A Pixar produziu algumas das melhores animações do
cinema estadunidense como Up: Altas
Aventuras (2009), Wall-E (2008) e
Ratatouille (2007), mas desde Toy Story 3 (2010) não entregava um
filme que fizesse justiça ao histórico da empresa, com resultados variando
entre o aceitável, como em Valente
(2012), e terrível, como Carros 2 (2011).
Divertida Mente, no entanto,
finalmente traz o estúdio de volta ao padrão de excelência e criatividade que o
elevou ao sucesso.
A história se passa dentro da mente de Riley
(Kaitlyn Dias), uma menina de onze anos que acabou de se mudar para uma grande
cidade. Sua mente é "gerenciada" pelas emoções Alegria (Amy Poehler),
Tristeza (Phyllis Smith), Raiva (Lewis Black), Medo (Bill Hader) e Nojinho
(Mindy Kaling) e esses seis gerentes precisarão se esforçar para lidar com o
turbilhão emocional que toma conta da garota enquanto ela tenta se adaptar à
nova casa.
O grande mérito do filme é como ele consegue tornar
concretos conceitos abstratos ou metafísicos, dando corpo às emoções e
transformando o cérebro em uma locação física na qual a memória é um enorme
arquivo, a imaginação é um parque de diversão, o setor de sonhos é um estúdio
de cinema e o subconsciente é uma espécie de calabouço. Assim, enquanto vemos
Alegria ou Tristeza transitando por estes ambientes, não vemos apenas as
aventuras destes personagens, mas também o desenvolvimento emocional da garota
Riley.
A criação destes ambientes da psique da garota são
de uma criatividade visual singular e em cada cena, cada local há um frescor e
inventividade que constantemente nos encanta e, ao mesmo tempo, ajudam a
transmitir a mensagem que o filme deseja passar. Assim, quando um dos medos da garota
arrebenta os portões de seu subconsciente para invadir seu sonho, o filme está
literalmente nos mostrando como aquilo que tentamos reprimir em nossas cabeças
acaba, de algum modo, emergindo em nossa mente.
Mensagem esta, devo dizer, que é bastante corajosa para um grande blockbuster voltado principalmente às crianças. Afinal ultimamente ser feliz tem se tornado praticamente uma obrigação e as pessoas se dedicam a ostentar felicidade para todos ao seu redor o tempo todo, além disso a ficção voltada para crianças cada vez mais facilita e enche de atalhos as jornadas de seus personagens, nos quais tudo lhes é dado e explicado, permitindo que os percalços sejam resolvidos facilmente. Escapa também de simplificar demais as coisas, apoiando-se excessivamente em frases de efeito prontas como fez o recente Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível que acabou se revelando incomodamente raso para suas ambições. Divertida Mente, no entanto, tem a lucidez de evitar tudo isso, bem como evita a armadilha de tornar maniqueístas as relações entre as emoções, já que seria muito fácil tornar Alegria a heroína e vilanizar a Tristeza ou Raiva.
Mensagem esta, devo dizer, que é bastante corajosa para um grande blockbuster voltado principalmente às crianças. Afinal ultimamente ser feliz tem se tornado praticamente uma obrigação e as pessoas se dedicam a ostentar felicidade para todos ao seu redor o tempo todo, além disso a ficção voltada para crianças cada vez mais facilita e enche de atalhos as jornadas de seus personagens, nos quais tudo lhes é dado e explicado, permitindo que os percalços sejam resolvidos facilmente. Escapa também de simplificar demais as coisas, apoiando-se excessivamente em frases de efeito prontas como fez o recente Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível que acabou se revelando incomodamente raso para suas ambições. Divertida Mente, no entanto, tem a lucidez de evitar tudo isso, bem como evita a armadilha de tornar maniqueístas as relações entre as emoções, já que seria muito fácil tornar Alegria a heroína e vilanizar a Tristeza ou Raiva.
O filme, no entanto, inteligentemente segue no
caminho contrário ao reconhecer que todas as emoções são importantes para o
nosso desenvolvimento emocional e, basicamente, que é necessário (e até inevitável)
aceitar a tristeza como parte de nossas vidas e que sem isso não é possível
existir felicidade. Em nossa existência iremos inevitavelmente fracassar, nos
machucar, seremos magoados por outras pessoas (até por nossos pais) e é nesses
momentos de tristeza que podemos aprender, que podemos nos edificar e crescer
enquanto pessoas. Sem isso não há atrito, não há tensão e sem tensão nada se
transforma, seja na ficção, na vida real, na psicologia ou na química. Nenhuma
pessoa emocionalmente saudável pode ser feliz o tempo todo ou pode manter o
mesmo comportamento durante toda a vida.
Tudo é conduzido com extrema sensibilidade e doçura,
equilibrando com competência o drama e a comédia, permitindo assim que essas
ideias complexas e carregadas de nuances sejam acessíveis tanto a crianças
quanto aos adultos. Quando um antigo amigo imaginário de Riley se joga no
"abismo do esquecimento" para que a Alegria consiga sair de lá,
vemos, de modo literal e metafórico, que é preciso se desapegar de certos
elementos de momentos anteriores da nossa vida para que possamos nos
desenvolver psicológica e emocionalmente. Não significa que essas vivências
tenham sido ruins ou inúteis, apenas que o momento delas em nossas vidas passou
e precisamos de outras e novas experiências.
Do mesmo modo, é tocante a cena na qual Alegria
finalmente reconhece que ela precisa da Tristeza para poder trabalhar e que uma
emoção complementa a outra, já que quando "gerenciada" apenas pelo
Medo, Raiva e Nojinho, Riley vai aos poucos perdendo sua própria identidade. O
filme ainda é inteligente para reconhecer que essas emoções não são absolutas e
unidimensionais e conforme crescemos elas vão ficando mais complexas e uma
experiência pode, por exemplo, mesclar alegria e tristeza. Isso fica
evidenciado pelo final quando vemos o "centro de comando" recebendo
um novo e maior painel de controle e que os orbes de memória se tornaram
multicoloridos.
Divertida
Mente, portanto, é uma animação
visualmente inventiva e tematicamente arrojada, entregando uma aventura ágil,
engraçada e comovente em iguais medidas e apresenta um cuidadoso estudo
sobre nosso desenvolvimento emocional.
Nota: 10/10
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