Quando
escrevi sobre o recente Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros falei que nem todas as franquias cinematográficas se
prestavam a múltiplas continuações, remakes
ou reboots porque elas ofereciam
pouco "espaço de manobra". Ou seja, oferecem poucas possibilidades
para ampliar ou recontar a história ou universo, já que os filmes dão conta de
praticamente todas as possibilidades que o cenário oferecia. Tudo que tinha que
ser dito sobre o universo de O
Exterminador do Futuro já tinha sido feito pelos dois filmes de James
Cameron, não havia pontas soltas, ganchos ou questões mal resolvidas, era tudo
fechadinho e redondo. Tanto que todas as tentativas de continuar, refazer ou
expandir esse universo, tanto no cinema quanto na televisão, não chegaram nem
perto da força que os dois primeiros filmes possuem e incluo este Exterminador do Futuro: Gênesis nesse
grupo.
A
trama começa no futuro, quando a humanidade, liderada por John Connor (Jason
Clarke), inicia seu último ataque contra a Skynet para encerrar a guerra contra
as máquinas. Durante o ataque um Exterminador (Arnold Schwarzenegger) é enviado
ao passado para assassinar Sarah Connor e o soldado Kyle Reese (Jai Courtney) é
enviado ao passado para deter a máquina. Sim, é a mesma premissa do filme
original, mas quando Reese chega ao passado, descobre que as coisas mudaram.
Sarah Connor foi criada desde a infância por outro Exterminador (também
Schwarzenegger) e que há também um T-1000 (Byung-hun Lee) caçando-os. Juntos
eles descobrem que precisam viajar para o futuro, dias antes do Julgamento
Final, para deter a Skynet antes que o fim do mundo aconteça.
Se
isso já soa confuso pelo meu breve parágrafo, imaginem acompanhar isso pelas
mais de duas horas de filme. São tantas idas e vindas, tantos loops e paradoxos temporais que fica a
sensação de que está valendo qualquer coisa e que a qualquer momento uma nova
linha temporal ou paradoxo altere tudo. Se tudo vale, fica difícil aderir ou se
conectar com a narrativa já que o desenvolvimento ou resolução da trama depende
menos das ações dos personagens e mais das noções de viagem temporal
arbitrariamente definidas pelo filme. Isso piora quando percebemos que muitas
questões aqui levantadas, como quem afinal mandou o exterminador para a pequena
Sara Connor, jamais são respondidas, dando a impressão de uma trama concebida
sem cuidado ou de uma estratégia desonesta para justificar mais uma continuação
(uma cena no meio dos créditos levanta essa possibilidade) ao fornecer uma
experiência incompleta, tal como ocorreu em Prometheus
(2012).
A
trama ainda sofre com sérios problemas de tom, com algumas intervenções
humorísticas destoando bastante do clima de urgência e perigo que o filme tenta
desenvolver, em especial a cena em que eles são presos ao som da canção Bad Boys parece saído de um filme
completamente diferente. Além disso, as interações entre Sarah e Kyle parecem
tiradas de alguma comédia romântica ruim, recorrendo constantemente ao clichê
do "casal que se detesta, mas se ama", passando boa parte do tempo
trocando provocações apesar da atração obviamente visível.
O
retorno de Schwarzenegger como o Exterminador é possivelmente o melhor do filme,
estoico e determinado como o ciborgue protetor de Sarah, ele continua sabendo
como nos fazer gostar de um personagem que é basicamente uma máquina de matar
sem sentimentos. Suas frases de efeito e tentativas de se passar por humano são
os melhores momentos do filme, embora repita à exaustão as brincadeiras com a
idade do ator. O resto do elenco, no entanto, não funciona tão bem.
Emilia
Clarke já tinha nos mostrado que sabia fazer uma personagem resoluta e de
natureza feroz com sua khaleesi em Game of Thrones, mas aqui seu trabalho
parece simplesmente equivocado. É difícil dizer se o problema é do roteiro, da
direção ou da própria atriz, mas sua Sarah Connor jamais evoca a força e
imponência que se espera da personagem. Além disso, neste filme Sarah é uma
mulher que desde a infância viveu sozinha com um ciborgue assassino sendo
treinada para ser uma líder militar. Era de se esperar que uma vida de
isolamento e toda devotada ao combate mexesse com sua cabeça, mas a personagem
se comporta como alguém que teve uma vida perfeitamente normal e saudável.
Jai
Courtney, por sua vez, nos brinda com mais uma performance apática, algo que já
tinha mencionado quando falei do recente Promessas de Guerra, e simplesmente não consegue nos convencer da bravura e
experiência em combate de seu Kyle Reese. Tudo bem que ele é prejudicado por
diálogos ruins, como anteriormente dito, mas também nunca consegue imprimir
vida ou personalidade a Reese.
Já
Jason Clarke tem uma ingrata tarefa como John Connor, uma vez que o personagem
passa a grande maioria do filme reduzido a uma mera marionete da Skynet, uma
reviravolta que já tinha sido revelada nos trailers do filme, e jamais consegue
ser um antagonista interessante. O T-1000 vivido por Byung-hun Lee, por outro
lado, é tão ameaçador e irrefreável quanto aquele vivido por Robert Patrick em O Exterminador do Futuro 2 (1991). O
filme explora de modo criativo as habilidades do personagem e as cenas de ação
que o envolvem são as melhores e mais interessantes do longa. É uma pena,
portanto, que ele apareça tão pouco, já que o restante das cenas de ação
carecem da inventividade, energia e sensação de perigo que os momentos iniciais
da obra conseguem construir.
Deste
modo, este Exterminador do Futuro:
Gênesis é mais uma continuação que falha em fazer jus aos dois primeiros
filmes da franquia, prejudicado por um roteiro bagunçado, um tom inconsistente
e performances que não convencem.
Nota:
4/10
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