Um
filme que tem Jeff Bridges como um cavaleiro alcoólatra e Julianne Moore como
uma bruxa que vira dragão deveria ser ao menos divertido, certo? Infelizmente
nem os dois carismáticos e veteranos atores conseguem salvar este O Sétimo Filho de ser um moroso festival
de clichês.
O
filme nos coloca para acompanhar o jovem fazendeiro Tom (Ben Barnes), o sétimo
filho de um sétimo filho, que é recrutado pelo caça-feitiços Gregory (Jeff
Bridges), o último remanescente de uma ordem devotada a combater o mal.
Aparentemente os sétimos filhos tem capacidades acima das de um homem comum,
embora o filme nunca explique isso, mas, vamos fingir que isso faz algum
sentido, já que nem chega a ser um problema. Juntos eles precisam combater
Malkin (Julianne Moore) uma poderosa bruxa que escapou de seu confinamento e
está juntando as mais poderosas criaturas sobrenaturais para dominar o mundo
durante a duração de um fenômeno que deixa a lua vermelha e amplia seus poderes
sombrios.
A
narrativa em si já é problemática já que tudo parece se desenvolver apenas por
conveniência do roteiro sem qualquer lógica ou coesão internas. Afinal, se
Malkin tinha tantos seguidores poderosos como o filme mostra e Gregory era o
único capaz de enfrentar esses seres, porque eles não se juntaram para eliminar
o cavaleiro e libertar a rainha? Claro que ele é um combatente poderoso e
certamente derrotaria um ou dois deles, mas em compensação eles teriam a rainha
de volta e livrariam o mundo da última pessoa capaz de se opor a eles. Do mesmo
modo, o plano da vilã também não faz muito sentido. Se a lua vermelha aumenta
seus poderes parece pouco inteligente esperar o último dia para lançar um
ataque contra as cidades humanas, melhor seria aproveitar o tempo ao máximo.
Sim, ela ataca uma cidade, mas não o faz por ser parte de seu plano genérico de
dominar o mundo e sim para vingar um assecla morto, no resto do tempo ela e
seus aliados ficam relaxando de boa em seu covil.
Eu
poderia continuar a falar sobre as muitas lacunas na trama, mas o importante é
destacar que o universo representado aqui parece incomodamente frouxo e
preguiçosamente concebido, como se feito às pressas apenas para acomodar a
história e tentar emplacar mais uma franquia de fantasia infanto-juvenil
enquanto isso ainda dá dinheiro. Assim como falei em meu texto sobre Divergente (2014) sentimos que tudo é
feito apenas para proporcionar a jornada que vemos aos seus personagens e não
como um universo maior e mais orgânico que existe à despeito deles.
A
música também incomoda, pesando a mão na sensação de grandiosidade e soando
mais excessiva e intrusiva do que como um elemento que eleva a ação. Isso é
percebido já nos primeiros instantes de projeção quando a trilha começa épica e
estourada em nossos ouvidos sem que nada tenha acontecido ou que algum contexto
narrativo nos tenha sido oferecido. Ou seja, estamos ainda "frios"
enquanto espectadores, nem mergulhamos ainda neste universo e tampouco sabemos
nada a seu respeito, mas a música já quer, de antemão, nos dar a certeza de
veremos algo incrível e grandioso.
Tudo
isso seria mais tolerável se a obra pelo menos nos oferecesse boas cenas de
ação ou personagens carismáticos, mas isso também não acontece. As cenas de
ação são burocráticas, sem empolgação ou urgência, além disso os vilões são
despachados tão rapidamente que sequer sentimos que os personagens estão
verdadeiramente em perigo. A ação ainda é prejudicada por uma computação
gráfica artificial e um design pouco
inspirado das criaturas e monstros, falhando em nos convencer e nos envolver
com elas.
Já
os personagens são uma coleção de lugares-comuns genéricos, resultando em
sujeitos vazios que oferecem muito pouco com o qual nos importar. Jeff Bridges
e Julianne Moore tentam injetar intensidade e carisma a seus personagens, mas
são limitados por um texto pobre que os reduz ao "soldado com trauma do
passado" e "vilã com plano de destruição global indefinido".
Moore é ainda prejudicada por um figurino exagerado e tosco que mais parece
feito a partir de ideias rejeitadas de vilão para a série Power Rangers, deixando sua bruxa mais como uma caricatura risível
do que como uma ameaça crível.
O
pior, no entanto, fica por conta do protagonista Tom, um herói genérico e
desprovido de personalidade ou carisma que jamais tem iniciativa sobre coisa
alguma. É sempre a trama que vai de encontro a ele e nunca o contrário, ele não
resolve praticamente nada, não descobre nada e tudo lhe vem de mão beijada via
terceiros ou pura sorte, até mesmo a vilã principal já chega a ele "pré-derrotada"
de modo bastante anticlimático apenas para que ele dê o golpe final. Seu
romance com a bruxa Alice (Alicia Vikander) é completamente gratuito, acontece
porque tem de acontecer, mas nunca temos uma construção desse relacionamento,
eles se apaixonam e pronto. Nesse sentido o filme chega a literalmente mostrar
uma faísca surgindo entre eles, na muleta narrativa mais descarada, óbvia e
preguiçosa que vi no cinema recente, tentando fornecer uma motivação que não
passa de um mero deus ex machina. Eu
nem culpo o ator Ben Barnes por este protagonista tão insosso já que tudo que o
envolve é tão mal concebido que é quase impossível para qualquer ator fazer
algo interessante com um material tão ruim.
Assim
sendo, O Sétimo Filho é uma aventura
desastrosa que desperdiça um bom elenco em uma trama frouxa, com personagens
desinteressantes, cenas de ação que não empolgam e efeitos especiais pouco
convincentes.
Nota:
2/10
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