terça-feira, 1 de julho de 2014

Crítica - O Grande Hotel Budapeste

O diretor Wes Anderson é conhecido por seu estilo peculiar de fazer filmes, seja pelos temas que trata ou pela maneira bastante específica como filma suas obras, é inegável que seu conjunto de trabalho possui uma identidade que lhe é própria. Essa identidade autoral, no entanto, é uma faca de dois gumes, se por um lado traz frescor e diferenciação a uma obra, por outro é preciso que o realizador não se acomode em apenas repetir cansativamente os mesmos artifícios, como vem acontecido com as obras de Tim Burton. Se alguns dos filmes de Anderson como A Vida Marinha com Steve Zissou (2004) ou Viagem à Darjeeling (2007) pareciam meras repetições dos cacoetes narrativos e estilísticos do diretor, este O Grande Hotel Budapeste é suficientemente criativo e insólito para não ser uma mera reprodução.
A trama acompanha as desventuras de Gustav (Ralph Fiennes), o concierge de um luxuoso hotel europeu no período entre guerras, e seu assistente Zero (Tony Revolori) que se envolvem na disputa de herança de uma família rica e perigosa. Depois que Gustav se torna herdeiro de uma valiosa pintura o filho da viúva,Dimitri (Adrien Brody), e seu empregado, Jopling (Willem Dafoe), passam a persegui-los. O concierge e seu assistente precisam, então atravessar a Europa para se manterem vivos.

O filme traz vários elementos comuns na filmografia do diretor como seus planos simétricos e centralizados, os movimentos laterais de câmera que passeiam pelos amplos espaços e sua predileção por personagens esquisitos e solitários, bem como a presença de intrigas de desentendimentos familiares. Apesar disso, o filme é dominado por um frescor visual e narrativo que constantemente desafia nossas expectativas e em cada cena há algo insólito ou inesperado a ser visto, como no momento em que o personagem de Willem Dafoe inadvertidamente arremessa um gato pela janela ou a absurda irmandade secreta de concierges de hotel.

A abordagem fantástica e fabulesca contribui para o clima insólito do filme, afinal, apesar de claramente aludir à ocupação nazista na Europa, a história se passa em uma nação fictícia. Assim, a brutal SS nazista é substituída pelo ZZ, que é uma engraçada sigla para Zig-Zag. Claro, eles ainda são brutos, mas parecem vilões saídos de uma aventura juvenil ao invés da crueldade implacável de representações mais realistas. Isso fica evidente no enorme e hilário tiroteio que há no clímax do filme, no qual ninguém sai ferido. Os diálogos também refletem essa abordagem fantasiosa e até farsesca, colocando os personagens para reagir com ironia e sarcasmo a boa parte dos eventos cômicos da trama, exibindo um humor autoconsciente e auto referencial acerca de sua própria natureza absurda.

O trabalho dos atores também se dá do mesmo modo, criando tipos exagerados e exóticos, mas sem descambar para a pura caricatura, conseguindo mantê-los dignos de interesse. Com um elenco tão grande e uniformemente competente em suas composições fica até difícil apontar os méritos individuais, mas é preciso destacar o modo como Willem Dafoe se aproveita de sua persona tipicamente vilanesca para criar um personagem que é tão ameaçador quanto ridículo. Destaque também para Ralph Fiennes cujo personagem alterna sua postura impassível de cavalheiro inglês, com momentos de total descontrole, vociferando xingamentos e ataques aqueles ao seu redor.

O Grande Hotel Budapeste é uma criativa e divertida comédia que se beneficia de seu competente elenco e da visão estilística e narrativa do diretor Wes Anderson, criando um universo e uma trama cheias de carisma e identidade própria.


Nota: 8/10

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