Antes
de Shrek ou Once Upon a Time misturarem universos de contos de fadas, o musical
Into the Woods já fazia isso no
teatro desde o fim dos anos 80. Assim como muitas obras recentes, lançava um
olhar mais revisionista sobre esses contos. Quando a Disney anunciou que faria
sua versão do musical, temi que suas críticas à moral dos contos e à ideia do
"felizes para sempre" fosse limada pela casa do Mickey em prol de um
filme menos pessimista e mais "família". Felizmente esse não é o caso
e a mensagem central da obra se mantém, apesar de mudanças aqui e ali que
certamente darão motivos a reclamações dos mais puristas.
O
musical acompanha um padeiro (James Corder) e sua esposa (Emily Blunt) que não
conseguem ter filhos por causa de uma maldição jogada sobre a família dele. Uma
alternativa se apresenta quando a bruxa (Meryl Streep) que mora ao lado se
oferece para reverter a maldição, mas para isso precisará de quatro itens
mágicos. Assim, o casal adentra o bosque próximo à sua vila na busca pelos
itens e no caminho encontrará personagens como Cinderella (Anna Kendrick) e
Chapeuzinho Vermelho (Lilla Crawford). Entretanto, o final feliz não chega tão
fácil quanto se pensa.
As
canções são muito boas e transmitem os desejos e anseios de seus personagens.
Os atores realizam seus números com competência, com destaque para a satírica
canção do príncipe encantado (Chris Pine) cujo tom propositalmente brega se
assemelha a um videoclipe de boy band, aproveitando a seu favor a canastrice de
Chris Pine. É, no entanto, a bruxa de Meryl Streep que mais chama a atenção
dominando cada momento em que está em cena. O filme também acerta no tom mais
sombrio, aproximando-os dos contos nos quais se baseia, mostrando os métodos
extremos que as meias-irmãs da Cinderella recorrem para calçar o famoso
sapatinho, ou deixando claro o subtexto sexual entre chapeuzinho e lobo (Johnny
Depp).
O
problema do filme está no ritmo da trama. Como a última canção deixa claro, o
objetivo da obra é mesmo repensar a ideia do "felizes para sempre"
dos contos, bem como algumas lições de moral que não são adequadas aos dias de
hoje. Porém o filme demora demais para chegar nos eventos após o tradicional
fim dos contos e tudo parece apressado demais. Algumas coisas, como os
problemas no casamento do padeiro ou a falta que João (Daniel Huttlestone)
sente de suas aventuras no pé de feijão são abordados e resolvidos muito
rapidamente. Além disso, o fato do filme poupar uma personagem que morre no
musical dá a impressão de que o final feliz é realmente possível, sendo que sua
construção retórica vai num sentido diametralmente oposto.
Apesar
dos tropeços, em especial dos problemas com o ritmo da narrativa, Caminhos da Floresta
consegue acertar em sua representação mais cínica (e talvez mais pé no chão)
dos contos de fada, na qual príncipes não são tão encantadores e finais felizes
não duram para sempre.
Nota:
7/10
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