Hollywood
parece realmente interessada em denunciar os excessos do atual governo do Irã,
em especial dos problemas que emergiram após a última eleição presidencial.
Depois de 118 Dias, que estreou mês
passado, agora este O Dançarino do
Deserto vem falar dos excessos cometidos pelo governo durante os protestos
sobre a reeleição de Ahmadinejad. Claro, os Estados Unidos certamente tem
razões bem particulares para denunciar os excessos deste governo, no entanto,
não tira a importância que é trazer essas violações à luz.
Aqui
acompanhamos a história de Afshin Ghaffarian (Reece Ritchie) um jovem iraniano
que desde pequeno exibia uma paixão pela dança. Contrariando as normas vigentes
que consideram a dança um ato de imoralidade ele cria uma companhia de dança
clandestina com colegas de faculdade. Conforme as tensões aumentam por causa
das eleições presidenciais, sua companhia passa a ficar sob os olhos das
autoridades, colocando as vidas de todos em risco.
O
filme trata tudo como uma tradicional história de superação, arriscando muito
pouco para sair da fórmula e dos lugares-comuns que se espera deste tipo de
filme, tanto que é possível prever cada conflito, reviravolta e solução muito
antes que ocorram, tornando tudo um exercício de paciência. A trama até tenta
surpreender, como quando se esforça construir algum mistério à respeito do
passado da personagem Elaheh (Freida Pinto), mas faz isso de modo tão pouco
sutil fica claro para nós o evento traumático de seu passado que causou sua
hesitação em falar da mãe.
Do
mesmo modo, peca pelo excesso de diálogos expositivos, dando a sensação de que
os personagens não estão ali para vivenciar aquelas situações, mas para
explicá-las ao público. O resultado não chega a ser exatamente artificial, mas
é tão didático que mais parece estarmos diante de uma videoaula do que de um
filme de ficção (baseado em fatos reais, mas ainda assim ficção). Além disso,
suas tentativas em tratar da situação do Irã pouco acrescentam ao que já foi
dito em filmes como o já referido 118 Dias ou a animação Persépolis
(2007), que é até então o melhor relato sobre o Irã após o regime do Xá Reza
Palahvi.
É
apenas durante as cenas de dança que o filme consegue criar um engajamento e
empatia genuínas com seus personagens. Através das sinuosas coreografias
entendemos o fascínio que a dança exerce sobre o protagonista e a potência
expressiva desta arte que permite aos personagens transmitir seus sentimentos,
ideias e visões de mundo com nada mais do que seus corpos.
Deste
modo, apesar de demonstrar a capacidade transformadora da arte, este O Dançarino do Deserto perde ritmo por
sua estrutura previsível e pelo excesso de didatismo.
Nota:
5/10
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