A trama acompanha os seis amigos Felipe
(Caio Blat), Lucia (Carolina Dieckmann), Silvana (Maria Ribeiro), Gus (Paulo
Vilhena), Drica (Martha Nowill), Cazé (Júlio Andrade) e Rafa (Lee Taylor),
todos com envolvidos com literatura e viajam juntos para uma afastada casa de
campo. Durante a viagem os jovens decidem escrever cartas para si próprios e as
enterram para lê-las depois de dez anos. O fim da viagem é marcado pela morte
de Rafa e o grupo só volta a se reencontrar dez anos depois, na mesma casa de
campo, para reler as tais cartas. A reunião vai aos poucos mostrando que eles
não possuem mais a calorosa amizade de outrora, mas que os dez anos de
afastamento produziram marcas profundas em cada um deles.
Como se trata de um filme que se
passa inteiramente ao redor de seis pessoas em um local isolado, toda a obra
dependeria em grande parte de seu elenco para poder funcionar e ainda bem que
os seis protagonistas estão a altura. Além de talentosos individualmente,
apresentando composições bem cuidadosas de seus personagens que muitas vezes
nos dizem muito apenas com seu tom de voz ou linguagem corporal, os atores
também funcionam bem em conjunto, retratando com naturalidade e verossimilhança
a dinâmica do grupo. O trabalho do elenco nos faz realmente crer na amizade que
existe entre essas pessoas e o consequente estranhamento e alheamento que se
instaura dez anos depois. Logicamente, o filme não é apenas uma jornada pela
tristeza desses personagens e temos também alguns momentos cheios de humor e
ternura que nos lembram que todos eles já foram mais próximos e mais felizes. A
trilha sonora é outro ponto forte, construindo bem o clima de atrito,
melancolia e desencanto que existe entre o grupo.
A fotografia também contribui
para demonstrar a mudança na relação entre eles. Inicialmente investindo em
planos fechados e enquadramentos na contraluz que conferem uma atmosfera
próxima e cálida entre os personagens, denotando a amizade deles,
posteriormente o filme passa a apresentar uma paleta de cores frias e pouco
saturadas, bem como vários planos abertos nas cenas noturnas em ambientes
repletos de sombras, demonstrando a solidão e o alheamento que experimentam
mesmo estando juntos. O filme ainda investe em várias tomadas com as imagens
dos personagens parcialmente refletidas em superfícies espelhadas, algo que
normalmente está atrelado à ideia de instabilidade ou fragmentação da
personalidade daqueles refletidos.
Temos também os planos detalhe
das folhas que caem no chão e os troncos de árvore descascando, imagens que
revelam a decadência e erosão provocada pelo tempo, da mesma forma como os
personagens também se mostram versões desgastadas e erodidas de seus “eu” do
passado. A relação imagética se completa com a abertura da caixa com as cartas,
mostrando os papéis velhos cheios de mofo, terra e vermes, como se aquelas
ideias e sentimentos ali redigidas também tivessem sido devoradas pelo tempo.
Isso ainda é reforçado pelo fato de que as únicas cartas que não foram
destruídas são aquelas que refletem sentimentos que os personagens ainda sentem.
Outro signo importante é a
repetição do besouro virado ao contrário, que resume bem a situação vivida por
todos, presos a suas próprias tristezas e problemas, incapazes de “se virarem”
(literal e metaforicamente) por conta própria dessa situação e também sem
ajudar o outro a sair de sua infelicidade, afinal como mostra a bela imagem que
encerra o filme, muitas vezes aquilo que o besouro precisa para reverter sua
situação é uma mão disposta a ajudar.
Entre Nós é um belo e inteligente drama sobre a implacabilidade da
vida e do tempo e como ela nos coloca em rumos que muitas não esperamos ou não
queremos, mas não fazemos nada para evitar e quando nos damos conta tempo
demais se passou e não há como voltar.
Nota: 8/10
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