Algumas
vezes precisamos de um tempo só nosso. Precisamos nos afastar daquilo que nos
cerca e enfrentar a nós mesmos, nossas angústias, nossos demônios. Algumas
coisas ninguém pode nos ajudar a definir e precisamos resolver por conta
própria. É justamente sobre esse tipo de jornada de autoconhecimento que trata
este Livre, dirigido por Jean-Marc
Valée (Clube de Compras Dallas).
A
narrativa acompanha a história real de Cheryl (Reese Witherspoon), americana
que decidiu percorrer sozinha a Pacific Coast Trail (PCT), uma trilha que
atravessa os Estados Unidos de norte a sul. A viagem é motivada por uma série
de problemas pessoais e em sua caminhada, precisará refletir sobre seus
problemas e superar as dificuldades que a natureza selvagem lhe impõe.
Como
está sozinha durante boa parte do filme, é o trabalho de Whiterspoon que carrega
o filme, trazendo esta que é sua melhor performance desde Johnny e June (2005). Sua Cheryl é uma mulher perdida, consumida
por erros e arrependimentos do passado que impõe a caminhada a si mesma como
uma espécie de penitência e a atriz convoca muito bem o sentimento de perdição,
dor, raiva e solidão que acometem a personagem. Ao seu lado, temos uma
participação pequena, mas significativa de Laura Dern como a mãe de Cheryl, com
uma personalidade sempre otimista e expansiva, é fácil entender sua importância
na vida da protagonista e porque sua ausência é tão sentida por ela, ao ponto
de levá-la à autodestruição.
A
narrativa se desenvolve contrapondo a caminhada de Cheryl com flashbacks que mostram sua vida
pregressa com os problemas e eventos presentes levando a uma lembrança daquilo
que aconteceu, às vezes basta apenas um objeto ou canção para ativar uma
lembrança da protagonista, dando a sensação de que estamos acompanhando seu
fluxo de pensamento. No entanto, o modo como encontros que vão fazendo Cheryl
lembrar de seu passado de modo praticamente linear faz todos esses eventos
aparentemente fortuitos parecerem convenientes demais.
A
direção de Valée nos mostra uma natureza imponente que é ao mesmo tempo bela e
perigosa. Seus planos amplos revelam o quão Cheryl é pequena em relação ao
mundo a sua volta. As paisagens convocam a reflexão da personagem e também a
nossa. Em seu confronto com a natureza, coisas que normalmente tomamos por mundanas
revelam-se grandes obstáculos, como a incapacidade de fazer fogo ou a ausência
de um calçado e vemos a protagonista crescer e se tornar mais dona de si a cada
uma de suas pequenas vitórias.
Tudo
bem, filmes como Náufrago (2000) ou Na Natureza Selvagem (2007) já nos
mostraram este tipo de coisa, mas a relação do ser humano com a natureza é há
tempos explorado pela arte e é sempre fonte de fascínio e questionamentos.
Histórias assim serão sempre contadas, pois sempre nos indagamos sobre nosso
lugar no mundo e também pela atração que exerce saber que alguém conseguiu
superar a natureza bravia.
Apesar
do encerramento abrupto que fecha a história de maneira expositiva, mastigando
rapidamente o que se passou com a personagem após sua caminhada, Livre é uma interessante jornada de
autodescoberta.
Nota:
8/10
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