Primeiro preciso deixar claro que
não vi o primeiro Winter: O Golfinho,
então tudo que direi aqui é sob os olhos de um neófito neste universo que não
conhece os fatos que se desdobraram no primeiro filme.
Baseada em fatos reais, a trama é
centrada no jovem Sawyer (Nathan Gamble), que trabalha de voluntário em um
aquário em Miami cuidando de Winter, uma golfinho com problemas na espinha e
sem a nadadeira traseira que precisa de uma prótese para nadar igual aos demais
golfinhos. Quando a outra fêmea que divide o espaço com Winter morre de velhice,
Winter passa a agir de modo retraído e agressivo, o gestor do aquário, o Dr.
Clay (Harry Connick Jr), é notificado pelas autoridades que não poderá manter o
animal sozinho e caso não haja outra fêmea para conviver com Winter, ela terá
de ser transferida para outra instalação.
O filme acerta em não romantizar
demais a relação entre homem e animal, lembrando o tempo todo que golfinhos são
animais selvagens e carnívoros que, caso hajam de modo hostil, não devem ser
subestimados ou tratados de forma leviana. Também acerta na sua construção
sobre o papel e a função do aquário, que não deve ser uma espécie de parque
aquático com animais sendo explorados para diversão, mas um local de estudos
desses animais, voltado para a reabilitação e cura dos animais, devolvendo-os à
natureza assim que estiverem curados. Inclusive há uma tentativa de construir
conflito entre Clay e seus investidores, já que o veterinário quer devolver os animais
curados à natureza o mais rápido possível, mantendo só aqueles incapazes de
sobreviver sozinhos, enquanto os investidores querem também manter os animais
saudáveis e explorá-los como atrações para arrecadar mais e expandir o aquário.
O problema é que tudo isso é
conduzido com um excesso de didatismo que dá a impressão de que estamos
assistindo a algum tipo de vídeo-aula ao invés de um filme de ficção. A
presença de Morgan Freeman em cena reforça esse tom demasiadamente professoral,
já que vem se tornando praticamente um clichê hollywoodiano escalar Freeman
para um ingrato papel que consiste única e exclusivamente em explicar e
mastigar a trama e suas lições morais ao público.
Além disso, a trama se apoia
demasiadamente em coincidências ou deus
ex machina para resolver facilmente os problemas. Em uma cena Clay é
avisado que Winter precisará ser transferida e já na cena seguinte é chamado
por pescadores que acharam uma golfinho filhote encalhada e por ser muito
pequena não conseguiria sobreviver na natureza, já que sua mãe não lhe ensinou
a viver por conta própria. Assim sendo, mal o problema foi exposto e a solução
cai no colo do veterinário sem nenhum esforço e por pura coincidência, na forma
desta fêmea encalhada que preenche todos os requisitos para conviver ao lado de
Winter. A subtrama entre Clay e os investidores, por exemplo, acaba deixada de
lado e o conflito é abandonado Esse excesso de facilidades e conveniências é
ainda prejudicado por diálogos rasteiros cheios de frases feitas e sensos comuns
do tipo “quando uma porta se fecha, outra se abre”. O filme ainda desperdiça
uma breve participação da surfista Bethany Hamilton (cuja vida inspirou o filme
Soul Surfer: Coragem de Viver, de
2011), que aparece como ela mesma, mas acaba sendo irrelevante para a trama.
Assim sendo, apesar de acertar na
abordagem da ética e dos princípios que estão envolvidos no tratamento de
animais, o filme enfraquece devido ao seu excesso de didatismo e uma trama demasiadamente
previsível e formulaica.
Nota: 4/10
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