Em
geral, narrativas voltadas para o público infantil apresentam algum tipo de
construção moral ou ensinamento para preparar as crianças para a vida e
ensiná-las algo sobre os problemas e desafios que irão encontrar. Por trás de
sua fachada de super-heróis e aventura, o que esta animação Operação Big Hero fundamentalmente traz
é uma narrativa sobre luto e como é difícil lidar com a perda de alguém próximo
a nós, uma experiência que cedo ou tarde todos experimentam.
Na
trama, Hiro Hamada é um garoto prodígio que passa seu tempo desenvolvendo robôs
para lutar em competições, mas seu irmão Tadashi acha que ele poderia fazer
algo mais construtivo com sua inteligência e o estimula a entrar para a
universidade. Quando seu irmão morre em um suspeito incêndio no laboratório da
universidade, Hiro precisará descobrir o que houve e lidar com sua perda, para
isso terá ajuda do robô Baymax. Criado por seu irmão como uma espécie de robô
médico, o rechonchudo construto se devota a ajudar Hiro a superar seu trauma,
mesmo que isso implique em enfrentar a figura sinistra que está por trás de
tudo.
Como
já mencionei, o filme é mais sobre um garoto tentando lidar com a ausência do
seu irmão do que uma típica narrativa de aventura e nesse sentido o filme se
beneficia por uma construção sensível e cuidadosa do luto do personagem e o
desenvolvimento de sua relação com o robô Baymax. O robô, por sinal, é um
personagem adorável, com seu visual rechonchudo e atitude carinhosa fica claro
o genuíno afeto que se estabelece entre ele e Hiro. Isso, no entanto, não
significa que o filme seja demasiadamente lento ou parado, na verdade ele
consegue dosar muito bem o drama e a aventura.
O
filme se beneficia por evitar maniqueísmos fáceis ao dar uma motivação bastante
razoável ao antagonista (não consigo pensar nele como vilão) cujas razões para
fazer o que faz são bastante compreensíveis e se relacionam diretamente com o
tema do luto que reverbera por todo o filme. Conforme o filme avança vemos que
ele e Hiro são dois lados da mesma moeda e que o jovem poderia facilmente ter
trilhado um caminho mais sombrio não fosse Baymax ou seus amigos. Os
coadjuvantes, por sinal, possuem personalidades bem definidas, mas não tem
muito espaço para se desenvolverem para além de companheiros de batalha ou
alívios cômicos.
O
ponto fraco fica por conta de uma reviravolta no final que traz de volta uma
personagem que tínhamos certeza de sua morte, o que parece uma resolução fácil
demais e covardemente apaziguadora. Afinal, o tema central da obra é que
inevitavelmente perderemos as pessoas próximas a nós e de algum modo precisamos
aceitar a perda, superar a dor e seguir em frente e trazer alguém de volta dos
mortos vai na contramão da retórica do filme até então. Na vida real, ninguém volta
da morte, perdas são definitivas e cedo ou tarde os jovens estarão diante de
algo parecido e precisarão lidar com isso. Posso parecer demasiadamente duro,
já que se trata de um filme infantil, mas o que achariam se a mãe do Bambi ou o
pai do Simba reaparecessem vivos ao fim de Bambi
(1942) ou o O Rei Leão (1942)? Não faria o menor sentido, já que é a ausência
dessas figuras próximas que tornam os personagens quem eles são.
Visualmente
a animação é muito bem realizada, a cidade futurística de São Fransokyo
consegue ser fantástica e ao mesmo tempo crível, além de mesclar muito bem
elementos e influências da arquitetura e geografia das duas cidades que a
inspiram (se o nome não deixa claro, são Tóquio e São Francisco). As cenas de
ação são movimentadas e empolgantes, explorando bem as possibilidades criativas
dos poderes dos personagens. O uso do 3D, embora não chegue a atrapalhar, é
totalmente dispensável e não acrescenta nada à experiência.
Assim sendo, este Operação Big Hero
é uma divertida, movimentada e tocante aventura que consegue dosar muito bem a
ação e o desenvolvimento de seu protagonista.
Nota:
8/10
Obs: Há uma divertida cena após os créditos
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