine) como analista de inteligência da CIA. Trabalhando disfarçado em uma empresa de auditoria de Wall Street o agente tem como incumbência encontrar movimentações financeiras suspeitas que possam levá-lo aos financiadores de atividades terroristas. Quando encontra fundos ocultos nas empresas do milionário Viktor Cherevin (Kenneth Branagh, que também dirige o filme), Ryan precisa ir até a Rússia para investigar uma conspiração que pode provocar o colapso da economia dos Estados Unidos ao mesmo tempo em que precisa ocultar sua profissão de sua namorada (Keira Knightley).
O filme consegue criar com competência um clima de incerteza e tensão, principalmente através das interações entre os personagens, cujos diálogos são tão calculados quanto movimentos em uma partida de xadrez, escolhendo com cuidado cada palavra para construir questionamentos, falsas informações e ameaças veladas para colocar seu antagonista em xeque. O ponto alto de tudo isso são os momentos divididos entre Ryan e Cherevin, no qual cada um tenta descobrir o que o outro sabe ao mesmo tempo em que tentam não permitir que descubram algo sobre si. Kenneth Branagh inclusive faz o vilão como um sujeito que se cobre com um manto de polidez e cultura para ocultar sua brutalidade implacável, transformando-o em um sujeito imprevisível e bastante ameaçador.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
Crítica - Uma Aventura Lego
Uma das melhores coisas da infância era poder brincar com qualquer coisa, bonecos, peças de montar, caixas de papelão, usando nossa imaginação para criar universos onde todos os personagens, ambientes e tempos se mesclavam, onde o Batman podia lutar ao lado do Gandalf e um caubói poderia andar a cavalo ao lado de um cavaleiro medieval. É justamente por abordar essa importância do lúdico, da brincadeira e da imaginação que reside o principal mérito deste Uma Aventura Lego, dirigida por Chris Miller e Phil Lord, dupla responsável pelo primeiro Tá Chovendo Hamburguer (2009) e Anjos da Lei (2012), que continuam a exibir aqui a mesma criatividade e humor auto-referencial presente em seus filmes anteriores.
A trama conta a história de Emmet (Chris Pratt) um pacato e comum boneco de Lego que acidentalmente encontra um artefato que é a última esperança de impedir que o presidente Negócios (Will Ferrell) destrua completamente todo o universo Lego. Para tanto ele terá ajuda da misteriosa Lucy (Elizabeth Banks), que consegue construir rapidamente qualquer coisa com quaisquer peças, e o enigmático mago Vitruvius (Morgan Freeman).
A trama progride de maneira bastante movimentada, alternando entre diferentes universos que vão desde uma grande cidade ao velho oeste, passando por alguns bem bizarros que nem sei como definir. O filme ainda conta com participações especiais de diversos personagens de outros filme, livros e quadrinhos (todos como bonecos Lego) como Batman, Superman, Dumbledore, Tartarugas Ninja, entre outros. Tudo isso ajuda a dar um tom despretensioso que faz o filme soar como uma enorme brincadeira infantil, quase como se o roteiro tivesse sido escrito por crianças brincando com Legos, tanto que o filme constantemente faz piada com a enorme quantidade de coincidências e acontecimentos gratuitos que acontecem ao longo da história.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
sábado, 1 de fevereiro de 2014
Crítica – Trapaça
A trama é levemente baseada no caso real do escândalo Abscam, e é centrada em Irving (Christian Bale), um pequeno comerciante que aplica golpes ao lado da amante, Sydney (Amy Adams). Quando Sydney é pega pelo agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper), ela e Irving são obrigados a ajudá-lo a montar um esquema para prender outros golpistas e políticos corruptos. O problema é que Rosalyn (Jennifer Lawrence), a intempestiva esposa de Irving, pode botar tudo a perder.
Mais do que um filme de golpe ou de roubo, Trapaça é um filme sobre construção de identidade e de imagem e como aquilo que projetamos sobre nós mesmos para outros é muito mais aquilo como queremos que os outros nos vejam do que como realmente somos. Seus personagens são pessoas que a todo o momento tentam mostrar algo que não são e vivem suas vidas ao redor da construção de mentiras.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
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