quinta-feira, 29 de maio de 2014

Crítica - Getúlio

Análise Getúlio

Review GetúlioGetúlio Vargas é uma das mais controversas e icônicas figuras da política brasileira e é de se esperar que alguém assim acabe ganhando uma cinebiografia. Ao mesmo tempo, há o temor de que apenas duas horas de filme sejam um período muito curto para condensar alguém que projeta reações tão diversas no imaginário popular. Assim sendo, é inicialmente acertada a decisão deste Getúlio em exibir um recorte bastante breve de sua vida, situando-se em seus últimos dias, embora mesmo neste breve período, não chegue a traçar um retrato muito profundo do personagem.

A trama se inicia a partir da fracassada tentativa de assassinato ao jornalista Carlos Lacerda (Alexandre Borges), principal opositor de Vargas (Tony Ramos), que acaba vitimando um major da força aérea brasileira. A partir daí acompanhamos aqueles que seriam os últimos dias do então presidente do Brasil, enquanto as desconfianças e tensões aumentam ao seu redor, pedindo sua renúncia ou seu afastamento, levando-o enfim ao suicídio.

Embora Tony Ramos consiga compor com competência a figura de Getúlio, mostrando-o como um sujeito ambíguo. Alguém que, apesar de trabalhar em um regime democrático, ainda guarda resquícios de seu período de ditador, como fato das pessoas ao seu redor se referirem a ele como “patrão”, uma saudação claramente inspirada no fascismo, ou suas explosões de raiva em alguns momentos que se sente acuado.

Entretanto, o ator não consegue escapar da natureza excessivamente expositiva de suas falas e das situações, que parecem interessadas em apenas tentar reconstituir os fatos (sendo que alguns deles são relativamente obscuros e essa assunção deles enquanto fatos já é, em si, um problema) do que efetivamente tentar decifrar a enigmática e controversa figura Getúlio. Os diálogos, em geral, soam excessivamente expositivos, sempre contextualizando e explicando tudo que acontece e além disso ainda temos os letreiros que pipocam o tempo todo na tela com nomes de pessoas e lugares, como se estivéssemos em uma vídeo-aula de história e não uma obra biográfica cuja intenção é nos revelar um determinado indivíduo. Assim, deixamos a obra sem a sensação de que realmente mergulhamos na mente de Getúlio Vargas e adquirimos alguma nova perspectiva sobre ele, sua conduta e sua personalidade. Vemos os acontecimentos, mas não o indivíduo.

Outro problema é que o filme parece confundir a adesão ao personagem com adesão ao seu ponto de vista e assim Vargas aparece para nós como alguém vítima de perseguição e sabotagem, sendo que a situação não era exatamente essa e o filme compra acriticamente esse modo como o personagem vê tudo que ocorre ao seu redor, permitindo apenas em um único momento que duvidemos disto na cena em que sua filha (Drica Moraes) questiona a obscura venda das fazendas da família para um dos membros de sua guarda.

Tecnicamente o filme consegue ser competente em reconstruir a época retratada, valorizando o uso de locações, em especial o Palácio do Catete, embora seu uso de câmera seja quase televisivo com tantos planos fechados.

No fim das contas Getúlio é um retrato raso e monocórdio sobre um período conturbado da história brasileira que falha em nos trazer um olhar mais próximo da mítica figura de Vargas.


Nota: 5/10

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