Depois
de Piratas do Caribe (e continuações) e Beary e os Ursos Caipiras (2004), a
Disney lança mais um filme inspirado em uma atração de seus parques com este Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é
Impossível. A ideia de adaptar um brinquedo de parque sempre me deixa com
um pé atrás, afinal não há um universo ou contexto narrativo, então há sempre o
temor de que o resultado seja algo genérico, feito às pressas e sem cuidado.
Felizmente isso não chega a acontecer aqui e a nova empreitada do diretor Brad
Bird (Missão Impossível: Protocolo
Fantasma, Ratatouille, Os Incríveis) é, em geral, bem sucedida.
A
trama acompanha a jovem Casey (Britt Robertson), uma garota rebelde que sonha
em ser astronauta. Quando Casey é presa depois de causar problemas em uma
instalação da NASA, ela recebe por acidente um broche que a transporta
temporariamente a um incrível mundo futurista. Ela, no entanto, começa a ser
perseguida pelo governante do local e se alia à garota Athena (Raffey Cassidy)
e ao amargurado Frank (George Clooney), que parece ter uma história mal
resolvida com o local.
Apesar
do destaque ao nome de Clooney, o filme pertence mesmo a Casey e Athena e é
muito bom ver grandes blockbusters
como esse e o recente Mad Max: Estrada da Fúria investindo em heroínas independentes que jamais são reduzidas a meras
donzelas em perigo. As duas atrizes se saem bem, mas o destaque fica mesmo com
a novata Raffey Cassidy que convoca muito bem a confiança, sabedoria e
imponência (apesar do tamanho diminuto e aparentemente inofensivo) da menina
Athena.
O
filme também acerta em seu design de
produção ao construir uma espécie de estética retrô-futurista, com seus jetpacks e armas de raios. A ideia de um
futuro meio que antiquado e colorido casa muito bem com a noção de um futuro
mais otimista parecendo relativamente antiquada frente à onda de distopias que
vem se multiplicando no cinema e na televisão. Os ambientes e gadgets aproveitam as possibilidades criativas
da premissa e acertam ao transmitir uma sensação de deslumbramento. A música de
Michael Giacchino também contribui para trazer essa atmosfera de encanto e
grandiosidade, ao mesmo tempo que evita soar demasiadamente exagerada e
intrusiva como aconteceu em seu equivocado trabalho no execrável O Destino de Júpiter.
Acerta
também ao trazer à discussão a necessidade de enxergarmos o futuro pelas
oportunidades de aprendizado que ele apresenta, ao invés de mergulharmos no
fatalismo de achar que está tudo perdido, uma mensagem necessária e, de certo
modo, ousada, já que a ficção voltada para jovens vem cada vez mais investindo
em cenários distópicos como Divergente,
Jogos Vorazes, Maze Runner e similares.
O
filme derrapa, no entanto, na maneira como tenta a transmitir suas ideias de
cooperação e construção de um mundo melhor, recorrendo a parábolas e frases de
efeito vazias sobre pensamento positivo que parecem retiradas de pôsteres
motivacionais da internet. Eu entendo que é um filme voltado principalmente
para o público infantil e que essas ideias precisam ser apresentadas de modo
palatável aos pequenos, no entanto o próprio Brad Bird já mostrou que consegue
fazer isso de maneira mais cuidadosa e menos didática e óbvia nas animações Ratatouille (2007) e Os Incríveis (2004), nos quais não
precisou recorrer a frases prontas de autoajuda. Isso piora quando nos
deparamos com o final do filme, que parece alterar pouco o status quo da utopia do título. Depois de tudo que os personagens
passaram era de se imaginar que o acesso ao conhecimento e tecnologia do lugar
fosse. digamos, "democratizado", sendo compartilhado e distribuído a
todos de modo a contribuir para a construção de um mundo melhor. Ao invés
disso, mantêm Tomorrowland fechada e restrita ao acesso de poucos escolhidos,
uma ideia que parece (mesmo que sem querer) concordar com o vilão do filme que
crê que a humanidade não merece sua utopia.
O
vilão, aliás, é outro ponto bastante decepcionante do filme. Depois de passar
boa parte da projeção construindo-o como uma figura que parece lembrar o Andrew
Ryan do game Bioshock, o encontro com
o vilão e a revelação do plano jamais chegam à altura da expectativa criada e
ele jamais faz juz à natureza ameaçadora que se esperava dele, tirando um pouco
da força e a urgência do clímax. Além disso soa um pouco incoerente que um
filme que defende a busca por inovação e novas ideias decida resolver o clímax
com os heróis simplesmente explodindo a máquina do vilão, uma solução
demasiadamente convencional e pouco imaginativa.
Assim
sendo, Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é
Impossível é uma satisfatória e imaginativa aventura que traz a bem-vinda mensagem
sobre a importância de nos preocuparmos em construir um futuro melhor, uma pena
que suas boas intenções derrapem em uma construção superficial e um ritmo
narrativo irregular.
Nota:
6/10
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