O
físico Stephen Hawking tem uma história de vida incrível. Não apenas pelo modo
como foi capaz de mudar a ciência o modo como pensamos o tempo e o espaço, mas
por fazer isso tudo sob o julgo de uma brutal doença degenerativa que
provavelmente teria acabado com a motivação de pessoas menos resolutas. No
entanto, este A Teoria de Tudo não é
exatamente sobre isso, mas sobre a relação do físico com a esposa, Jane,
enquanto o resto fica para segundo plano.
A
trama acompanha Hawking (Eddie Redmayne) a partir da juventude, enquanto fazia
doutorado em Cambridge e conheceu Jane (Felicity Jones). A partir daí vemos a
relação dos dois florescer enquanto o físico lida com o descobrimento e
agravamento de sua doença. A escolha pelo romance, no entanto, acaba diluindo a
força da história de Hawking, já que torna secundário aquilo que havia de mais
particular para abraçar uma tradicional história de "boy meets girl" (ou garoto encontra garota, em bom português).
Entendo que para tornar atrativo ao grande público que desconhece o físico
seria necessário adequar a história a um formato mais familiar, um "filme
de gênero".
Isso
em si não é um problema, o vindouro O Jogo da Imitação (sobre o matemático Alan Turing) também se conforma a um
formato de gênero, no seu caso o thriller
de espionagem. O problema aqui é que ao buscar se aproximar do formato do
"filme de romance" A Teoria de
Tudo nos entrega algo bastante previsível, com o casal se conhecendo, se
apaixonando e depois os muitos percalços que enfrentam em sua vida a dois.
Assim temos apenas um romance bastante formulaico que por acaso usa a vida de
Hawking como pano de fundo.
Não
apenas é previsível, como também pesa a mão no drama, claramente mais
interessado em fazer chorar do que envolver. Um exemplo disso é na cena que
Stephen e Jane jogam croquet e ela, pela primeira vez percebe a gravidade da
doença do amado. É uma cena naturalmente angustiante e melancólica, no qual a
personagem percebe a decadência física do amado e como as coisas ficarão
difíceis daí para frente e isso é potencializado pelo trabalho dos dois atores.
Entretanto, o filme não se contenta com isso e resolve inserir uma música
exageradamente triste em uma cena que por si só já bem triste, fazendo a
composição musical soar demasiadamente intrusiva, prejudicando a imersão ao
invés de contribuir com ela.
Não
é apenas a mão pesada na trilha sonora que prejudica o filme, algumas outras
escolhas parecem igualmente voltadas apenas para forçar as emoções ao público.
Uma delas ocorre próxima ao fim quando Stephen se imagina levantando da cadeira
e pegando a caneta de uma aluna. Uma cena desnecessária, já que o filme já
tinha estabelecido o quanto ele se incomoda com sua própria condição (como na
cena do jantar). Outra é o flashback em tempo reverso que soa demasiadamente
redundante e desnecessário.
Se
o filme funciona em nos engajar e nos emocionar, no entanto, é pelo soberbo
trabalho de Eddie Redmayne que vai desde o início usando sua linguagem corporal
para dar pistas sobre como a doença de Hawking começou a se manifestar sem que
ele se dê conta de que há algo errado. Seu trabalho fica ainda mais
impressionante quando chegamos aos estágios avançados da doença e ele passa a
dispor apenas de uma linguagem corporal bastante limitada para exprimir aquilo
que se passa com ele e ainda assim somos capazes de perceber cada pequena
nuance. O filme acerta também na personalidade de Hawking, em especial no seu
peculiar senso de humor, embora alguns diálogos pareçam saídos de algum livro
de auto ajuda, como a fala que encerra uma palestra já no fim do filme.
Felicity Jones também acerta em sua composição de Jane como uma esposa amorosa,
mas cheia de dúvidas e cujo o afeto vai sendo testado pelas dificuldades que a
doença do marido apresenta.
Apesar
de adotar uma estrutura demasiadamente convencional e de pesar a mão na
emotividade, A Teoria de Tudo se
sustenta pelo ótimo trabalho de seus protagonistas e pela força da trajetória
de Stephen Hawking.
Nota: 6/10
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