quarta-feira, 25 de junho de 2014

Crítica - Jersey Boys: Em Busca da Música

Baseado no premiado musical da Broadway de mesmo nome, este Jersey Boys: Em Busca da Música traça a história do famoso grupo The Four Seasons, que se tornou famoso a partir dos anos 50 nos Estados Unidos e emplacou hits como “Big Girls Don’t Cry” (apesar do título homônimo, esta canção é diferente daquela cantada por Fergie) e “Can’t take my eyes off you”. O filme não é exatamente um musical tradicional como Os Miseráveis ou Sweeney Todd no qual tudo se desenvolve através do canto e da dança. Na verdade está mais próximo de cinebiografias musicais como Ray, no qual acompanhamos a trajetória profissional de um músico, obviamente pontuada por suas performances mais icônicas.

Na trama acompanhamos o jovem ítalo-americano Frankie (John Lloyd Young) que realiza pequenos crimes ao lado do amigo Tommy DeVito (Vincent Piazza), que também tem uma banda. Ao perceber o talento vocal de Frankie, Tommy o convida a participar do grupo musical que administra. O estrelato, no entanto, só chega com a entrada do compositor Bob Gaudio (Erich Bergen), autor dos principais sucessos do grupo. A partir daí acompanhamos as dificuldades, desentendimentos e conflitos que emergem desta busca pelo sucesso.

O filme, dirigido por Clint Eastwood, é bastante competente na sua recriação dos Estados Unidos dos anos 50 e no cotidiano das periferias ítalo-americanas do período, tanto nos cenários, quanto no figuro e no modo de falar dos personagens. É interessante notar como a fotografia parece impregnada por uma leve tonalidade de sépia como se observasse esse período sob uma perspectiva saudosa e nostálgica. Um sentimento que Eastwood certamente nutre por este período, tanto que um de seus filmes antigos é assistido por um personagem em determinado momento.

Se o filme acerta na estética, narrativamente não é possível dizer o mesmo, já que o filme parece demasiadamente preso às convenções das cinebiografias de músicos, nos trazendo as mesmas disputas de egos, vícios e brigas conjugais que sempre vemos em obras desse tipo. Não há nenhum tipo de nova abordagem ou olhar sobre essas questões e algumas cenas parecem diretamente saídas de outros filmes, como o momento em que a esposa de Frankie o acusa de trai-la durante as turnês e ele lhe diz que deixa na estrada o que acontece na estrada. Toda a cena é terrivelmente similar a uma vista em Ray quando a esposa do músico também o confronta sobre suas traições.

Felizmente, o carisma dos atores acaba tornando tudo mais crível e palatável, já que mesmo com muito do material soando derivativo, ainda assim a dinâmica entre os personagens soa bastante verdadeira, seja nos momentos em que brincam uns com os outros ou nos momentos mais sérios. As narrações em primeira pessoa que acompanham os pontos de vista dos diferentes personagens remetem aos filmes de Martin Scorsese e seu universo ítalo-americano, além de ajudar a desenvolver melhor as personalidades dos protagonistas e entender suas motivações.

Outro problema é que o filme abarca um período de tempo muito grande para suas duas horas de duração e assim temos a impressão que muita coisa acontece de modo muito corrido ou descuidado. Um exemplo disso é a subtrama envolvendo a filha de Frankie, Francine (Freya Tingley), que aparece ainda pequena e depois só retorna a cena já adolescente quando foge de casa e vai para Nova Iorque. Quando isso acontece, não temos muita ideia do que motivou tudo isso e no momento em que ela e Frankie se reencontram ele afirma que será mais presente em sua vida e a ajudará a ser cantora, sendo que até esse momento o filme não nos tinha dado nenhuma informação sobre o talento da garota. Além disso o arco dela se encerra de maneira apática e abrupta, sem nos dar tempo de nos envolvermos com ela e sentirmos o peso de sua partida.

A apatia também se estende a boa parte das performances musicais do filme. Embora a qualidade das canções e o talento vocal do elenco seja inegável, as performances são conduzidas de maneira rígida e burocrática por Eastwood, faltando em evocar o encantamento e a energia que se espera destes momentos. O único momento que realmente empolga é a apresentação de “Can´t Take My Eyes Off You” já perto do final.

Assim sendo, embora competente e carismático Jersey Boys: Em Busca da Música acaba prejudicado pela condução sisuda de Clint Eastwood.

Nota: 6/10


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