segunda-feira, 21 de julho de 2014

Crítica - Planeta dos Macacos: O Confronto

Recebi com certa desconfiança o lançamento de Planeta dos Macacos: A Origem (2011) parecia mais um remake caça-níqueis e desnecessário depois da desastrosa tentativa de Tim Burton em reiventar a franquia com O Planeta dos Macacos (2001). Felizmente meus temores foram equivocados e o filme era um sólido e competente recomeço para a série. Este Planeta dos Macacos: O Confronto é uma continuação direta da fita de 2011 e consegue ser ainda melhor que o anterior.

A trama se passa dez anos depois do filme de 2011 e nos apresenta uma humanidade quase extinta devido à “gripe símia”. Nesse cenário pós-apocalíptico um grupo de sobreviventes liderados por Malcolm (Jason Clarke) e Dreyfus (Gary Oldman) chega ao que restou de São Francisco (cidade em que o filme anterior se passou), na esperança de reativar uma hidroelétrica em uma floresta próxima. O problema é que a dita floresta é agora o lar de Cesar (Andy Serkis) e sua comunidade de macacos inteligentes. Inicialmente os dois lados tentam resolver tudo pacificamente, mas com o tempo emergem rancores e preconceitos que podem por tudo a perder. Preciso ressaltar, no entanto, que é possível ver tranquilamente esse filme sem o conhecimento do primeiro, embora algumas poucas referências a eventos anteriores possam se perder pelo caminho. Assim sendo, embora mantenha um senso coeso de continuidade, o filme não afasta os neófitos.

Andy Serkis volta a brilhar como símio Cesar, um líder que entende o peso da responsabilidade que tem para com seu povo e sua família, mas se vê compelido (e talvez até apiedado) em ajudar os humanos. Isso, entretanto, não o impede de assumir uma postura mais rígida e intimidadora quando a situação exige, demonstrando porque os outros símios o seguem e porque os humanos devem temê-lo. Claro, muito do personagem depende dos efeitos visuais que o constroem, mas o domínio de Serkis de sua linguagem corporal e das diferentes inflexões que dá as suas falas limitadas.

Na verdade, o filme é cuidadoso na construção de todos os seus personagens principais, tanto humanos quanto macacos. Malcolm é um líder que tem muito em comum com Cesar, que sabe os riscos e perdas que viriam de uma guerra e que tenta resolver a situação da forma mais pacífica possível. Por outro lado, personagem como Dreyfus e o símio Koba (Toby Kebbel), são marcados pelo ódio e a intolerância e automaticamente veem o outro grupo como inimigos e rivais. Entretanto, nenhum deles é tratado como vilão unidimensional, possuindo seus próprios traumas e ressentimentos que tornam compreensíveis suas ações, principalmente no caso de Koba, que acompanhamos desde o filme anterior.

Koba, aliás, tem tudo para entrar para entrar para o hall dos mais memoráveis vilões do cinema, sendo cruel, ardiloso, traiçoeiro e dissimulado de tal modo que nunca conseguimos prever com exatidão suas reais intenções e por mais de uma vez ele nos surpreende com suas demonstrações de crueldade.

Visualmente, além do cuidado e da precisão com os personagens símios (todos feitos digitalmente) que parecem verdadeiramente reais, temos também um trabalho bem feito na concepção dos cenários e ambientes, desde a cidade em ruínas tomada pela vegetação e ferrugem, passando pela vila rudimentar de Cesar. As sequências de ação também são muito bem realizadas passeando pelos espaços de maneira fluida e sempre nos dando clareza de toda a escala do conflito, bem como o peso das mortes que dele decorrem. O único problema fica por conta do uso do 3D que pouco acrescenta à experiência além de um ou outro objeto que voa na direção da tela. Há de se destacar também as composições musicais de Michael Giacchino, que pontuam bem a tensão subjacente aos eventos que acompanhamos e a intensidade dos conflitos quando tudo descamba para uma guerra aberta.

Planeta dos Macacos: O Confronto revela-se, então, muito mais do que apenas um blockbuster de verão, mas um agridoce testamento de como a natureza humana (e símia, nesse caso), tem dificuldade em lidar com o outro e com as diferenças, demonstrando que sempre haverão aqueles que preferirão o conflito à paz e que não há volta uma vez iniciado o ciclo de ódio e violência. Raramente um grande filme do verão hollywoodiano consegue ser tão competente em equilibrar sua faceta mais voltada para o espetáculo visual e de ação com uma construção dramática bem cuidada que nos revele tanto sobre nossa própria natureza.


Nota 9/10

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