quarta-feira, 10 de junho de 2015

Crítica - Sob o Mesmo Céu



A filmografia do diretor Cameron Crowe se tornou reconhecida, entre outras coisas, por feel-good movies como Jerry Maguire: A Grande Virada (1996), Tudo Acontece em Elizabethtown (2005) ou Compramos um Zoológico (2011). Os resultados nem sempre são dos melhores, mas costumam cair no espectro do minimamente aceitável, já que costumam nos mandar embora da sala de cinema com uma sensação positiva em relação ao que vimos. Isso, porém, não ocorre com este Sob o Mesmo Céu, que não consegue decolar por causa de uma narrativa sem foco e superficial e porque nem o drama nem a comédia funcionam plenamente.

A história é centrada em Brian (Bradley Cooper) um ex-militar que agora trabalha no setor privado e vai ao Havaí intermediar o lançamento de um satélite construído pela corporação pertencente ao bilionário Carlson Welch (Bill Murray). Durante a viagem ele reencontra a ex-namorada Tracy (Rachel McAdams), que agora tem dois filhos e é casada com o militar Woody (John Krasinski) e se envolve com seu contato com a força aérea a pilota Allison Ng (Emma Stone).

A primeira coisa que incomoda é que o envolvimento entre Brian e Allison soa gratuito e pouco convincente, já que mal eles se conhecem e ela já parece imediatamente interessada pelo sujeito sem que mal tenha conversado com ele. Além disso, tem dois grandes arcos dramáticos com tons diametralmente opostos e que mais parecem o resultado de uma tentativa de montar junto dois filmes diferentes do que como uma grande unidade narrativa coesa. Se por um lado temos esse quadrado amoroso entre Brian, Tracy, Woody e Allison que funciona como uma comédia romântica bastante tradicional, por outro temos uma narrativa mais séria e com um tom quase que denuncista sobre privatização da exploração espacial e os perigos que isso representa já que as corporações privadas não tem os mecanismos de fiscalização e transparência que as forças armadas e outros órgãos do governo possuem.

Há também uma tentativa de criticar o colonialismo e opressão dos Estados Unidos em relação aos nativos havaianos, inclusive com o rei da nação havaiana Dennis "Bumpy" Kanahele fazendo uma ponta interpretando a si mesmo com a sugestiva camisa "Havaiano ao nascer, americano à força". O filme até tenta construir a noção de como os nativos são tratados como cidadãos de segunda classe em sua própria terra, usando uma fotografia mais cinzenta na cena em que Brian visita o assentamento dos nativos, construindo uma oposição com a fotografia cheia de cores quentes e saturadas do resto do longa. Essa crítica, apesar de pertinente, não vai além desta única cena e soa deslocada do restante do filme, além de nunca ser plenamente desenvolvida.

O mesmo pode ser dito da trama sobre os satélites e a possível militarização dos satélites espaciais. O filme assume um tom sério de denúncia dos desmandos corporativos na exploração espacial, chegando a citar as leis e regulamentos internacionais que regem e controlam esse tipo de operação, mas também nunca desenvolve isso plenamente e a resolução deste arco acaba vindo rápido demais, além de parecer pouco crível, já que fica difícil de acreditar que frente a tudo o que acontece apenas o dono da empresa fosse preso enquanto todos os outros sequer são interrogados ou investigados, ou mesmo que o protagonista seja processado por seu empregador por quebra de contrato e divulgação de segredos industriais.

O filme se sai melhor em sua trama romântica, embora ela seja basicamente um reaproveitamento da narrativa de Jerry Maguire: A Grande Virada, nos apresentando a um sujeito que se deixou corromper pelo dinheiro das grandes corporações e que tenta reencontrar um propósito na vida. Apesar disso e da já citada pressa na relação entre Brian e Alisson, esse segmento funciona por causa do talento dos atores. O Brian de Bradley Cooper é claramente um canalha cínico, mas com algo de adorável. Emma Stone sai de sua tradicional persona descolada para construir uma personagem mais hiperativa e intensa, que parece ter tomado trinta xícaras de café cada vez que entra em cena, tendo uma química bastante honesta com Cooper.

Já John Krasinski consegue evitar que seu Woody se torne uma caricatura aborrecida com seu jeito calado e as "conversas" entre Woody e Brian são os momentos mais engraçados do longa. Rachel McAdams, no entanto, não tem a mesma sorte e fica presa a uma personagem superficial e sem carisma. O veterano Bill Murray aparece aqui no piloto automático, repetindo o mesmo tipo blasé que vem fazendo em boa parte de seus filmes e, apesar de adorar seu trabalho, devo dizer que essa repetição já está se tornando cansativa, algo que já tinha mencionado quando falei sobre Um Santo Vizinho, e que aqui nem todas as suas piadas funcionam como deveriam e no fim das contas a conduta aloprada de seu personagem parece estar em um tom diferente do resto, fazendo-o soar deslocado. Completando o time temos Alec Baldwin em uma breve, mas hilária, ponta.

Sob o Mesmo Céu termina, portanto, prejudicado por não saber exatamente que filme quer ser, se uma leve comédia romântica, um sério filme-denúncia sobre a privatização do espaço sideral ou ainda uma crítica ao tratamento dado aos nativos havaianos pelo governo dos Estados Unidos. No fim das contas todas essas pretensões jamais decolam com eficiência, resultando em uma obra bagunçada e pouco coesa.

Nota: 5/10

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