terça-feira, 27 de maio de 2014

Crítica - A Grande Vitória

Tenho que confessar que tenho um fraco por esses filmes de esportes com histórias de superação, principalmente aqueles que envolvem artes marciais, já que eu mesmo pratiquei durante muitos e participei de competições. Por mais que sejam formulaicos, rasteiros e previsíveis, muitas vezes é difícil que eu não consiga me relacionar com algumas das experiências dos personagens desse tipo de filme, como falei em meu texto sobre o ótimo Rush: No Limite da Emoção (2013). Apesar do viés positivo e da boa vontade, no entanto, devo dizer que este A Grande Vitória é tão problemático e equivocado sob tantos aspectos que é realmente muito difícil achar qualquer coisa apreciável aqui.

A trama conta a história do atleta Max Trombini (Caio Castro), jovem de família humilde com problemas de agressividade na infância que é colocado pela mãe no judô e através do esporte, sua vida se transforma.

A narrativa não apresenta nada de novo, colocando o atleta para enfrentar várias dificuldades em seu percurso para tentar vencer no esporte, nada muito novo, o problema é que a trama jamais consegue desenvolver as situações ou os personagens de modo a realmente nos envolver em suas dificuldades e nos aproximarmos de seus conflitos. Claro, nos primeiros treinos do personagem ainda criança, aprendendo a cair e fazer rolamentos, foi difícil não me relacionar com meu próprio começo nas artes marciais, mas isso foi o máximo de engajamento que o filme conseguiu exercer sobre mim e ele se muito mais por uma grande aproximação afetiva prévia entre mim e o objeto do filme do que efetivamente por qualquer construção do discurso fílmico.

Isso acontece primeiramente porque boa parte dos conflitos é resolvido rapidamente, sem que haja tempo para construir qualquer tipo de tensão dramática. Vemos isso na relação atribulada entre Max e mãe (Suzana Pires) depois da morte do avô (Moacyr Franco). Em um momento o garoto diz o quanto detesta a mãe e acha que ele a trata mal e na cena seguinte eles já fazem as pazes e para piorar o filme ainda os coloca para fazer isso ao juntar os cacos de vaso quebrado, utilizando o objeto como uma metáfora rasteira e clichê para o fato de estarem juntando os pedaços da relação danificada. A mesma coisa ocorre com a matrícula no judô, vemos que o dinheiro usado por sua mãe para pagar a inscrição é tudo que ela tem e esperamos que esse sacrifício tenha consequências mais para frente, que por causa desse gasto algo falte depois, mas nada acontece, não há consequência e se não há consequências, não há peso dramático. Isso segue o filme inteiro inclusive no desfecho, quando ele perde a eliminatória para as Olimpíadas e na cena seguinte ele já acha uma resolução para o problema, algo que também acontece quando sua namorada (Sabrina Sato) anuncia a gravidez.

O filme ainda é prejudicado por uma trilha sonora demasiadamente intrusiva que pesa a mão no melodrama, apresentando cada cena como um momento excessivamente grandioso e dramático e esse excesso apenas nos tira da imersão no filme e nos afasta das experiências dos personagens. Outro problema é que muitas músicas parecem inadequadas com o momento em que são inseridas a exemplo das melodias de samba que tocam durante uma das lutas de Max.

Os diálogos também são problemáticos, em geral óbvios e previsíveis, sendo bem fácil prever o que cada personagem irá dizer a seguir. Além disso, boa parte da filosofia e doutrina das artes marciais é reduzida à chavões tolos de autoajuda como “acredite em seus sonhos” e “siga seu coração”. Se o texto é ruim, o elenco não ajuda, o ator mirim que faz Max recita suas falas com pouca naturalidade e Caio Castro parece confundir intensidade com exagero e seus maneirismos excessivos transformam o protagonista em uma caricatura aborrecida que por vezes descamba para o humor involuntário. Melhor sorte tem os coadjuvantes Moacyr Franco e Tato Gabus Mendes, que conseguem injetar alguma ternura e calor humano como o avô e mestre de Max, respectivamente, mas os esforços deles são minados por um texto que consiste de lições de moral piegas e cheias de senso-comum que são filmadas e ditas com uma solenidade excessiva que faz tudo soar artificial.

Vocês podem ter estranhado que não mencionei Sabrina Sato ao falar de atuações, mas sua personagem deve aparecer somente por uns quinze minutos no filme inteiro(na breve cena inicial e nos últimos minutos da obra) então sua participação, para o bem ou para o mal, não compromete o resultado. Em relação à personagem devo ressaltar o enquadramento equivocado que o filme dá à reação do protagonista no tocante à sua gravidez. O filme tenta nos convencer que a decisão de Max é um enorme ato de abnegação e sacrifício pessoal quando na verdade aquilo é o mínimo que se espera de qualquer adulto responsável que se encontre naquela situação.

Tecnicamente o filme até se esforça para fazer algo interessante, como a transição que acompanha Max do cemitério a um campo de futebol, mas que também peca pelo excesso em muitos momentos como na imensa e desnecessária tempestade que toma a cena no momento em que o protagonista tenta se aproximar do pai, usando a forte chuva como uma muleta dramática para tentar da mais peso à situação.

No fim das contas, a única grande vitória é ter paciência para aguentar os aproximados noventa minutos de um filme banal, moroso, previsível e rasteiro, que falha em praticamente todos os aspectos.

Nota: 2/10

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