Já
foram feitos muitos filmes sobre os horrores e dores da guerra. Muitos deles
sobre a Segunda Guerra Mundial, o Vietnã e as invasões recentes ao Oriente
Médio. Porém, em geral, pouca atenção é dada à Primeira Guerra Mundial e é
exatamente sobre esse período que irá tratar este Promessas de Guerra, estreia do ator Russel Crowe na direção.
Acompanhamos
o fazendeiro australiano Joshua Connor (Russel Crowe) que parte para a Turquia
em busca dos três filhos, mortos em combate durante a guerra. Ao chegar no país
se depara com a hostilidade dos nativos bem como a confusa burocracia militar
que envolve a busca dos corpos. Percebendo que as autoridades são incapazes de
lhe dar aquilo que procura, Connor decide ir por conta própria em busca dos
filhos.
Crowe
se sai relativamente bem em sua estreia na direção, tecendo uma narrativa que
nos mostra como a guerra traz consequências mesmo para aqueles que não
combateram e como este tipo de conflito nos desumaniza e nos afasta das outras
pessoas. Não é exatamente nada de novo, mas é bem conduzido o suficiente para
nos mobilizar e envolver com esta história. Seu trabalho de câmera convoca a
dimensão grandiosa do outback
australiano e das paisagens desoladas dos campos de batalha da Turquia,
enquanto as batalhas de trincheiras dos flashbacks
são filmadas em planos fechados e com constantes movimentos de câmera dando um
ar claustrofóbico e aterrorizante aos eventos. O uso da música, por outro lado,
nem sempre é bem sucedido e muitas vezes ela soa demasiadamente intrusiva,
pesando a mão no sentimentalismo em cenas que já são carregadas de enorme
dramaticidade.
O
filme acerta na construção dos personagens, em especial o protagonista e o
militar turco Hasan (Yilmaz Erdogan). Crowe empresta ao seu personagem sua persona rústica, concebendo-o como um
sujeito teimoso, porém engenhoso, que vai para a Turquia não apenas para
cumprir a promessa que fez à esposa, mas para reencontrar algum propósito em
sua vida. Já Erdogan traz uma grande complexidade a Hasan, um homem patriota
que verdadeiramente quer proteger seu país da ocupação estrangeira, embora
tenha plena consciência da violência que utilizou durante a guerra, trazendo
sempre uma expressão serena, mas carregada de pesar. O resto do elenco, no
entanto, não chega no mesmo nível dos dois, com Olga Kurylenko jamais
conseguindo tirar a dona de hotel Aysha da zona do clichê (embora seja mais
culpa do roteiro do que dela) e o tenente Hughes de Jai Courtney tem a mesma
presença apática que o ator constantemente exibe em seus trabalhos, seja em Divergente (2014), Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer (2013) ou Jack Reacher: O Último Tiro (2012).
É
no roteiro, entretanto, no qual residem boa parte dos problemas da obra. Além
do já citado arco clichê e previsível da personagem Aysha, que além de tudo é
resolvido muito rápido e com muita facilidade, temos também alguns outros
desenvolvimentos problemáticos. O primeiro deles é a cena em que Connor
encontra os corpos ainda no início do filme.
O
enquadramento e movimento de câmera da cena parece relacionar esse momento com
a cena inicial do filme em que o fazendeiro encontra água no subsolo, mas,
convenhamos, encontrar água é diferente de cadáveres, sem falar que o
personagem está sem seus instrumentos. Ainda que isso fosse aceitável, não
explica o uso da montagem paralela do protagonista caminhando entrecortadas por
flashbacks de seus filhos em batalha,
como se Connor fosse um Sherlock Holmes do outback
e pudesse reconstituir a batalha inteira apenas observando o ambiente. Além
disso esse mesmo flashback será
repetido (de maneira expandida) ao fim do filme quando ele descobre seu último
filho, fazendo seu uso inicial soar redundante.
Outro
problema é quando o filme parece não saber para onde ir em seu terço final e as
barreiras narrativas são resolvidas com um deus
ex machina grosseiro no qual o personagem sonha com o lugar no qual
encontrará o filho restante. Esse momento, bem como o anteriormente citado
parecem sugerir algum tipo de capacidade mediúnica ou ligação sobrenatural
entre ele e os filhos, mas isso, no entanto, nunca é abordado ou explicitado,
fazendo esses desenvolvimentos parecerem gratuitos e forçados.
O
texto peca também por tratar as razões do conflito de modo relativamente
ingênuo e romantizado. É compreensível a tentativa de evitar tornar as coisas
maniqueístas demais, porém o modo como filme trata isso, apesar de evitar essa
armadilha, continua simplificando demais as coisas, como o momento em que
Connor diz que a Austrália entrou para a guerra por princípio, quando há claras
questões de subalternidade colonialista envolvendo Austrália e Grã-Bretanha. Do
mesmo modo, quando Hasan diz que a Turquia sempre foi uma nação pacífica até
ser invadida durante a guerra, parece uma simplificação rasteira da história da
nação.
Assim
sendo, embora tenha alguns problemas de roteiro e ocasionalmente pese a mão no
sentimentalismo, Promessas de Guerra
é uma estreia competente de Russel Crowe como diretor.
Nota:
6/10
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