quarta-feira, 11 de março de 2015

Crítica - O Sétimo Filho

Análise Crítica - O Sétimo Filho

Review - O Sétimo Filho
Um filme que tem Jeff Bridges como um cavaleiro alcoólatra e Julianne Moore como uma bruxa que vira dragão deveria ser ao menos divertido, certo? Infelizmente nem os dois carismáticos e veteranos atores conseguem salvar este O Sétimo Filho de ser um moroso festival de clichês.

O filme nos coloca para acompanhar o jovem fazendeiro Tom (Ben Barnes), o sétimo filho de um sétimo filho, que é recrutado pelo caça-feitiços Gregory (Jeff Bridges), o último remanescente de uma ordem devotada a combater o mal. Aparentemente os sétimos filhos tem capacidades acima das de um homem comum, embora o filme nunca explique isso, mas, vamos fingir que isso faz algum sentido, já que nem chega a ser um problema. Juntos eles precisam combater Malkin (Julianne Moore) uma poderosa bruxa que escapou de seu confinamento e está juntando as mais poderosas criaturas sobrenaturais para dominar o mundo durante a duração de um fenômeno que deixa a lua vermelha e amplia seus poderes sombrios.

A narrativa em si já é problemática já que tudo parece se desenvolver apenas por conveniência do roteiro sem qualquer lógica ou coesão internas. Afinal, se Malkin tinha tantos seguidores poderosos como o filme mostra e Gregory era o único capaz de enfrentar esses seres, porque eles não se juntaram para eliminar o cavaleiro e libertar a rainha? Claro que ele é um combatente poderoso e certamente derrotaria um ou dois deles, mas em compensação eles teriam a rainha de volta e livrariam o mundo da última pessoa capaz de se opor a eles. Do mesmo modo, o plano da vilã também não faz muito sentido. Se a lua vermelha aumenta seus poderes parece pouco inteligente esperar o último dia para lançar um ataque contra as cidades humanas, melhor seria aproveitar o tempo ao máximo. Sim, ela ataca uma cidade, mas não o faz por ser parte de seu plano genérico de dominar o mundo e sim para vingar um assecla morto, no resto do tempo ela e seus aliados ficam relaxando de boa em seu covil.

Eu poderia continuar a falar sobre as muitas lacunas na trama, mas o importante é destacar que o universo representado aqui parece incomodamente frouxo e preguiçosamente concebido, como se feito às pressas apenas para acomodar a história e tentar emplacar mais uma franquia de fantasia infanto-juvenil enquanto isso ainda dá dinheiro. Assim como falei em meu texto sobre Divergente (2014) sentimos que tudo é feito apenas para proporcionar a jornada que vemos aos seus personagens e não como um universo maior e mais orgânico que existe à despeito deles.

A música também incomoda, pesando a mão na sensação de grandiosidade e soando mais excessiva e intrusiva do que como um elemento que eleva a ação. Isso é percebido já nos primeiros instantes de projeção quando a trilha começa épica e estourada em nossos ouvidos sem que nada tenha acontecido ou que algum contexto narrativo nos tenha sido oferecido. Ou seja, estamos ainda "frios" enquanto espectadores, nem mergulhamos ainda neste universo e tampouco sabemos nada a seu respeito, mas a música já quer, de antemão, nos dar a certeza de veremos algo incrível e grandioso.

Tudo isso seria mais tolerável se a obra pelo menos nos oferecesse boas cenas de ação ou personagens carismáticos, mas isso também não acontece. As cenas de ação são burocráticas, sem empolgação ou urgência, além disso os vilões são despachados tão rapidamente que sequer sentimos que os personagens estão verdadeiramente em perigo. A ação ainda é prejudicada por uma computação gráfica artificial e um design pouco inspirado das criaturas e monstros, falhando em nos convencer e nos envolver com elas.

Já os personagens são uma coleção de lugares-comuns genéricos, resultando em sujeitos vazios que oferecem muito pouco com o qual nos importar. Jeff Bridges e Julianne Moore tentam injetar intensidade e carisma a seus personagens, mas são limitados por um texto pobre que os reduz ao "soldado com trauma do passado" e "vilã com plano de destruição global indefinido". Moore é ainda prejudicada por um figurino exagerado e tosco que mais parece feito a partir de ideias rejeitadas de vilão para a série Power Rangers, deixando sua bruxa mais como uma caricatura risível do que como uma ameaça crível.

O pior, no entanto, fica por conta do protagonista Tom, um herói genérico e desprovido de personalidade ou carisma que jamais tem iniciativa sobre coisa alguma. É sempre a trama que vai de encontro a ele e nunca o contrário, ele não resolve praticamente nada, não descobre nada e tudo lhe vem de mão beijada via terceiros ou pura sorte, até mesmo a vilã principal já chega a ele "pré-derrotada" de modo bastante anticlimático apenas para que ele dê o golpe final. Seu romance com a bruxa Alice (Alicia Vikander) é completamente gratuito, acontece porque tem de acontecer, mas nunca temos uma construção desse relacionamento, eles se apaixonam e pronto. Nesse sentido o filme chega a literalmente mostrar uma faísca surgindo entre eles, na muleta narrativa mais descarada, óbvia e preguiçosa que vi no cinema recente, tentando fornecer uma motivação que não passa de um mero deus ex machina. Eu nem culpo o ator Ben Barnes por este protagonista tão insosso já que tudo que o envolve é tão mal concebido que é quase impossível para qualquer ator fazer algo interessante com um material tão ruim.

Assim sendo, O Sétimo Filho é uma aventura desastrosa que desperdiça um bom elenco em uma trama frouxa, com personagens desinteressantes, cenas de ação que não empolgam e efeitos especiais pouco convincentes.


Nota: 2/10

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