quarta-feira, 25 de março de 2015

Crítica - Ponte Aérea


Manter um relacionamento não é uma tarefa simples, requer diálogo, atenção e paciência constantes e se já é difícil fazer tudo isso estando próximo um do outro, tudo pode se complicar quando se está a cidades de distância e é exatamente esse tipo de complicação que veremos neste Ponte Aérea.

A trama acompanha o casal Amanda (Letícia Colin) e Bruno (Caio Blat) que se conhecem por acaso quando um voo atrasa. O problema é que vivem em cidades diferentes, ele no Rio de Janeiro e ela em São Paulo e a distância, bem como suas personalidades opostas parecem dificultar a consolidação do relacionamento.

O filme brinca com a velha rivalidade entre Rio e São Paulo, mas não vai muito além de estereótipos regionais, ele é um carioca relaxado e sem grandes ambições que vai levando a vida sem grandes preocupações, ela é uma paulista agitada e constantemente estressada, além de obcecada pelo sucesso profissional. No entanto, ao invés de estimular a rivalidade, o filme tenta conciliar as coisas demonstrando como cada cidade tem seu charme. A fotografia ajuda a estabelecer as oposições entre as duas cidades, enquanto o Rio é uma cidade mais colorida, repleta de espaços abertos e paisagens naturais, São Paulo apresenta uma paisagem urbana tomada por prédios altos, marcada pelas superfícies de concreto e vidro e uma paleta de cores mais frias e menos saturadas, mas que ainda assim consegue achar alguma beleza nessa selva de pedra, sem fazê-la soar opressiva.

O problema é que essa abordagem das belezas e virtudes de cada cidade muitas vezes ocorre de maneira forçada deslocada do restante da obra, fazendo esses momentos parecerem saídos de algum vídeo institucional para estimular o turismo. Tudo bem, alguns desses momentos são genuinamente divertidos, como o diálogo sobre pizza de calabresa, mas em geral não consegue afastar a sensação que estamos diante de um panfleto turístico.

O excesso de publicidade no filme, aliás, se estende para além disso, em um momento acompanhamos um dos protagonistas pela rua e de repente a câmera deixa de acompanhá-lo para mostrar a fachada de uma das empresas que ajudou a financiar o longa. Eu entendo que product placement faz parte da indústria cinematográfica, mas o modo como isso acontece aqui interrompendo o fluxo da narrativa simplesmente quebra a imersão, aborrece e me deixa com má vontade em relação à marca exposta, um efeito diametralmente oposto ao que certamente pretendiam os envolvidos.

Apesar destes problemas, o filme funciona pelo cuidado que o roteiro tem em desenvolver a relação do casal, aprofundando suas personalidades e conflitos, evitando torná-los meras reproduções de estereótipos regionais. Além disso, consegue equilibrar muito bem a comédia e o drama sem jamais pesar a mão em nenhum deles e tudo parece se desenvolver naturalmente através das interações entre seus personagens.

A obra acerta também em evitar transformar algum personagem em vilão, deixando que os conflitos surjam naturalmente entre o casal a partir de suas próprias falhas, traumas, inseguranças e disparidades de personalidade. O foco é mesmo na tentativa desse casal em encontrar o equilíbrio entre o modo de vida de cada um deles, algo que já é bastante complicado e dramático por si e tentar colocar obstáculos demais arriscaria em descambar no exagero. Ao invés disso prefere construir uma dinâmica bastante sincera e natural, na qual os problemas vão surgindo a partir da convivência e eles precisam aprender a lidar com os sentimentos um do outro. Nesse sentido, o trabalho de Caio Blat e Letícia Colin é o que carrega o filme, já que a dupla consegue nos convencer bem do sentimento que nutrem um pelo outro, bem como o quanto lhes dói ficar longe um do outro. A atração mútua que há entre eles que também é evidenciada nas cenas de sexo entre o casal. Não é nada muito explícito, mas estabelece muito bem a química dos dois.

Ponte Aérea é um romance bem tradicional, mas funciona e engaja graças ao roteiro bem cuidado e a um ótimo trabalho de seus dois atores que tratam com cuidado e competência as dificuldades de construir um relacionamento.


Nota: 6/10

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