Na trama, Peter (Andrew Garfield)
luta para manter a promessa feita ao capitão Stacy (Dennis Leary) no filme
anterior de se manter afastado de Gwen (Emma Stone), mas o sentimento que ambos
compartilham dificulta o afastamento. Ao mesmo tempo, precisa lidar o
surgimento do poderoso Electro (Jamie Foxx) e com a volta de seu amigo de
infância Harry Osborn (Dane DeHaan), que aparentemente herdou a doença
degenerativa de seu pai, Norman Osborn (Chris Cooper).
De cara já é possível perceber
que o filme abandona o tom sombrio e sério do anterior e assume um universo
mais colorido, deixando de lado também o uniforme mais realista do primeiro e
se aproximando mais da roupa clássica do personagem. As sequências de ação
também estão muito melhores e exploram bem as potencialidades dos poderes do
herói, em especial pelo modo como explora o funcionamento do seu sentido aranha,
e também dos vilões, principalmente a larga escala destrutiva dos poderes do
Electro.
Outro mérito também é a dupla de
protagonistas. Andrew Garfield continua evocando muito bem a sensação de
inadequação de Peter Parker, bem como a persona piadista do Homem Aranha e suas
piadas e provocações são ditas com um ótimo timing
cômico, sempre funcionando. A Gwen de Emma Stone é adorável e carismática,
sendo fácil entender as razões de Peter se apaixonar por ela e os dois tem uma
dinâmica bem sincera e orgânica quando juntos.
O principal problema, no entanto,
reside na organização da narrativa, demasiadamente inchada de subtramas e
personagens que muitas vezes são desnecessárias e acabam atrapalhando o
desenvolvimento de personagens mais importantes. O vilão Electro é um dos
prejudicados pelo inchaço do filme. Estabelecido como um sujeito solitário,
maltratado e ignorado por todos, ele poderia funcionar como uma figura trágica
que ao receber poderes imensos, decide dar o troco à sociedade que o tratou tão
mal. Poderia servir também como um espelho para o próprio Peter, também um nerd
com sentimento de inadequação, mas ao contrário deste, que abraçou a
responsabilidade que seus poderes representam e tenta usá-los da melhor forma
possível, Electro escolhe usar suas habilidade para sua própria satisfação. Ao
invés disso o personagem é desenvolvido de modo exagerado e caricato, fazendo-o
soar como alguém saído do seriado tosco do Batman dos anos 60 ao invés de um
personagem interessante.
Já que falei no sacrifício
pessoal feito por Peter para ser herói, devo dizer que pela profusão de
subtramas e personagens o filme jamais nos dá a dimensão do peso que levar uma
vida dupla representa na vida de Peter. Tudo bem que temos o grande acontecimento
ao final do filme, mas, além disso, a vida pessoal do herói é sempre caótica e
constantemente sob o risco de desmoronar sob seus pés e nada disso não visto
aqui. O filme menciona que Peter está na faculdade, seus problemas com dinheiro
e com o J. Jonah Jameson, mas nunca vemos efetivamente as consequências disso,
diferente do que aconteceu no ótimo Homem
Aranha 2 (2004), no qual víamos o personagem fracassando na faculdade,
perdendo empregos e tendo dificuldade em pagar as contas por sua ocupação como
super herói.
A subtrama envolvendo os pais de
Peter Parker é outro elemento que se perde no meio do caminho. Depois de tanto
mistério criado em torno disso desde o filme anterior, sua conclusão acaba
sendo inútil para o filme, já que serve apenas para informar algo que já nos
tinha sido informado, a importância do sangue de Peter para o tratamento dos
Osborns. Assim todo o tempo gasto com os pais dele no início e com as
posteriores investigações de Peter, acaba sendo um desperdício de tempo.
O mesmo pode ser dito da inserção
do vilão Rhino (Paul Giamatti), que aparece em duas cenas, apenas como forma de
introduzi-lo para o próximo filme do Homem Aranha e um já anunciado spin-off estrelado somente pelo grupo de
vilões conhecido como o Sexteto Sinistro. Também desnecessário é todo o
segmento com os aviões desgovernados no clímax do filme, uma vez que soa apenas
como uma interrupção aborrecida dos grandes eventos que acontecem ao invés de
adicionar qualquer tensão (a provável intenção dos realizadores),
principalmente por toda tensão já existente naquele ponto do filme.
Melhor sorte acaba tendo o Harry
Osborn de Dane DeHaan, já que o ator consegue encontrar o equilíbrio entre o
lado inicialmente carismático do personagem e suas facetas mais macabras, além
disso a sua doença degenerativa fornece uma justificativa para sua rápida
derrocada para o desespero e a loucura. Uma pena, no entanto, que o personagem
e sua complexa relação com Peter sejam pouco explorados para dar lugar a uma
subtrama (sim, mais uma) envolvendo a disputa pelo controle da Oscorp entre
Harry e um executivo genérico.
O Espetacular Homem-Aranha 2 funciona como uma aventura divertida
pela sua carismática dupla de protagonistas e cenas de ação grandiosas e
dinâmicas, mas a experiência é prejudicada por um ritmo irregular e uma trama
demasiadamente inchada.
Nota: 6/10
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