O diretor Wes Anderson é
conhecido por seu estilo peculiar de fazer filmes, seja pelos temas que trata
ou pela maneira bastante específica como filma suas obras, é inegável que seu
conjunto de trabalho possui uma identidade que lhe é própria. Essa identidade
autoral, no entanto, é uma faca de dois gumes, se por um lado traz frescor e
diferenciação a uma obra, por outro é preciso que o realizador não se acomode
em apenas repetir cansativamente os mesmos artifícios, como vem acontecido com
as obras de Tim Burton. Se alguns dos filmes de Anderson como A Vida Marinha com Steve Zissou (2004)
ou Viagem à Darjeeling (2007)
pareciam meras repetições dos cacoetes narrativos e estilísticos do diretor,
este O Grande Hotel Budapeste é
suficientemente criativo e insólito para não ser uma mera reprodução.
A trama acompanha as desventuras
de Gustav (Ralph Fiennes), o concierge de um luxuoso hotel europeu no período
entre guerras, e seu assistente Zero (Tony Revolori) que se envolvem na disputa
de herança de uma família rica e perigosa. Depois que Gustav se torna herdeiro
de uma valiosa pintura o filho da viúva,Dimitri (Adrien Brody), e seu empregado, Jopling (Willem
Dafoe), passam a persegui-los. O concierge e seu assistente precisam, então atravessar a Europa para se
manterem vivos.
O filme traz vários elementos
comuns na filmografia do diretor como seus planos simétricos e centralizados,
os movimentos laterais de câmera que passeiam pelos amplos espaços e sua
predileção por personagens esquisitos e solitários, bem como a presença de
intrigas de desentendimentos familiares. Apesar disso, o filme é dominado por
um frescor visual e narrativo que constantemente desafia nossas expectativas e
em cada cena há algo insólito ou inesperado a ser visto, como no momento em que
o personagem de Willem Dafoe inadvertidamente arremessa um gato pela janela ou
a absurda irmandade secreta de concierges de hotel.
A abordagem fantástica e
fabulesca contribui para o clima insólito do filme, afinal, apesar de
claramente aludir à ocupação nazista na Europa, a história se passa em uma
nação fictícia. Assim, a brutal SS nazista é substituída pelo ZZ, que é uma
engraçada sigla para Zig-Zag. Claro, eles ainda são brutos, mas parecem vilões
saídos de uma aventura juvenil ao invés da crueldade implacável de
representações mais realistas. Isso fica evidente no enorme e hilário tiroteio
que há no clímax do filme, no qual ninguém sai ferido. Os diálogos também
refletem essa abordagem fantasiosa e até farsesca, colocando os personagens
para reagir com ironia e sarcasmo a boa parte dos eventos cômicos da trama,
exibindo um humor autoconsciente e auto referencial acerca de sua própria
natureza absurda.
O trabalho dos atores também se
dá do mesmo modo, criando tipos exagerados e exóticos, mas sem descambar para a
pura caricatura, conseguindo mantê-los dignos de interesse. Com um elenco tão
grande e uniformemente competente em suas composições fica até difícil apontar
os méritos individuais, mas é preciso destacar o modo como Willem Dafoe se
aproveita de sua persona tipicamente
vilanesca para criar um personagem que é tão ameaçador quanto ridículo.
Destaque também para Ralph Fiennes cujo personagem alterna sua postura
impassível de cavalheiro inglês, com momentos de total descontrole, vociferando
xingamentos e ataques aqueles ao seu redor.
O Grande Hotel Budapeste é uma criativa e divertida comédia que se
beneficia de seu competente elenco e da visão estilística e narrativa do
diretor Wes Anderson, criando um universo e uma trama cheias de carisma e
identidade própria.
Nota: 8/10
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