O primeiro Anjos da Lei (2012) foi uma grata surpresa com seu humor
abestalhado e autoconsciente. Claro, o tom de comédia rasgada é diferente da
série original que se levava mais a sério, mas funcionava e permitia que o
filme se sustentasse por seus próprios méritos ao invés de viver à sombra do
material original como uma mera reprodução sem brilho da série em que se
baseia. Ainda assim, havia um certo temor por esta sequência que poderia não
ter a mesma energia e falta de noção do primeiro. Ainda bem que este não é o
caso e Anjos da Lei 2 é tão imbecil e
divertido quanto o primeiro.
A trama coloca os policiais Jenko
(Channing Tatum) e Schmidt (Jonah Hill) em mais uma operação infiltrados para
tentar prender traficantes de drogas e impedir que mais uma nova droga
sintética se espalhe, mas desta vez não será numa escola, mas em uma faculdade.
No ambiente de festas e farra da universidade, Jenko acaba tendo mais
facilidade de fazer amizades, enquanto que Schmidt é deixado de lado, colocando
a amizade dos dois em xeque mais uma vez.
Sim, é praticamente a mesma
premissa do primeiro e o filme trata isso com a mesma irreverência
autoconsciente que o filme anterior tratava o fato de ser um remake. O discurso
do chefe de polícia Hardy (Nick Offerman) deixa claro que o filme compreende
perfeitamente sua natureza enquanto propriedade corporativa que será
reproduzida até a exaustão enquanto continuar a dar dinheiro. Vemos isso também
quando Jenko e Schmidt chegam na igreja que serve de base para eles e percebem
que mudaram para o outro lado da rua, do número 21 (do título original 21 Jump Street) para uma outra igreja no
número 22 e percebem que outra igreja está sendo construída no número 23.
A dinâmica entre os dois
protagonistas continua afiada e com uma química bastante natural, mas o principal
mérito de Tatum e Hill é conseguir transformar esses dois indivíduos
incrivelmente imbecis em figuras adoráveis e carismáticas. Há uma ingenuidade
infantil nos dois, em como veem as coisas ao seu redor e no modo como tratam a
própria amizade como no modo absurdo como discutem a relação depois de um trote
na faculdade. Destaque também para o trabalho de Ice Cube como o capitão
Dickson, que com sua cara enfezada consegue fazer rir sem precisar abrir a
boca.
Os exageros do personagem
provavelmente podem ser considerados exageradamente caricatos e excessivos por
muitos, mas essa é claramente a intenção do ator e dos realizadores já que o
personagem está ali para parodiar a tradicional figura do oficial superior mau
humorado que é um clichê de filmes de ação e é bem coerente com todo o humor
autorreferencial e as brincadeiras com convenções do cinema de ação que o filme
faz.
Outra coisa interessante é como o
roteiro faz piada com certos preconceitos, mas diferente de gente como Adam
Sandler (e certos comediantes brasileiros), o texto expõe ao ridículo o
preconceito em si ao invés daquele que o sofre, um exemplo é a cena em que
Jenko questiona um mafioso por tê-lo chamado de “veado” ou quando ele
desajeitadamente se desculpa a Schmidt pelas ofensas que lhe fez na época do
colégio.
Os diretores Phil Lord e Chris
Miller continuam a exibir a mesma energia e timing
do filme anterior (e também do primeiro Tá
Chovendo Hambúrguer e Uma Aventura
Lego) e sabem criar situações bem inusitadas como a absurda luta no meio de
uma rave ou a delirante sequencia com
Jenko e Schmidt viajando em drogas. Além disso são competentes em usar
diferentes recursos para produzir efeitos cômicos, como a montagem usada quando
a dupla escala uma casa, alternando o ágil parkour
de Jenko com a lenta subida de Schmidt em uma corda.
Vemos isso também na cena em que
Schmidt acorda na cama ao lado de Maya (Amber Stevens) e os dois são mostrados
em close, falando em detalhes sobre a transa que acabaram de ter e a
subitamente o enquadramento abre, revelando a colega de quarto de Maya sentada
do outro lado do recinto, dizendo que estava ali o tempo todo que eles
transavam. Até mesmo os créditos finais são criativos e bem divertidos, ao
brincarem com as diversas possibilidades de se continuar explorando e
expandindo o universo de Anjos da Lei no cinema e em outras mídias.
Anjos da Lei 2 é uma comédia divertidíssima que abraça sem medo sua
própria estupidez com um humor ágil e abobalhado que sacaneia a imbecilidade da
própria indústria do entretenimento e os lugares-comuns dos blockbusters hollywoodianos.
Nota: 8/10
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