A
exploração do lado sombrio e hipócrita que reside por trás da fachada
aparentemente perfeita da classe média suburbana dos Estados Unidos não é
exatamente novo. Filmes como Beleza
Americana (1999), Pecados Íntimos
(2006) ou Foi Apenas Um Sonho (2008)
já tinham trazido a tona os segredos ocultos por trás da imagem idealizada da
"típica família americana" e este Pássaro
Branco na Nevasca continua esse revisionismo da iconografia da tradicional
família suburbana de classe média, somando-o a uma narrativa sobre despertar
sexual e afetivo.
O
distanciamento e a falta de afeto entre a família é sentido durante a cena do
jantar, quando a montagem vai cortando de modo seco entre as faces impassíveis
dos três e os cortes entre os diferentes closes
os fazem parecerem distantes um do outro apesar da proximidade. As tentativas
de Brock em puxar conversa com a esposa são rechaçadas com respostas curtas ou
um incômodo silêncio seguido de um olhar carregado de desprezo e ódio, como se
Eve fosse saltar sobre a garganta do marido a qualquer instante. Do mesmo modo,
a vemos pairar sobre a filha com um olhar que mistura amargura e ressentimento,
como se ela lhe tivesse roubado sua vida, seus sonhos, sua juventude e beleza.
Aliás,
a atriz Eva Green faz um ótimo trabalho ao retratar uma mulher contida, mas
prestes a transbordar a qualquer momento sob a pressão de suas frustrações e
carência emocional e quando isso de fato acontece tudo parece natural e
coerente, sendo que nas mãos de uma atriz menos competente o resultado poderia
descambar para uma exagerada mastigação de cenário. Já Shailene Woodley traz em
si as inseguranças e dúvidas de sua personagem que encontra no sexo uma muleta
física e emocional para a falta de afetividade e contato humano que encontra em
casa. Christopher Meloni, por sua vez, surpreende ao fazer aqui um sujeito
diametralmente oposto ao detetive durão que nos acostumamos a ver na série Lei e Ordem e se de início o vemos como
um homem medíocre e acomodado com sua vida pacata, a reviravolta final nos
revela que ele se sentia tão incompleto e frustrado quanto a esposa, já que não
podia assumir seu verdadeiro eu.
É
justamente no final, porém, que o filme perde força, já que as revelações sobre
os pais de Kat tem potencial para deixar marcas profundas sobre a jovem, no
entanto, tudo é resolvido de modo apressado e o filme não dá espaço para que os
eventos repercutam na personagem, resumindo tudo em poucas frases de Kat em uma
narração em off. Assim, fica a
sensação que a narrativa não se aprofunda no tormento emocional da personagem e
seu ressentimento em relação aos pais. Isso, no entanto, parece mais um
problema de roteiro do que da relativa curta duração (cerca de noventa minutos),
já que filmes igualmente rápidos como Frank (2015)
ou Whiplash: Em Busca da Perfeição (2015) trazem
estudos complexos da mente de seus personagens em uma minutagem igualmente curta.
Deste
modo, Pássaro Branco na Nevasca traz
uma estética muito bem construída e ótimas performances da trinca principal,
mas derrapa no tratamento superficial aos conflitos da protagonista.
Nota:
7/10
Nenhum comentário:
Postar um comentário