A mortalidade humana e a
implacabilidade do tempo são temas tratados de maneira constante pelas artes e,
claro, pelo cinema, recentemente filmes Questão
de Tempo (2013) ou Amantes Eternos (2014) abordaram de modo competente questões sobre mortalidade, imortalidade e
uso do tempo. Este A Incrível História de
Adaline, no entanto, não é tão bem sucedido e acaba soando demasiadamente
superficial e arrastado.
Acompanhamos Adaline (Blake
Lively), uma mulher nascida em 1908 e já adulta sofre um acidente que a deixa incapaz
de envelhecer. Quando sua condição começa a chamar uma atenção excessiva das
pessoas e até das autoridades, Adaline decide fugir e recomeçar a vida em outro
lugar. Assim, ela passa a mudar de identidade e cidade a cada dez anos,
evitando que seu não envelhecimento chame a atenção das pessoas. No entanto, começa
a repensar seu distanciamento da humanidade ao se aproximar do belo Ellis
(Michiel Huisman).
A primeira coisa que chama a
atenção é o uso da fotografia e como ela muda durante os flashbacks de Adaline, assumindo uma paleta com tons de sépia, que
dão a impressão de imagem antiga, e o uso de efeitos de granulação como se
estivéssemos um filme em película velho. Também é competente a reconstrução das
diferentes épocas em que Adaline vive, tanto nos figurinos quanto nos
penteados.
A narrativa, no entanto, não tem
o mesmo esmero que o aspecto visual. O primeiro problema é a desnecessária
explicação pseudocientífica para a condição da protagonista que mais parece
algo saído de um filme de super-herói do que algo adequado ao tom de realismo
fantástico que a obra almeja, melhor teria sido não explicar nada. Outro
problema é o que o filme demora a se encontrar e definir exatamente aquilo do
que quer tratar e o conflito apenas emerge quando a protagonista reencontra um
antigo amante, William (Harrison Ford), que a faz repensar suas decisões, mas
isso acontece quando o filme praticamente já passou da metade. Tudo desaba, no
entanto, nos momentos finais do filme, quando a trama força a barra para
resolver tudo da melhor maneira possível e dar um final feliz a Adaline e seu
par romântico que acaba soando tolo e covarde, já que o material pedia algo
mais agridoce.
A problemática trama só não é
insuportável pelo carisma de Lively como Adaline que realmente convoca a
sensação de alguém que sente o peso do tempo e do isolamento sobre si. Uma
pena, no entanto, que o texto trate de modo tão superficiais as ricas questões
que a condição da personagem levantam, reduzindo tudo a frases de efeito óbvias
como "você viveu tanto tempo, mas
não teve uma vida". Harrison Ford também ajuda a tornar a coisa toda
mais tolerável e traz uma performance tocante como um homem que, apesar de amar
a esposa, ainda se sente encantado por uma mulher que outrora amou, mesmo com
décadas de distanciamento. Assim como Lively, no entanto, seu trabalho também é
prejudicado pelo material limitado com o qual tem que trabalhar. Por outro
lado, Michiel Huisman jamais consegue fazer seu personagem ir além do
estereótipo de "príncipe encantado", que é tão perfeito e desprovido
de falhas ou problemas que termina por aborrecer mais do que encantar,
principalmente numa época em que os próprios contos de fada investem em
príncipes com que tem suas dúvidas e incertezas como o recente Cinderela ou até mesmo criticam esse
tipo de representação como aconteceu com Caminhos da Floresta.
Deste modo, apesar do esforço de
Blake Lively e da bela fotografia, A
Incrível História de Adaline decepciona pela narrativa superficial que
nunca parece saber ao certo como encaminhar a história de sua protagonista,
demorando a se desenvolver e recorrendo a soluções pouco convincentes.
Nota: 4/10
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