Tenho que confessar que tenho um
fraco por esses filmes de esportes com histórias de superação, principalmente
aqueles que envolvem artes marciais, já que eu mesmo pratiquei durante muitos e
participei de competições. Por mais que sejam formulaicos, rasteiros e
previsíveis, muitas vezes é difícil que eu não consiga me relacionar com
algumas das experiências dos personagens desse tipo de filme, como falei em meu
texto sobre o ótimo Rush: No Limite da
Emoção (2013). Apesar do viés positivo e da boa vontade, no entanto, devo
dizer que este A Grande Vitória é tão
problemático e equivocado sob tantos aspectos que é realmente muito difícil
achar qualquer coisa apreciável aqui.
A trama conta a história do
atleta Max Trombini (Caio Castro), jovem de família humilde com problemas de agressividade
na infância que é colocado pela mãe no judô e através do esporte, sua vida se
transforma.
A narrativa não apresenta nada de
novo, colocando o atleta para enfrentar várias dificuldades em seu percurso
para tentar vencer no esporte, nada muito novo, o problema é que a trama jamais
consegue desenvolver as situações ou os personagens de modo a realmente nos
envolver em suas dificuldades e nos aproximarmos de seus conflitos. Claro, nos
primeiros treinos do personagem ainda criança, aprendendo a cair e fazer rolamentos,
foi difícil não me relacionar com meu próprio começo nas artes marciais, mas
isso foi o máximo de engajamento que o filme conseguiu exercer sobre mim e ele
se muito mais por uma grande aproximação afetiva prévia entre mim e o objeto do
filme do que efetivamente por qualquer construção do discurso fílmico.
Isso acontece primeiramente
porque boa parte dos conflitos é resolvido rapidamente, sem que haja tempo para
construir qualquer tipo de tensão dramática. Vemos isso na relação atribulada
entre Max e mãe (Suzana Pires) depois da morte do avô (Moacyr Franco). Em um
momento o garoto diz o quanto detesta a mãe e acha que ele a trata mal e na
cena seguinte eles já fazem as pazes e para piorar o filme ainda os coloca para
fazer isso ao juntar os cacos de vaso quebrado, utilizando o objeto como uma
metáfora rasteira e clichê para o fato de estarem juntando os pedaços da
relação danificada. A mesma coisa ocorre com a matrícula no judô, vemos que o
dinheiro usado por sua mãe para pagar a inscrição é tudo que ela tem e
esperamos que esse sacrifício tenha consequências mais para frente, que por
causa desse gasto algo falte depois, mas nada acontece, não há consequência e
se não há consequências, não há peso dramático. Isso segue o filme inteiro inclusive
no desfecho, quando ele perde a eliminatória para as Olimpíadas e na cena
seguinte ele já acha uma resolução para o problema, algo que também acontece
quando sua namorada (Sabrina Sato) anuncia a gravidez.
O filme ainda é prejudicado por
uma trilha sonora demasiadamente intrusiva que pesa a mão no melodrama,
apresentando cada cena como um momento excessivamente grandioso e dramático e
esse excesso apenas nos tira da imersão no filme e nos afasta das experiências
dos personagens. Outro problema é que muitas músicas parecem inadequadas com o
momento em que são inseridas a exemplo das melodias de samba que tocam durante
uma das lutas de Max.
Os diálogos também são
problemáticos, em geral óbvios e previsíveis, sendo bem fácil prever o que cada
personagem irá dizer a seguir. Além disso, boa parte da filosofia e doutrina
das artes marciais é reduzida à chavões tolos de autoajuda como “acredite em
seus sonhos” e “siga seu coração”. Se o texto é ruim, o elenco não ajuda, o
ator mirim que faz Max recita suas falas com pouca naturalidade e Caio Castro
parece confundir intensidade com exagero e seus maneirismos excessivos
transformam o protagonista em uma caricatura aborrecida que por vezes descamba
para o humor involuntário. Melhor sorte tem os coadjuvantes Moacyr Franco e
Tato Gabus Mendes, que conseguem injetar alguma ternura e calor humano como o
avô e mestre de Max, respectivamente, mas os esforços deles são minados por um
texto que consiste de lições de moral piegas e cheias de senso-comum que são
filmadas e ditas com uma solenidade excessiva que faz tudo soar artificial.
Vocês podem ter estranhado que
não mencionei Sabrina Sato ao falar de atuações, mas sua personagem deve
aparecer somente por uns quinze minutos no filme inteiro(na breve cena inicial
e nos últimos minutos da obra) então sua participação, para o bem ou para o
mal, não compromete o resultado. Em relação à personagem devo ressaltar o
enquadramento equivocado que o filme dá à reação do protagonista no tocante à
sua gravidez. O filme tenta nos convencer que a decisão de Max é um enorme ato
de abnegação e sacrifício pessoal quando na verdade aquilo é o mínimo que se
espera de qualquer adulto responsável que se encontre naquela situação.
Tecnicamente o filme até se
esforça para fazer algo interessante, como a transição que acompanha Max do
cemitério a um campo de futebol, mas que também peca pelo excesso em muitos
momentos como na imensa e desnecessária tempestade que toma a cena no momento
em que o protagonista tenta se aproximar do pai, usando a forte chuva como uma
muleta dramática para tentar da mais peso à situação.
No fim das contas, a única grande
vitória é ter paciência para aguentar os aproximados noventa minutos de um
filme banal, moroso, previsível e rasteiro, que falha em praticamente todos os
aspectos.
Nota: 2/10
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