quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Crítica - Amantes Eternos

Análise Amantes Eternos

Review Amantes EternosA morte é algo que desperta temor em muitas pessoas, por isso a ideia de poder escapar dela e ser capaz de viver para sempre soa tão apetecível. Mas será que ter uma eternidade nas mãos seria realmente tão bom assim? Mesmo tendo a pessoa amada conosco, o que faríamos com tanto tempo nas mãos e a certeza de que este tempo nunca se esgotaria? É exatamente sobre o tédio da eternidade que trata este Amantes Eternos, novo filme do diretor Jim Jarmusch.

A trama é centrada no casal de vampiros Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton) que se casaram há séculos e, apesar do afeto que sentem um pelo outro, moram separados há aparentemente algum tempo.  Ele mora em Detroit nos Estados Unidos e passa seus dias compondo música e ela vive em Tanger no Marrocos e é bastante devotada à leitura. Quando Adam demonstra estar deprimido e cansado de sua eternidade vazia, Eve decide ir até Detroit passar um pouco de tempo com ele e tentar entender o que aflige o amado.

Primeiramente é bom deixar claro que este não é um filme tradicional de vampiros. Embora as criaturas aqui apresentadas sigam algumas convenções básicas como a necessidade de beber sangue e a fragilidade à luz do sol, este não é um filme sobre vampiros caçando presas ou sendo perseguidos por investigadores sobrenaturais. Aqui os vampiros buscam apenas uma existência tranquila, sem serem incomodados, preferindo subornar médicos para conseguirem sangue ao invés caminharem nas ruas à noite mordendo pescoços.

Na verdade, o filme parece mais interessado em usar a figura do vampiro para tentar entender nossa relação com o tempo, com a vida e qual o verdadeiro significado da imortalidade. Assim, acompanhamos os dias, ou melhor, as noites do casal enquanto Eve tenta entender o que tanto aflige Adam, que já não parece mais estar empolgado nem mesmo com sua música e já está cansado de lidar com uma humanidade que para ele já deixou de ser interessante há séculos.

Nesse sentido o filme se apoia quase que totalmente no trabalho de Hiddleston e Swinton e na oposição de personalidade entre os dois, transmitindo com competência o quão penosa é a existência daquelas criaturas. Enquanto que Adam demonstra um enorme cansaço e impaciência com praticamente tudo ao seu redor, sem saber o que fazer com a eternidade que tem em mãos, Eve tenta confortá-lo ao conversar com ele sobre o passado e tudo que já viveram ou buscando algo que desperte novamente o interesse do amado como sua conversa sobre estrelas de diamante e o som que elas fazem.

Esse foco no tédio da existência desses personagens, embora seja uma escolha deliberada e pensada para produzir esse exato efeito e coerente com as personalidades dos protagonistas, pode fazer o filme soar demasiadamente arrastado e monocórdio para alguns, já que muito pouco acontece além das divagações dos dois vampiros. A única exceção talvez seja o breve momento em que a vampira Ava (Mia Wasikowska) se junta ao casal e perturba sua existência discreta com sua impulsividade e os obriga a sair da cidade.

É interessante também a escolha por situar a trama em Detroit, uma cidade que está em crise e decadência desde antes da recente recessão americana e apresenta um aspecto abandonado, sujo e repleto de casas e prédios em ruínas. Um clima que é reforçado pela música melancólica e quase fúnebre, como se tudo aquilo que vemos, a paisagem e os personagens, estivessem próximos da morte. A cidade acaba sendo um reflexo do próprio Adam, metaforicamente desgastado e erodido pelo tempo que tem na amada o único motivo para não encerrar própria existência.

Amantes Eternos traz um olhar interessante e diferente sobre os vampiros, pode ser considerado lento por alguns, mas ainda assim fornece um olhar curioso sobre o que verdadeiramente significa longevidade.


Nota: 8/10

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