Manter
um relacionamento não é uma tarefa simples, requer diálogo, atenção e paciência
constantes e se já é difícil fazer tudo isso estando próximo um do outro, tudo
pode se complicar quando se está a cidades de distância e é exatamente esse
tipo de complicação que veremos neste Ponte
Aérea.
A
trama acompanha o casal Amanda (Letícia Colin) e Bruno (Caio Blat) que se
conhecem por acaso quando um voo atrasa. O problema é que vivem em cidades
diferentes, ele no Rio de Janeiro e ela em São Paulo e a distância, bem como
suas personalidades opostas parecem dificultar a consolidação do
relacionamento.
O
filme brinca com a velha rivalidade entre Rio e São Paulo, mas não vai muito
além de estereótipos regionais, ele é um carioca relaxado e sem grandes
ambições que vai levando a vida sem grandes preocupações, ela é uma paulista
agitada e constantemente estressada, além de obcecada pelo sucesso
profissional. No entanto, ao invés de estimular a rivalidade, o filme tenta
conciliar as coisas demonstrando como cada cidade tem seu charme. A fotografia
ajuda a estabelecer as oposições entre as duas cidades, enquanto o Rio é uma
cidade mais colorida, repleta de espaços abertos e paisagens naturais, São
Paulo apresenta uma paisagem urbana tomada por prédios altos, marcada pelas
superfícies de concreto e vidro e uma paleta de cores mais frias e menos
saturadas, mas que ainda assim consegue achar alguma beleza nessa selva de
pedra, sem fazê-la soar opressiva.
O
problema é que essa abordagem das belezas e virtudes de cada cidade muitas
vezes ocorre de maneira forçada deslocada do restante da obra, fazendo esses
momentos parecerem saídos de algum vídeo institucional para estimular o
turismo. Tudo bem, alguns desses momentos são genuinamente divertidos, como o
diálogo sobre pizza de calabresa, mas em geral não consegue afastar a sensação
que estamos diante de um panfleto turístico.
O
excesso de publicidade no filme, aliás, se estende para além disso, em um
momento acompanhamos um dos protagonistas pela rua e de repente a câmera deixa
de acompanhá-lo para mostrar a fachada de uma das empresas que ajudou a
financiar o longa. Eu entendo que product
placement faz parte da indústria cinematográfica, mas o modo como isso
acontece aqui interrompendo o fluxo da narrativa simplesmente quebra a imersão,
aborrece e me deixa com má vontade em relação à marca exposta, um efeito
diametralmente oposto ao que certamente pretendiam os envolvidos.
Apesar
destes problemas, o filme funciona pelo cuidado que o roteiro tem em
desenvolver a relação do casal, aprofundando suas personalidades e conflitos,
evitando torná-los meras reproduções de estereótipos regionais. Além disso,
consegue equilibrar muito bem a comédia e o drama sem jamais pesar a mão em
nenhum deles e tudo parece se desenvolver naturalmente através das interações
entre seus personagens.
A
obra acerta também em evitar transformar algum personagem em vilão, deixando
que os conflitos surjam naturalmente entre o casal a partir de suas próprias
falhas, traumas, inseguranças e disparidades de personalidade. O foco é mesmo
na tentativa desse casal em encontrar o equilíbrio entre o modo de vida de cada
um deles, algo que já é bastante complicado e dramático por si e tentar colocar
obstáculos demais arriscaria em descambar no exagero. Ao invés disso prefere
construir uma dinâmica bastante sincera e natural, na qual os problemas vão
surgindo a partir da convivência e eles precisam aprender a lidar com os
sentimentos um do outro. Nesse sentido, o trabalho de Caio Blat e Letícia Colin
é o que carrega o filme, já que a dupla consegue nos convencer bem do
sentimento que nutrem um pelo outro, bem como o quanto lhes dói ficar longe um
do outro. A atração mútua que há entre eles que também é evidenciada nas cenas
de sexo entre o casal. Não é nada muito explícito, mas estabelece muito bem a
química dos dois.
Ponte Aérea é um romance bem tradicional, mas funciona e engaja
graças ao roteiro bem cuidado e a um ótimo trabalho de seus dois atores que
tratam com cuidado e competência as dificuldades de construir um
relacionamento.
Nota:
6/10
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