quarta-feira, 3 de junho de 2015

Crítica - Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível

Análise Crítica - Tomorrowland

Review - TomorrowlandDepois de Piratas do Caribe (e continuações) e Beary e os Ursos Caipiras (2004), a Disney lança mais um filme inspirado em uma atração de seus parques com este Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível. A ideia de adaptar um brinquedo de parque sempre me deixa com um pé atrás, afinal não há um universo ou contexto narrativo, então há sempre o temor de que o resultado seja algo genérico, feito às pressas e sem cuidado. Felizmente isso não chega a acontecer aqui e a nova empreitada do diretor Brad Bird (Missão Impossível: Protocolo Fantasma, Ratatouille, Os Incríveis) é, em geral, bem sucedida.

A trama acompanha a jovem Casey (Britt Robertson), uma garota rebelde que sonha em ser astronauta. Quando Casey é presa depois de causar problemas em uma instalação da NASA, ela recebe por acidente um broche que a transporta temporariamente a um incrível mundo futurista. Ela, no entanto, começa a ser perseguida pelo governante do local e se alia à garota Athena (Raffey Cassidy) e ao amargurado Frank (George Clooney), que parece ter uma história mal resolvida com o local.

Apesar do destaque ao nome de Clooney, o filme pertence mesmo a Casey e Athena e é muito bom ver grandes blockbusters como esse e o recente Mad Max: Estrada da Fúria investindo em heroínas independentes que jamais são reduzidas a meras donzelas em perigo. As duas atrizes se saem bem, mas o destaque fica mesmo com a novata Raffey Cassidy que convoca muito bem a confiança, sabedoria e imponência (apesar do tamanho diminuto e aparentemente inofensivo) da menina Athena.

O filme também acerta em seu design de produção ao construir uma espécie de estética retrô-futurista, com seus jetpacks e armas de raios. A ideia de um futuro meio que antiquado e colorido casa muito bem com a noção de um futuro mais otimista parecendo relativamente antiquada frente à onda de distopias que vem se multiplicando no cinema e na televisão. Os ambientes e gadgets aproveitam as possibilidades criativas da premissa e acertam ao transmitir uma sensação de deslumbramento. A música de Michael Giacchino também contribui para trazer essa atmosfera de encanto e grandiosidade, ao mesmo tempo que evita soar demasiadamente exagerada e intrusiva como aconteceu em seu equivocado trabalho no execrável O Destino de Júpiter.

Acerta também ao trazer à discussão a necessidade de enxergarmos o futuro pelas oportunidades de aprendizado que ele apresenta, ao invés de mergulharmos no fatalismo de achar que está tudo perdido, uma mensagem necessária e, de certo modo, ousada, já que a ficção voltada para jovens vem cada vez mais investindo em cenários distópicos como Divergente, Jogos Vorazes, Maze Runner e similares.

O filme derrapa, no entanto, na maneira como tenta a transmitir suas ideias de cooperação e construção de um mundo melhor, recorrendo a parábolas e frases de efeito vazias sobre pensamento positivo que parecem retiradas de pôsteres motivacionais da internet. Eu entendo que é um filme voltado principalmente para o público infantil e que essas ideias precisam ser apresentadas de modo palatável aos pequenos, no entanto o próprio Brad Bird já mostrou que consegue fazer isso de maneira mais cuidadosa e menos didática e óbvia nas animações Ratatouille (2007) e Os Incríveis (2004), nos quais não precisou recorrer a frases prontas de autoajuda. Isso piora quando nos deparamos com o final do filme, que parece alterar pouco o status quo da utopia do título. Depois de tudo que os personagens passaram era de se imaginar que o acesso ao conhecimento e tecnologia do lugar fosse. digamos, "democratizado", sendo compartilhado e distribuído a todos de modo a contribuir para a construção de um mundo melhor. Ao invés disso, mantêm Tomorrowland fechada e restrita ao acesso de poucos escolhidos, uma ideia que parece (mesmo que sem querer) concordar com o vilão do filme que crê que a humanidade não merece sua utopia.

O vilão, aliás, é outro ponto bastante decepcionante do filme. Depois de passar boa parte da projeção construindo-o como uma figura que parece lembrar o Andrew Ryan do game Bioshock, o encontro com o vilão e a revelação do plano jamais chegam à altura da expectativa criada e ele jamais faz juz à natureza ameaçadora que se esperava dele, tirando um pouco da força e a urgência do clímax. Além disso soa um pouco incoerente que um filme que defende a busca por inovação e novas ideias decida resolver o clímax com os heróis simplesmente explodindo a máquina do vilão, uma solução demasiadamente convencional e pouco imaginativa.

Assim sendo, Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível é uma satisfatória e imaginativa aventura que traz a bem-vinda mensagem sobre a importância de nos preocuparmos em construir um futuro melhor, uma pena que suas boas intenções derrapem em uma construção superficial e um ritmo narrativo irregular.


Nota: 6/10

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