Baseado no premiado musical da
Broadway de mesmo nome, este Jersey Boys:
Em Busca da Música traça a história do famoso grupo The
Four Seasons, que se tornou famoso a partir dos anos 50 nos Estados Unidos e
emplacou hits como “Big Girls Don’t Cry”
(apesar do título homônimo, esta canção é diferente daquela cantada por Fergie)
e “Can’t take my eyes off you”. O
filme não é exatamente um musical tradicional como Os Miseráveis ou Sweeney Todd
no qual tudo se desenvolve através do canto e da dança. Na verdade está mais
próximo de cinebiografias musicais como Ray,
no qual acompanhamos a trajetória profissional de um músico, obviamente
pontuada por suas performances mais icônicas.
Na trama acompanhamos o jovem
ítalo-americano Frankie (John Lloyd Young) que realiza pequenos crimes ao lado
do amigo Tommy DeVito (Vincent Piazza), que também tem uma banda. Ao perceber o
talento vocal de Frankie, Tommy o convida a participar do grupo musical que
administra. O estrelato, no entanto, só chega com a entrada do compositor Bob
Gaudio (Erich Bergen), autor dos principais sucessos do grupo. A partir daí
acompanhamos as dificuldades, desentendimentos e conflitos que emergem desta
busca pelo sucesso.
O filme, dirigido por Clint
Eastwood, é bastante competente na sua recriação dos Estados Unidos dos anos 50
e no cotidiano das periferias ítalo-americanas do período, tanto nos cenários,
quanto no figuro e no modo de falar dos personagens. É interessante notar como
a fotografia parece impregnada por uma leve tonalidade de sépia como se
observasse esse período sob uma perspectiva saudosa e nostálgica. Um sentimento
que Eastwood certamente nutre por este período, tanto que um de seus filmes
antigos é assistido por um personagem em determinado momento.
Se o filme acerta na estética,
narrativamente não é possível dizer o mesmo, já que o filme parece
demasiadamente preso às convenções das cinebiografias de músicos, nos trazendo
as mesmas disputas de egos, vícios e brigas conjugais que sempre vemos em obras
desse tipo. Não há nenhum tipo de nova abordagem ou olhar sobre essas questões
e algumas cenas parecem diretamente saídas de outros filmes, como o momento em
que a esposa de Frankie o acusa de trai-la durante as turnês e ele lhe diz que
deixa na estrada o que acontece na estrada. Toda a cena é terrivelmente similar
a uma vista em Ray quando a esposa do
músico também o confronta sobre suas traições.
Felizmente, o carisma dos atores
acaba tornando tudo mais crível e palatável, já que mesmo com muito do material
soando derivativo, ainda assim a dinâmica entre os personagens soa bastante
verdadeira, seja nos momentos em que brincam uns com os outros ou nos momentos
mais sérios. As narrações em primeira pessoa que acompanham os pontos de vista
dos diferentes personagens remetem aos filmes de Martin Scorsese e seu universo
ítalo-americano, além de ajudar a desenvolver melhor as personalidades dos protagonistas
e entender suas motivações.
Outro problema é que o filme
abarca um período de tempo muito grande para suas duas horas de duração e assim
temos a impressão que muita coisa acontece de modo muito corrido ou descuidado.
Um exemplo disso é a subtrama envolvendo a filha de Frankie, Francine (Freya
Tingley), que aparece ainda pequena e depois só retorna a cena já adolescente
quando foge de casa e vai para Nova Iorque. Quando isso acontece, não temos
muita ideia do que motivou tudo isso e no momento em que ela e Frankie se
reencontram ele afirma que será mais presente em sua vida e a ajudará a ser
cantora, sendo que até esse momento o filme não nos tinha dado nenhuma
informação sobre o talento da garota. Além disso o arco dela se encerra de
maneira apática e abrupta, sem nos dar tempo de nos envolvermos com ela e
sentirmos o peso de sua partida.
A apatia também se estende a boa
parte das performances musicais do filme. Embora a qualidade das canções e o
talento vocal do elenco seja inegável, as performances são conduzidas de
maneira rígida e burocrática por Eastwood, faltando em evocar o encantamento e
a energia que se espera destes momentos. O único momento que realmente empolga
é a apresentação de “Can´t Take My Eyes
Off You” já perto do final.
Assim sendo, embora competente e
carismático Jersey Boys: Em Busca da
Música acaba prejudicado pela condução sisuda de Clint Eastwood.
Nota: 6/10
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