terça-feira, 27 de maio de 2014

Crítica - O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro

Análise - O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro

Review- O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de ElectroO primeiro O Espetacular Homem Aranha (2012) parecia uma tentativa caça-níqueis da Sony para recomeçar a franquia depois do desastroso Homem Aranha 3 (2007) de modo a manter para si os direitos do aracnídeo nos cinemas. O filme tinha diversos problemas, desde a repetição de uma origem que ainda estava fresca em nossas cabeças, passando por uma subtrama desnecessária envolvendo os pais de Peter Parker (algo que nunca rendeu bem nos quadrinhos), além do equivocado tom mais sombrio. Claro, o Homem Aranha é um herói nascido da tragédia, mas Peter Parker está longe de ser um sujeito sorumbático e carregado por pesar como Bruce Wayne, suas histórias são aventuras mais leves e a persona do Homem Aranha é repleta de tiradas cheias de sarcasmo e ironia. Este novo filme do cabeça de teia até corrige alguns problemas do original, mas repete outros.

Na trama, Peter (Andrew Garfield) luta para manter a promessa feita ao capitão Stacy (Dennis Leary) no filme anterior de se manter afastado de Gwen (Emma Stone), mas o sentimento que ambos compartilham dificulta o afastamento. Ao mesmo tempo, precisa lidar o surgimento do poderoso Electro (Jamie Foxx) e com a volta de seu amigo de infância Harry Osborn (Dane DeHaan), que aparentemente herdou a doença degenerativa de seu pai, Norman Osborn (Chris Cooper).

De cara já é possível perceber que o filme abandona o tom sombrio e sério do anterior e assume um universo mais colorido, deixando de lado também o uniforme mais realista do primeiro e se aproximando mais da roupa clássica do personagem. As sequências de ação também estão muito melhores e exploram bem as potencialidades dos poderes do herói, em especial pelo modo como explora o funcionamento do seu sentido aranha, e também dos vilões, principalmente a larga escala destrutiva dos poderes do Electro.

Outro mérito também é a dupla de protagonistas. Andrew Garfield continua evocando muito bem a sensação de inadequação de Peter Parker, bem como a persona piadista do Homem Aranha e suas piadas e provocações são ditas com um ótimo timing cômico, sempre funcionando. A Gwen de Emma Stone é adorável e carismática, sendo fácil entender as razões de Peter se apaixonar por ela e os dois tem uma dinâmica bem sincera e orgânica quando juntos.

O principal problema, no entanto, reside na organização da narrativa, demasiadamente inchada de subtramas e personagens que muitas vezes são desnecessárias e acabam atrapalhando o desenvolvimento de personagens mais importantes. O vilão Electro é um dos prejudicados pelo inchaço do filme. Estabelecido como um sujeito solitário, maltratado e ignorado por todos, ele poderia funcionar como uma figura trágica que ao receber poderes imensos, decide dar o troco à sociedade que o tratou tão mal. Poderia servir também como um espelho para o próprio Peter, também um nerd com sentimento de inadequação, mas ao contrário deste, que abraçou a responsabilidade que seus poderes representam e tenta usá-los da melhor forma possível, Electro escolhe usar suas habilidade para sua própria satisfação. Ao invés disso o personagem é desenvolvido de modo exagerado e caricato, fazendo-o soar como alguém saído do seriado tosco do Batman dos anos 60 ao invés de um personagem interessante.

Já que falei no sacrifício pessoal feito por Peter para ser herói, devo dizer que pela profusão de subtramas e personagens o filme jamais nos dá a dimensão do peso que levar uma vida dupla representa na vida de Peter. Tudo bem que temos o grande acontecimento ao final do filme, mas, além disso, a vida pessoal do herói é sempre caótica e constantemente sob o risco de desmoronar sob seus pés e nada disso não visto aqui. O filme menciona que Peter está na faculdade, seus problemas com dinheiro e com o J. Jonah Jameson, mas nunca vemos efetivamente as consequências disso, diferente do que aconteceu no ótimo Homem Aranha 2 (2004), no qual víamos o personagem fracassando na faculdade, perdendo empregos e tendo dificuldade em pagar as contas por sua ocupação como super herói.

A subtrama envolvendo os pais de Peter Parker é outro elemento que se perde no meio do caminho. Depois de tanto mistério criado em torno disso desde o filme anterior, sua conclusão acaba sendo inútil para o filme, já que serve apenas para informar algo que já nos tinha sido informado, a importância do sangue de Peter para o tratamento dos Osborns. Assim todo o tempo gasto com os pais dele no início e com as posteriores investigações de Peter, acaba sendo um desperdício de tempo.

O mesmo pode ser dito da inserção do vilão Rhino (Paul Giamatti), que aparece em duas cenas, apenas como forma de introduzi-lo para o próximo filme do Homem Aranha e um já anunciado spin-off estrelado somente pelo grupo de vilões conhecido como o Sexteto Sinistro. Também desnecessário é todo o segmento com os aviões desgovernados no clímax do filme, uma vez que soa apenas como uma interrupção aborrecida dos grandes eventos que acontecem ao invés de adicionar qualquer tensão (a provável intenção dos realizadores), principalmente por toda tensão já existente naquele ponto do filme.

Melhor sorte acaba tendo o Harry Osborn de Dane DeHaan, já que o ator consegue encontrar o equilíbrio entre o lado inicialmente carismático do personagem e suas facetas mais macabras, além disso a sua doença degenerativa fornece uma justificativa para sua rápida derrocada para o desespero e a loucura. Uma pena, no entanto, que o personagem e sua complexa relação com Peter sejam pouco explorados para dar lugar a uma subtrama (sim, mais uma) envolvendo a disputa pelo controle da Oscorp entre Harry e um executivo genérico.

O Espetacular Homem-Aranha 2 funciona como uma aventura divertida pela sua carismática dupla de protagonistas e cenas de ação grandiosas e dinâmicas, mas a experiência é prejudicada por um ritmo irregular e uma trama demasiadamente inchada.


Nota: 6/10

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