Depois
do absoluto sucesso do primeiro Os
Vingadores (2012), que consolidou o universo cinematográfico da Marvel e
todos os seus heróis em uma só história, ficava no ar dúvida se o estúdio seria
capaz de superar a afiadíssima primeira aventura neste Vingadores: Era de Ultron. A verdade é que este não é tão coeso
quanto o filme anterior, mas ainda assim é bastante satisfatório.
A
história começa com os heróis invadindo a última base restante da Hidra para
recuperar o cetro de Loki das mãos do Barão Von Strucker (Thomas Kretschmann).
Ao fim da missão Tony Stark (Robert Downey Jr) descobre no cetro um código que
lhe permitiria criar uma verdadeira inteligência artificial que poderia ser a
chave para o seu programa de robôs para o patrulhamento mundial. Assim, ele e
Bruce Banner (Mark Ruffalo) criam Ultron (James Spader) com o objetivo de
promover a paz mundial. A questão é que o robô super inteligente chega a
conclusão que o melhor caminho para a pacificação é a destruição da humanidade
e parte para atacar seus criadores e destruir a raça que considera inferior.
O
tom do filme é um pouco mais sério, assim como o de Capitão América 2: O Soldado Invernal, algo que este filme
evidencia ao usar uma paleta de cores em uma saturação mais baixa do que na
primeira aventura do grupo, ao mesmo tempo que investe em cenários mais
sombrios e menos iluminados. O problema é que quando tudo isso é visto pelas
igualmente escuras lentes dos óculos 3D torna as coisas quase impossíveis de
serem vistas em alguns momentos, como todo o segmento no navio do vilão Ulysses
Claw (Andy Serkis), transformando o recurso em algo que prejudica a experiência
ao invés de melhorá-la. Deste modo, melhor evitar as exibições neste formato.
Descartando
os problemas com o 3D, a iniciativa visual é coerente com a natureza da
história, visto que Ultron não quer apenas destruir a humanidade mas derrotar
completamente os Vingadores e usará sua inteligência, bem como a manipulação
mental da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) para mergulhar os heróis em
seus maiores medos. Assim, os vemos exibir uma vulnerabilidade que não vimos em
filmes anteriores. Ao mesmo tempo, é hábil o bastante para não deixar que tudo
se torne sério e sisudo demais, injetando humor suficiente para entreter e
aliviar o ritmo, mas sem passar por cima da dramaticidade, algo que já acontecia
no segundo filme do Capitão América, mas que não tinha sido alcançado no
equivocado Homem de Ferro 3.
O
diretor e roteirista Joss Whedon continua entendendo que aquilo que torna o
grupo tão interessante é a colisão entre personalidades disfuncionais destes
personagens. Eles são sujeitos incompletos, problemáticos e com visões de mundo
bem pessoais, assim não é difícil compreender porque Stark vê como uma boa
solução seus experimentos com inteligência artificial e sua tentativa de criar
uma força de robôs pacificadores, do mesmo modo compreendemos o receio do
Capitão América (Chris Evans) em se valer de "ataques preventivos" ou
tentar criar algo superior ao próprio ser humano. O texto evita cair em
maniqueísmos fáceis e nos faz ver as coisas sob o ponto de vista de cada um
deles. Tudo isso ajuda também a criar a
atmosfera de conflito que irá desembocar no vindouro filme da Guerra Civil,
além de algumas discretas menções a outros filmes do estúdio.
Do
mesmo modo, Ultron é um dos vilões mais interessantes do universo Marvel até
então, já que ele é movido por mais do que além sua fria lógica, mas também uma
grande dose de vaidade, rancor e um cavalar complexo de Édipo que o move a se
provar superior ao seu criador o tempo todo, incluindo criar ele próprio uma
nova forma de inteligência artificial na forma do híbrido Visão (Paul Bettany).
O arco do vilão, porém, soa um pouco apressado demais de início, já que mal ele
ganha consciência e já começa a odiar seus criadores, seria interessante ver
isso acontecer de modo menos automático.
