quarta-feira, 1 de julho de 2015

Crítica - O Exterminador do Futuro: Gênesis




Quando escrevi sobre o recente Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros falei que nem todas as franquias cinematográficas se prestavam a múltiplas continuações, remakes ou reboots porque elas ofereciam pouco "espaço de manobra". Ou seja, oferecem poucas possibilidades para ampliar ou recontar a história ou universo, já que os filmes dão conta de praticamente todas as possibilidades que o cenário oferecia. Tudo que tinha que ser dito sobre o universo de O Exterminador do Futuro já tinha sido feito pelos dois filmes de James Cameron, não havia pontas soltas, ganchos ou questões mal resolvidas, era tudo fechadinho e redondo. Tanto que todas as tentativas de continuar, refazer ou expandir esse universo, tanto no cinema quanto na televisão, não chegaram nem perto da força que os dois primeiros filmes possuem e incluo este Exterminador do Futuro: Gênesis nesse grupo.

A trama começa no futuro, quando a humanidade, liderada por John Connor (Jason Clarke), inicia seu último ataque contra a Skynet para encerrar a guerra contra as máquinas. Durante o ataque um Exterminador (Arnold Schwarzenegger) é enviado ao passado para assassinar Sarah Connor e o soldado Kyle Reese (Jai Courtney) é enviado ao passado para deter a máquina. Sim, é a mesma premissa do filme original, mas quando Reese chega ao passado, descobre que as coisas mudaram. Sarah Connor foi criada desde a infância por outro Exterminador (também Schwarzenegger) e que há também um T-1000 (Byung-hun Lee) caçando-os. Juntos eles descobrem que precisam viajar para o futuro, dias antes do Julgamento Final, para deter a Skynet antes que o fim do mundo aconteça. 

Se isso já soa confuso pelo meu breve parágrafo, imaginem acompanhar isso pelas mais de duas horas de filme. São tantas idas e vindas, tantos loops e paradoxos temporais que fica a sensação de que está valendo qualquer coisa e que a qualquer momento uma nova linha temporal ou paradoxo altere tudo. Se tudo vale, fica difícil aderir ou se conectar com a narrativa já que o desenvolvimento ou resolução da trama depende menos das ações dos personagens e mais das noções de viagem temporal arbitrariamente definidas pelo filme. Isso piora quando percebemos que muitas questões aqui levantadas, como quem afinal mandou o exterminador para a pequena Sara Connor, jamais são respondidas, dando a impressão de uma trama concebida sem cuidado ou de uma estratégia desonesta para justificar mais uma continuação (uma cena no meio dos créditos levanta essa possibilidade) ao fornecer uma experiência incompleta, tal como ocorreu em Prometheus (2012).
 
A trama ainda sofre com sérios problemas de tom, com algumas intervenções humorísticas destoando bastante do clima de urgência e perigo que o filme tenta desenvolver, em especial a cena em que eles são presos ao som da canção Bad Boys parece saído de um filme completamente diferente. Além disso, as interações entre Sarah e Kyle parecem tiradas de alguma comédia romântica ruim, recorrendo constantemente ao clichê do "casal que se detesta, mas se ama", passando boa parte do tempo trocando provocações apesar da atração obviamente visível.

O retorno de Schwarzenegger como o Exterminador é possivelmente o melhor do filme, estoico e determinado como o ciborgue protetor de Sarah, ele continua sabendo como nos fazer gostar de um personagem que é basicamente uma máquina de matar sem sentimentos. Suas frases de efeito e tentativas de se passar por humano são os melhores momentos do filme, embora repita à exaustão as brincadeiras com a idade do ator. O resto do elenco, no entanto, não funciona tão bem.

Emilia Clarke já tinha nos mostrado que sabia fazer uma personagem resoluta e de natureza feroz com sua khaleesi em Game of Thrones, mas aqui seu trabalho parece simplesmente equivocado. É difícil dizer se o problema é do roteiro, da direção ou da própria atriz, mas sua Sarah Connor jamais evoca a força e imponência que se espera da personagem. Além disso, neste filme Sarah é uma mulher que desde a infância viveu sozinha com um ciborgue assassino sendo treinada para ser uma líder militar. Era de se esperar que uma vida de isolamento e toda devotada ao combate mexesse com sua cabeça, mas a personagem se comporta como alguém que teve uma vida perfeitamente normal e saudável.

Jai Courtney, por sua vez, nos brinda com mais uma performance apática, algo que já tinha mencionado quando falei do recente Promessas de Guerra, e simplesmente não consegue nos convencer da bravura e experiência em combate de seu Kyle Reese. Tudo bem que ele é prejudicado por diálogos ruins, como anteriormente dito, mas também nunca consegue imprimir vida ou personalidade a Reese.

Já Jason Clarke tem uma ingrata tarefa como John Connor, uma vez que o personagem passa a grande maioria do filme reduzido a uma mera marionete da Skynet, uma reviravolta que já tinha sido revelada nos trailers do filme, e jamais consegue ser um antagonista interessante. O T-1000 vivido por Byung-hun Lee, por outro lado, é tão ameaçador e irrefreável quanto aquele vivido por Robert Patrick em O Exterminador do Futuro 2 (1991). O filme explora de modo criativo as habilidades do personagem e as cenas de ação que o envolvem são as melhores e mais interessantes do longa. É uma pena, portanto, que ele apareça tão pouco, já que o restante das cenas de ação carecem da inventividade, energia e sensação de perigo que os momentos iniciais da obra conseguem construir.

Deste modo, este Exterminador do Futuro: Gênesis é mais uma continuação que falha em fazer jus aos dois primeiros filmes da franquia, prejudicado por um roteiro bagunçado, um tom inconsistente e performances que não convencem.


Nota: 4/10

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