Parte
K-19: The Widowmaker (2002) e parte O Tesouro da Sierra Madre (1948) este Mar Negro é um suspense submarino que,
embora não reinvente a roda e constantemente se prenda aos clichês do gênero, ainda
assim consegue funcionar graças à condução do diretor escocês Kevin Macdonald (O Último Rei da Escócia).
A
trama segue Robinson (Jude Law), um especialista em recuperação de destroços
submarinos. Quando ele é demitido de seu emprego, um amigo lhe procura com uma oportunidade:
a descoberta um submarino alemão com um carregamento de ouro russo que
naufragou durante a Segunda Guerra Mundial. Como a região está em disputa entre
a Rússia e Geórgia, nenhum dos dois governos ainda tentou recuperar o ouro.
Assim, Robinson junta uma tripulação em um velho submarino para recuperar o
tesouro, mas, claro, as coisas não saem como planejado.
A
direção de Macdonald consegue criar uma atmosfera claustrofóbica ao investir em
enquadramentos em close, que fazem os
pequenos corredores do submarino parecerem ainda mais apertados. Os closes, combinados com as luzes
vermelhas de alerta que acendem a todo momento, cobrindo os rostos dos
personagens, contribuem para a sensação de um perigo iminente e inescapável.
Além disso, o roteiro consegue manter o ritmo, colocando um obstáculo atrás do
outro e trazendo novas reviravoltas cada vez que as coisas parecem estar sob
controle. Não quero dar spoiler, mas
nem todas fazem muito sentido, algumas delas inclusive abusam um pouco da nossa
suspensão de descrença, o que acaba sendo um problema.
Muitos
momentos de tensão não diferem muito de coisas que vimos em outros "filmes
de submarino" como o já citado K-19:
The Widowmaker, U-571: Batalha do
Atlântico (2000) ou Maré Vermelha
(1995), com leituras de radar enquanto tentam fugir de perseguidores ou pessoas
correndo pelas passagens estreitas enquanto fogem da água que inunda a
embarcação. No entanto, eles são bem executados o suficiente para funcionar,
graças ao trabalho de câmera e da intensa música, que consegue evocar suspense
sem soar intrusiva.
Outra
questão é que não há muito desenvolvimento de nenhum membro da tripulação
exceto o personagem de Law. Isso se tornará um problema quando eles começam a
sucumbir à "febre do ouro" (daí minha menção a O Tesouro da Sierra Madre), pois como não sabíamos praticamente nada
a respeito dos personagens, a transformação deles parece acontecer mais por
exigência do roteiro em criar constantes reviravoltas do que uma tentativa de
examinar os limites da ganância e loucura humanas.
Se
os coadjuvantes não funcionam, Law pelo menos se ergue a altura de carregar o
filme, fazendo de Robinson um sujeito visivelmente abatido e descuidado, com
olheiras proeminentes, barba por fazer e com alguns quilos a mais. Seu
personagem é alguém que foi tão maltratado pela vida que ele parece disposto a
qualquer coisa, até mesmo arriscar a vida, para mostrar a todos que não
deveriam menosprezá-lo e Law é hábil em nos transmitir esses sentimentos, nos
fazendo compreender as condutas extremas que o personagem tomará. Ainda assim
algumas coisas não funcionam, em especial as inserções de flashbacks de Robinson com sua família, que são dotadas de um
sentimentalismo que soa deslocado do restante do tom do filme e parece uma
tentativa do filme em forçar nossa adesão ao personagem apesar de sua conduta nos
parecer reprovável.
Assim
sendo, apesar de não conseguir ir além dos lugares-comuns do gênero, Mar Negro funciona pela sua atmosfera
claustrofóbica e o trabalho de Jude Law.
Nota:
6/10
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