Assim,
fica a sensação de que a trama não consegue equilibrar tão bem a presença de
tantos personagens como no filme anterior, que conseguia dar arcos narrativos e
ações importantes a cada um dos heróis. Se o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner)
ganha aqui um merecido destaque depois de passar boa parte de Os Vingadores como um mero capanga,
personagens como Thor (Chris Hemsworth) são deixados a escanteio e tem pouco à
contribuir além da pancadaria. Aliás, a subtrama de Thor, parece mais voltada a
desenvolver elementos para o terceiro filme do personagem e os próximos
Vingadores do que para o conflito presente, fazendo este desvio quebrar um
pouco o ritmo da narrativa Seria melhor deixar isso para os filmes sozinho do
que gastar o disputado tempo deste, principalmente quando até mesmo novatos
como Mercúrio (Aaron Taylor Johnson) são relegados à irrelevância, um sinal de
que há uma clara dificuldade em desenvolver satisfatoriamente os personagens.
Claro, Mercúrio nunca foi grande coisa nos quadrinhos, mas não consigo deixar
de pensar que o destino do personagem também deve estar relacionado à querela
entre Marvel e Fox, mas negar aos fãs aquilo que eles esperam e cuspir em cima
do material que eles adoram apenas por rancor à concorrente é uma estratégia
corporativa mesquinha e desrespeitosa.
A
impressão é que a Marvel se comporta aqui como um valentão de escola que toma o
brinquedo do colega, sacudindo-o na sua frente perguntando se quer brincar com
ele e depois quebra ele inteiro para devolvê-lo e com desdém dizer que nunca
tinha gostado mesmo daquele brinquedo. Sim, a Marvel tinha anunciado o
personagem primeiro, mas como a Fox, por pura provocação, o colocou antes nas
telas, o estúdio parece ter decido dar uma resposta à ofensa da concorrente e
mostrar como o personagem é descartável e eles não dão a mínima para ele ao
invés de tentar fazer algo que o tornasse mais interessante do que o da Fox.
Do
mesmo, modo a tentativa de criar um relacionamento amoroso entre Bruce Banner e
a Viúva Negra (Scarlett Johansson) soa gratuito e desnecessário, já que o envolvimento não acrescenta nada a nenhum dos dois que não poderia ser feito sem isso. Tudo bem, eles tem muito em comum e em
alguns bons momentos se abrem um com o outro de modo que jamais vimos esses
personagens fazerem, mas ela também já tinha compartilhado um pouco sobre si para
o Capitão no segundo filme do herói e para o Gavião na primeira aventura da
equipe e nem por isso precisou se envolver romanticamente com eles.
As
cenas de ação, como era de se esperar, continuam muito boas quanto no primeiro
e Joss Whedon mantém a competência de criar longas batalhas em larga escala sem
nunca perder o controle ou a coesão sobre o que acontece. Sua câmera passeia
com elegância entre os diferentes heróis sem nunca perder a noção do conjunto
geral das coisas. Os combates exploram de modo criativo e interessante os
poderes e habilidades dos heróis, sempre havendo algo de espetacular e
empolgante a ser visto. Apesar de todo o caos e destruição, o filme não perde
de vista as pessoas comuns que são pegas no meio de tudo aquilo, mostrando
também a preocupação dos heróis em manter a salvo os inocentes e evitar que
suas ações causem mal aos outros. Assim temos um maior senso de perigo, pois
sabemos o número de vidas em jogo, como também temos mais simpatia pelos
personagens, já que eles não estão ali apenas para bater nos vilões, mas também
para salvar vidas, algo que filmes como O
Homem de Aço (2013) parecem esquecer.
Deste
modo, apesar da dificuldade em lidar com tantos personagens, Vingadores: Era de Ultron é mais uma sólida
e intensa aventura dos super-heróis da Marvel.
Nota: 7/10
Obs: Há uma cena adicional no meio dos créditos
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