quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Crítica - Mapas Para as Estrelas


Este novo filme do diretor David Croenenberg é deprimente. Digo isso não com uma conotação negativa ou como uma crítica ao filme, mas porque o universo tecido pelo diretor repleto de pessoas problemáticas e presas a uma existência que não lhes traz nenhuma alegria nos faz sair do cinema com um gosto amargo na boca e uma sensação de pesar pela constatação de que não há nenhum alento na vida desses indivíduos. Não é um filme ruim, longe disso, mas se você não estiver tendo um bom dia, melhor ver outra coisa.

A história acompanha um grupo de pessoas que vivem em Los Angeles e que de algum modo estão ou querem estar envolvidos com o show business. No centro de tudo está Agatha (Mia Wasikowska), que vai a Los Angeles para tentar escrever e também para reparar um erro do passado. No processo ela se envolve com o motorista Jerome (Robert Pattinson), passa a trabalhar como assistente da problemática atriz Havana (Julianne Moore) e tenta se reaproximar do irmão, o astro mirim Benjie (Evan Bird).

Los Angeles é mostrada para nós como uma cidade na qual todos estão perto e simultaneamente longe da fama e do estrelato. A fama e o sucesso estão ali, diante dos olhos e alcance de todos, as celebridades, os produtores, todos citam o tempo todo encontro com essas pessoas, no entanto a maioria deles não consegue realmente penetrar nesse meio como Jerome ou Agatha ou então precisam bajular figurões e até usar sexo como moeda de troca como faz Havana. Fazem tudo para ter um pequeno quinhão desta fama e sucesso que desfilam diante de seus olhos dia após dia, mas nesta corrida desenfreada acabam perdendo um pouco de si mesmos pelo caminho a cada escolha que fazem até se perderem por completo.

David Croenenberg vai aos poucos desnudando a aura de mistério ao redor das vidas das celebridades e vai nos mostrando que por trás da fachada de sucesso e normalidade há um conjunto de relações extremamente problemáticas envolvendo essas pessoas e quanto mais elas se esforçam para manter as aparências mais mergulham em suas inseguranças, traumas, distúrbios e vícios. O diretor, como de costume, não economiza na violência e não tem piedade de despachar seus personagens de maneira bastante cruel quando as coisas começam a dar errado.

Nesse sentido, Mia Wasikowska trabalha bem a fragilidade de Agatha que chega à cidade querendo reconstruir sua vida, mas vai ser atingida por todos os lados até o momento em que toda essa pressão a faz desmoronar. Julianne Moore também entrega uma boa performance como uma atriz com uma relação extremamente complicada com a falecida mãe, já que ao mesmo tempo que deseja seu sucesso, tem também um grande trauma e ressentimento pelos abusos aos quais ela lhe submeteu.

O problema é que é muito difícil se conectar com esses personagens já que a maioria deles não possui nada para contrabalançar suas falhas. Exceto por Agatha nenhum deles tem realmente nada que os redima ou nos faça nos importar com eles, assim sendo, quando suas vidas começam a ruir, isso não significa muito para nós, não é difícil pesar ou catarse na perdição dessas pessoas. Esse problema se agrava especialmente com o médico/guru de auto-ajuda interpretado por John Cusack que além de não ser capaz de produzir empatia ainda é construído em uma composição abarrotada de excessos que o tornam uma mera caricatura. Se ideia era realmente ter um personagem mastigando o cenário, melhor seria chamar o Nicolas Cage para o papel, já que ele é um dos poucos que consegue se sair bem mesmo devorando tudo à sua volta, vide Vício Frenético (2009). Assim sendo, embora muitas coisas nos choquem por sua natureza gráfica, esses momentos acabam carecendo de engajamento e terminam por ser menos impactantes do que realmente deveriam ser.

Outra questão é o tom inconsistente, já que por vezes o filme se entrega a alguns momentos cômicos que parecem deslocados como a cena de Havana no banheiro na qual há uma conversa cheia de flatulência. Em outros momentos há um claro humor negro e cinismo, como na cena entre Benjie e os executivos de estúdio, e este realmente funciona, mas ao mesmo tempo também não se conecta direito com o a profunda amargura que pontua os arcos de seus personagens. Do mesmo modo, parece indeciso em seu foco e parece não se decidir entre uma pesada crítica à Hollywood ou entre o estudo da problemática Agatha e suas relações familiares disfuncionais tendo o ambiente do show business apenas como pano de fundo. Por vezes ficamos com a sensação de que temos dois filmes diferentes misturados em uma coisa só.

Apesar de um tom e abordagem cheias de inconsistências, este Mapas Para as Estrelas é competente em nos apresentar um retrato amargo e impiedoso dos bastidores da vida de celebridade.


Nota: 7/10 

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