terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Crítica - Êxodo: Deuses e Reis


A história bíblica de Moisés e a fuga dos escravos hebreus do Egito já foi tema de vários filmes como Os Dez Mandamentos (1956) ou a animação O Príncipe do Egito (1998), agora o diretor Ridley Scott resolve apresentar a sua versão com este Êxodo: Deuses e Reis.

O filme começa com Moisés (Christian Bale) já adulto e um dos generais do faraó Seti (John Turturro) ao lado do irmão de criação e herdeiro do trono Ramsés (Joel Edgerton). Quando vai investigar o início de uma insurgência de escravos hebreus encontra o ancião Nun (Ben Kingsley) e descobre a verdade de sua origem. A revelação o faz ser exilado por Ramsés e em seu exílio encontra com Deus, apresentado aqui pela figura de um garoto chamado Malak (Isaac Andrews). Respondendo ao chamado divino, Moisés retorna para libertar seu povo.

Christian Bale traz aqui sua habitual competência como Moisés, apresentando-o como um homem cheio de dúvidas e incertezas que constantemente questiona sua fé e até mesmo os desígnios divinos. Seu Moisés não é um fanático religioso, tampouco um herói estóico e passivo que espera ordens divinas, mas um homem falho, que caminha entre a fé e a razão, dividido entre suas obrigações com a família e as com seu povo. Embora seu percurso seja o de uma tradicional jornada de herói, ao construí-lo como um homem complexo e cheio de contradições se torna mais fácil se relacionar com o personagem.

No entanto, quem rouba a cena é o garoto Isaac Andrews que domina cada instante em que aparece como avatar divino. Apesar do tamanho diminuto e da voz infantil o menino de onze anos exala autoridade, altivez e fúria com seu Deus irado com a escravidão de seu povo, tornando-o uma figura impositiva e intimidadora. Os diálogos entre ele e Moisés são provavelmente os melhores momentos do filme.

Uma pena, portanto, que todo o resto do elenco seja tão equivocado ou mal aproveitado. O faraó Seti de Turturro e o Vice-Rei Hegep (Ben Mendelsohn) apresentam-se como figuras excessivamente afetadas e beiram a caricatura. Os personagens de Sigourney Weaver e Aaron Paul (o Jesse de Breaking Bad) não passam de figurantes de luxo. O principal problema, no entanto, fica mesmo no Ramsés de Joel Edgerton. A questão nem é a incompatibilidade étnica (Edgerton parece tão egípcio quanto eu pareço asiático)  mas o fato de que ele jamais consegue evocar a aura de grandiloqüência,  ameaça ou crueldade que se espera do personagem, mesmo diante as coisas horríveis que o ele faz. Falha também quando o filme tenta humanizá-lo ao mostrar suas reações diante das dez pragas, mas também falha em despertar qualquer tipo de empatia. No fim das contas não conseguimos nem detestá-lo nem simpatizar com ele, apenas não nos importamos. O resultado é um vilão apático e desinteressante que jamais evoca qualquer suspense ou incerteza quanto à capacidade do protagonista de superá-lo.

Falta também ao filme a dimensão épica que se espera de uma produção deste tipo. O universo concebido por Scott parece frio, genérico e demasiadamente computadorizado apesar do uso de cenários fisícos, locações e dos amplos movimentos de câmera. As batalhas também são pouco empolgantes e não possuem nada digno de nota. O mesmo pode ser dito do clímax com a divisão do Mar Vermelho soa incrivelmente decepcionante e desprovida de urgência. A maneira mais "realista" com que ela é conduzida também parece incoerente com o restante do filme que nos mostra as pragas de modo grandioso e fantástico. As pragas aliás, são os únicos momentos em que sentimos a escala épica do filme, apresentadas como momentos de grande terror e impacto em especial a cena da morte dos primogênitos. Uma pena, portanto, que todo o resto não tenha a mesma força.

Êxodo: Deuses e Reis é um épico morno e genérico. Prejudicado por um vilão pouco convincente, salva-se apenas trabalho do protagonista e do avatar divino.


Nota: 5/10  

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