terça-feira, 27 de maio de 2014

Crítica - Marina

Um dos parâmetros para saber se a cinebiografia de uma personalidade da música foi bem sucedida é quando você sai da sala de cinema curioso para saber mais sobre o sujeito retratado ou querendo buscar sua discografia. Esse efeito é exatamente o que acontece com este Marina, filme que trata do início da carreira do músico ítalo-belga Rocco Granata.

A trama acompanha a infância e a juventude de Rocco (Matteo Simoni) nos anos 50, quando saiu ainda criança de sua cidade na região italiana da Calábria para ir com a família morar na Bélgica depois que seu pai conseguiu um emprego em uma mina de carvão no país. O jovem tem dificuldade de se adaptar à nova situação e recorre à música como válvula de escape, começando a aprender a tocar acordeom. O que começa como um hobby, acaba tornando-se algo sério, apesar dos protestos de seu pai (Luigi Lo Cascio) de que ele deve ter um emprego de verdade ao invés de tentar viver de música. Ao mesmo tempo, tenta se aproximar da jovem Helena (Evelien Bosmas), apesar da resistência do pai da moça.

Além da tradicional jornada ao sucesso e todos os percalços do músico, o filme ainda aborda a sensação de deslocamento da família de Rocco e como os imigrantes italianos eram tratados como cidadãos de segunda classe na Bélgica pós-guerra, vistos apenas como uma mão de obra barata para as minas do país e nada mais, como fica claro na cena em que Rocco tenta conseguir uma licença de músico.

O filme se beneficia ainda pela construção cuidadosa da complicada relação de Rocco com o pai, mostrando que sua resistência à carreira musical do filho não se dá por autoritarismo ou ignorância, mas por medo que o filho tenha uma vida como a dele, que depois não conseguir sobreviver de música, se viu obrigado a aceitar o brutal trabalho nas minas para dar uma vida digna à família. A relação entre Rocco e Helena se desenvolve como uma já conhecida história de amor proibido, mas se beneficia pelos bons diálogos e o carisma dos dois atores. O problema é que em muitos momentos o filme parece pesar a mão no melodrama, demonstrando estar mais interessado em fazer o público chorar do que realmente contar sua história.

Embora não chegue a trazer nada efetivamente novo, Marina é um filme bastante competente, que desperta interesse pela figura do músico Rocco Granata ao mesmo tempo em que nos revela os conflitos da migração italiana para Bélgica após a Segunda Guerra Mundial.


Nota: 7/10

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