Este
novo filme do diretor David Croenenberg é deprimente. Digo isso não com uma
conotação negativa ou como uma crítica ao filme, mas porque o universo tecido
pelo diretor repleto de pessoas problemáticas e presas a uma existência que não
lhes traz nenhuma alegria nos faz sair do cinema com um gosto amargo na boca e
uma sensação de pesar pela constatação de que não há nenhum alento na vida
desses indivíduos. Não é um filme ruim, longe disso, mas se você não estiver
tendo um bom dia, melhor ver outra coisa.
A
história acompanha um grupo de pessoas que vivem em Los Angeles e que de algum
modo estão ou querem estar envolvidos com o show
business. No centro de tudo está Agatha (Mia Wasikowska), que vai a Los
Angeles para tentar escrever e também para reparar um erro do passado. No
processo ela se envolve com o motorista Jerome (Robert Pattinson), passa a
trabalhar como assistente da problemática atriz Havana (Julianne Moore) e tenta
se reaproximar do irmão, o astro mirim Benjie (Evan Bird).
Los
Angeles é mostrada para nós como uma cidade na qual todos estão perto e
simultaneamente longe da fama e do estrelato. A fama e o sucesso estão ali,
diante dos olhos e alcance de todos, as celebridades, os produtores, todos
citam o tempo todo encontro com essas pessoas, no entanto a maioria deles não
consegue realmente penetrar nesse meio como Jerome ou Agatha ou então precisam
bajular figurões e até usar sexo como moeda de troca como faz Havana. Fazem
tudo para ter um pequeno quinhão desta fama e sucesso que desfilam diante de
seus olhos dia após dia, mas nesta corrida desenfreada acabam perdendo um pouco
de si mesmos pelo caminho a cada escolha que fazem até se perderem por
completo.
David
Croenenberg vai aos poucos desnudando a aura de mistério ao redor das vidas das
celebridades e vai nos mostrando que por trás da fachada de sucesso e
normalidade há um conjunto de relações extremamente problemáticas envolvendo
essas pessoas e quanto mais elas se esforçam para manter as aparências mais
mergulham em suas inseguranças, traumas, distúrbios e vícios. O diretor, como
de costume, não economiza na violência e não tem piedade de despachar seus
personagens de maneira bastante cruel quando as coisas começam a dar errado.
Nesse
sentido, Mia Wasikowska trabalha bem a fragilidade de Agatha que chega à cidade
querendo reconstruir sua vida, mas vai ser atingida por todos os lados até o
momento em que toda essa pressão a faz desmoronar. Julianne Moore também
entrega uma boa performance como uma atriz com uma relação extremamente
complicada com a falecida mãe, já que ao mesmo tempo que deseja seu sucesso,
tem também um grande trauma e ressentimento pelos abusos aos quais ela lhe
submeteu.
O
problema é que é muito difícil se conectar com esses personagens já que a
maioria deles não possui nada para contrabalançar suas falhas. Exceto por
Agatha nenhum deles tem realmente nada que os redima ou nos faça nos importar
com eles, assim sendo, quando suas vidas começam a ruir, isso não significa
muito para nós, não é difícil pesar ou catarse na perdição dessas pessoas. Esse problema se agrava especialmente com o médico/guru de
auto-ajuda interpretado por John Cusack que além de não ser capaz de produzir
empatia ainda é construído em uma composição abarrotada de excessos que o
tornam uma mera caricatura. Se ideia era realmente ter um personagem mastigando
o cenário, melhor seria chamar o Nicolas Cage para o papel, já que ele é um dos
poucos que consegue se sair bem mesmo devorando tudo à sua volta, vide Vício Frenético (2009). Assim sendo,
embora muitas coisas nos choquem por sua natureza gráfica, esses momentos
acabam carecendo de engajamento e terminam por ser menos impactantes do que
realmente deveriam ser.
Outra
questão é o tom inconsistente, já que por vezes o filme se entrega a alguns
momentos cômicos que parecem deslocados como a cena de Havana no banheiro na
qual há uma conversa cheia de flatulência. Em outros momentos há um claro humor
negro e cinismo, como na cena entre Benjie e os executivos de estúdio, e este
realmente funciona, mas ao mesmo tempo também não se conecta direito com o a
profunda amargura que pontua os arcos de seus personagens. Do mesmo modo,
parece indeciso em seu foco e parece não se decidir entre uma pesada crítica à
Hollywood ou entre o estudo da problemática Agatha e suas relações familiares
disfuncionais tendo o ambiente do show
business apenas como pano de fundo. Por vezes ficamos com a sensação de que
temos dois filmes diferentes misturados em uma coisa só.
Apesar
de um tom e abordagem cheias de inconsistências, este Mapas Para as Estrelas é competente em nos apresentar um retrato
amargo e impiedoso dos bastidores da vida de celebridade.
Nota:
7/10
Nenhum comentário:
Postar um comentário