quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Crítica - Um Santo Vizinho


Eu vejo praticamente qualquer coisa com Bill Murray, mesmo projetos que serão claramente desastrosos e universalmente execrados como os dois Garfield no qual ele dublou o gato titular (que sim, são bem ruins). Ainda assim, sempre espero algo bom de um novo trabalho do ator, sendo, portanto, lamentável que este Um Santo Vizinho tenha muito pouco a oferecer além do carisma do seu protagonista.

A trama é centrada em Vincent (Bill Murray), um sujeito solitário, mal humorado e praticamente falido. Sua vida muda com a chegada de sua nova vizinha Maggie (Melissa McCarthy) e seu filho Oliver (Jaden Liebherer). Como Maggie trabalha longos turnos, não tem muita escolha senão deixar o filho com o vizinho e a partir da relação dos dois vamos descobrindo que Vincent é muito mais que um velho turrão.

Murray traz a Vincent a sua típica persona cinematográfica do canalha de bom coração que vem fazendo durante boa parte de sua carreira desde filmes como Os Caça-Fantasmas (1984) ou Feitiço do Tempo (1993). Claro, ele continua tendo uma presença forte em cena e sua combinação de carisma e cinismo não deixa de ser encantadora, mas, mesmo com o cuidado em retratar o estado do personagem após um AVC, não consegue afastar a sensação de que já vimos tudo isso um monte de outras vezes. Por sua vez, Melissa McCarthy sai um pouco de seu lugar comum do humor histérico para tratar de uma personagem mais contida e se sai muito bem em traduzir a compaixão e vulnerabilidade de Maggie. Menos sorte, no entanto, tem Naomi Watts como a prostituta russa Daka que acaba soando mais caricata do que deveria.

O problema principal é como o filme adere demasiadamente às convenções deste tipo de história. Desde os primeiros minutos sabemos estar diante de um feel good movie  no qual Vincent e Oliver formarão um laço que os tornará melhores, com Vincent ensinando Oliver a lidar com suas dificuldades enquanto o garoto quebra a sua rabugice e ambos aprendem valiosas lições de vida. Tudo excessivamente lugar-comum e previsível, mesmo com Murray e o estreante Jaden Liebherer serem tão bons em convencer da dinâmica e do timing cômico entre os dois. Além disso peca por pesar a mão em seus esforços em emocionar o público, usando a música e montagem como muletas dramáticas para nos fazer chorar ao invés de tentar acrescentar algo ao que estamos vendo. Isso ocorre principalmente nos momentos finais quando Oliver faz sua apresentação na escola para falar sobre Vincent.

O roteiro também tem problemas, apresentando diversas pontas soltas que são deixadas de lado e esquecidas pelo filme. Um exemplo disso são os cobradores da máfia que desaparecem depois do AVC de Vincent sem absolutamente nenhuma razão e é difícil crer que um bando de criminosos desistiria de reaver seu dinheiro simplesmente porque o alvo teve um problema de saúde. O mesmo acontece com o fato de Vincent retirar completamente o dinheiro da poupança que criara para Oliver sem lhe avisar ou lhe pedir. Por mais que Vincent tivesse boas intenções com o dinheiro, ainda assim tomar a soma que deixou para o garoto sem lhe pedir ou avisar certamente afetaria o modo como Oliver vê seu "santo" e, ainda assim, esse potencial elemento de conflito é varrido para debaixo do tapete e nunca repercute na história.

Por mais que Bill Murray e Melissa McCarthy se esforcem, eles não conseguem salvar este Um Santo Vizinho de seu excesso de clichês e problemas de roteiro.

Nota: 5/10

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