quarta-feira, 8 de abril de 2015

Crítica - Cada Um Na Sua Casa


A amizade entre uma criança e uma adorável criatura na qual ambos aprendem valiosas lições de vida não é uma premissa exatamente original, mas é uma ideia que o cinema ocasionalmente resgata e este Cada Um Na Sua Casa recicla mais uma vez.
 
A trama acompanha Oh (Jim Parsons) um alienígena da atrapalhada raça Boov, que invade a Terra para se esconder de uma temível ameaça. Os problemas começam quando Oh sem querer transmite a localização dos Boov para seus inimigos e para evitar uma catástrofe precisará da ajuda  de Tip (Rihanna) uma garota que tenta reencontrar a mãe depois de separadas durante a invasão.
 
A trama é simples, mas falta um senso real de perigo ou urgência já que se trata de uma corrida para salvar o mundo. Eu sei que é um filme infantil e que as coisas não podem ficar sérias demais, mas animações como Os Incríveis (2004) mostram que é perfeitamente possível fazer o público ter uma noção palpável de perigo sem que tudo se torne pesado demais para os pequenos. Além disso algumas coisas soam um pouco forçadas, como o modo que Oh transmite a mensagem para os inimigos (afinal que dispositivo manda mensagens para um número ilimitado de usuários e tem uma área de efeito ilimitada) ou reviravolta perto do fim que praticamente invalida a jornada da dupla, já que os inimigos os localizariam na Terra de qualquer jeito. A explicação do porque os Boovs eram perseguidos soa incoerente, se o motivo de tudo era a recuperação de um determinado item, então como as duas raças sentaram para a negociação de paz que permitiu ao líder Boov obter o dito item? O livro que inspirou a animação deve preencher algumas dessas lacunas, mas uma adaptação deve se sustentar por conta própria.
O aspecto visual, no entanto, é muito melhor concebido do que a narrativa. Tudo é extremamente colorido e bastante criativo, a tecnologia Boov tem muitos itens criativos e seus usos dão origem a algumas perseguições e cenas de ação bastante movimentadas e cheias de energia. A música ajuda a dar dinamismo à ação e consegue pontuar os momentos mais dramáticos sem soar apelativa, além disso ainda traz muitas canções da cantora Rihanna.

As criaturinhas também tem um aspecto adorável, mas seriam mais interessantes se não passassem o filme presas a uma única piada. Basicamente a integralidade do humor da obra deriva do fato de que os Boovs não entendem direito nossa língua ou nossos costumes e assim o filme irá tentar nos fazer rir ao colocar as criaturinhas para falar errado e se atrapalharem ao usar coisas mundanas como uma bola ou uma privada. É curioso no início, mas rapidamente torna-se cansativo e repetitivo, sem falar que as melhores piadas estão no trailer.

O filme se sai melhor no drama do que na comédia e os momentos em que desenvolve a amizade entre Tip e Oh e há uma dinâmica verdadeiramente calorosa entre eles, já que ambos sentem-se deslocados e excluídos no meio em que vivem. Ele por ser atrapalhado e ela por ser uma imigrante vivendo nos Estados Unidos, não chega a conter nada que já não tenha sido feito antes, mas é suficientemente bem escrito para nos envolver. Ao compreender a sensação de isolamento de Tip, sua relação com a mãe e a obstinação em encontrar a mãe tornam-se ainda mais compreensíveis, já que ela é praticamente a única pessoa com quem se relaciona. Tip, no entanto, não é uma garotinha indefesa e é perfeitamente capaz de cuidar de si mesma e de seu atrapalhado companheiro, sendo uma heroína independente e hábil em lidar com as dificuldades. É uma pena, portanto, que uma personagem tão carismática quanto Tip seja desperdiçada em uma trama superficial e humor repetitivo.

Aqui e ali o filme se entrega a um excesso de exposição ao falar sobre preconceito ou não julgar pelas aparências, essas ideias funcionam melhor quando o filme é menos direto como a revelação da real aparência dos inimigos dos Boov. Ainda assim, os momentos em que os personagens compartilham suas angústias e dividem s
entimentos ou brincadeiras um com o outro são os mais eficazes da fita.

Cada Um Na Sua Casa é suficientemente colorido e movimentado para agradar aos pequenos, mas pode soar demasiadamente formulaico e redundante para um público mais velho.


Nota: 5/10

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