Getúlio Vargas é uma das mais
controversas e icônicas figuras da política brasileira e é de se esperar que
alguém assim acabe ganhando uma cinebiografia. Ao mesmo tempo, há o temor de
que apenas duas horas de filme sejam um período muito curto para condensar
alguém que projeta reações tão diversas no imaginário popular. Assim sendo, é
inicialmente acertada a decisão deste Getúlio
em exibir um recorte bastante breve de sua vida, situando-se em seus últimos
dias, embora mesmo neste breve período, não chegue a traçar um retrato muito
profundo do personagem.
A trama se inicia a partir da
fracassada tentativa de assassinato ao jornalista Carlos Lacerda (Alexandre
Borges), principal opositor de Vargas (Tony Ramos), que acaba vitimando um
major da força aérea brasileira. A partir daí acompanhamos aqueles que seriam
os últimos dias do então presidente do Brasil, enquanto as desconfianças e
tensões aumentam ao seu redor, pedindo sua renúncia ou seu afastamento,
levando-o enfim ao suicídio.
Embora Tony Ramos consiga compor
com competência a figura de Getúlio, mostrando-o como um sujeito ambíguo.
Alguém que, apesar de trabalhar em um regime democrático, ainda guarda
resquícios de seu período de ditador, como fato das pessoas ao seu redor se
referirem a ele como “patrão”, uma saudação claramente inspirada no fascismo,
ou suas explosões de raiva em alguns momentos que se sente acuado.
Entretanto, o ator não consegue
escapar da natureza excessivamente expositiva de suas falas e das situações,
que parecem interessadas em apenas tentar reconstituir os fatos (sendo que alguns
deles são relativamente obscuros e essa assunção deles enquanto fatos já é, em
si, um problema) do que efetivamente tentar decifrar a enigmática e controversa
figura Getúlio. Os diálogos, em geral, soam excessivamente expositivos, sempre
contextualizando e explicando tudo que acontece e além disso ainda temos os
letreiros que pipocam o tempo todo na tela com nomes de pessoas e lugares, como
se estivéssemos em uma vídeo-aula de história e não uma obra biográfica cuja
intenção é nos revelar um determinado indivíduo. Assim, deixamos a obra sem a
sensação de que realmente mergulhamos na mente de Getúlio Vargas e adquirimos
alguma nova perspectiva sobre ele, sua conduta e sua personalidade. Vemos os
acontecimentos, mas não o indivíduo.
Outro problema é que o filme
parece confundir a adesão ao personagem com adesão ao seu ponto de vista e
assim Vargas aparece para nós como alguém vítima de perseguição e sabotagem,
sendo que a situação não era exatamente essa e o filme compra acriticamente
esse modo como o personagem vê tudo que ocorre ao seu redor, permitindo apenas
em um único momento que duvidemos disto na cena em que sua filha (Drica Moraes)
questiona a obscura venda das fazendas da família para um dos membros de sua
guarda.
Tecnicamente o filme consegue ser
competente em reconstruir a época retratada, valorizando o uso de locações, em
especial o Palácio do Catete, embora seu uso de câmera seja quase televisivo
com tantos planos fechados.
No fim das contas Getúlio é um retrato raso e monocórdio
sobre um período conturbado da história brasileira que falha em nos trazer um
olhar mais próximo da mítica figura de Vargas.
Nota: 5/10
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