quarta-feira, 22 de julho de 2015

Crítica - Pixels: O Filme

Análise Crítica - Pixels: O Filme

Review - Pixels: O FilmeEntrar num cinema para ver um filme do Adam Sandler é algo que sempre me deixa apreensivo, dada a predileção do ator/roteirista/produtor em cometer atrocidades como Gente Grande 2 (2013) e Cada um Tem a Gêmea que Merece (2011). Este Pixels: O Filme, no entanto, não chega no nível catastrófico dos dois filmes citados, mas tampouco chega no patamar de alguns de seus filmes minimamente apreciáveis como Afinado no Amor (1998) ou Como Se Fosse a Primeira Vez (2004), curiosamente ambos parcerias com Drew Barrymore (assim como Juntos e Misturados, que já não é tão legal).

A premissa deste filme é que a NASA enviou vídeos para o espaço nos anos 80 e um desses vídeos continha imagens de games da época como Galaga e o Donkey Kong original. Os vídeos foram compreendidos pelos alienígenas como uma declaração de guerra e assim eles criam versões reais desses personagens de games para nos atacar. Sem ter a quem recorrer, o presidente (Kevin James) chama seus amigos de infância e ex-campeões de videogame Brenner (Adam Sandler) e Ludlow (Josh Gad), para ajudá-lo a combater a ameaça. 

Para qualquer um que cresceu nos anos 80 e viveu todo esse ambiente de fliperamas há um grande elemento de nostalgia e afeto, já que ele relembra não apenas os personagens desses jogos, mas uma época na qual a nossa experiência com games era diferente da que temos hoje. Não estou aqui dizendo que era melhor ou pior, isso é extremamente subjetivo e existem prós e contras em ambos casos, mas reconheço que jogar videogames hoje não é como era quando eu era criança.

Mesmo com toda nostalgia, no entanto, é capaz de me fazer relevar os personagens unidimensionais e o roteiro cheio de problemas. Adam Sandler interpreta o mesmo tipo de adulto imaturo que faz na grande maioria de seus filmes e seu humor consiste basicamente em fazer graça de qualquer um que não seja ele. Eu poderia dizer que é de mau gosto, mas isso seria chutar cachorro morto, já que Sandler, mesmo na época de Saturday Night Live, nunca se importou realmente em criar piadas minimamente elaboradas e sempre recorreu aos tipos mais pedestres de humor. O problema é que sua comédia é tão rasteira e preguiçosa que qualquer valentão de pré-escola seria capaz de criar, já que ele basicamente aponta para as pessoas e diz "você é velho", "você é gordo" ou "você é feio" e pronto, essa é a piada. Ele ainda tenta colocar referências pop e nerds entre um comentário maldoso e outro para nos iludir que há algum esforço mental em suas piadas, mas ele é basicamente uma versão real do Nelson de Os Simpsons e apenas aponta o superficial.

Do mesmo modo, Kevin James continua repetindo o estereótipo do "gordo atrapalhado" que vem fazendo em toda sua carreira e o prospecto de ter alguém como ele ocupando a Casa Branca me parece mais ameaçador do que qualquer ataque alienígena. Pensei até em considerar inverossímil que alguém tão estúpido ganhasse uma eleição presidencial, mas então lembrei que George W. Bush foi eleito duas vezes, então até faz algum sentido no fim das contas. Josh Gad fica preso a um papel que consiste basicamente de gritos histéricos que aborrecem mais do que fazem rir e Peter Dinklage (o Tyrion de Game of Thrones) tem pouco espaço para desenvolver seu ex-jogador egocêntrico. O mesmo acontece com a adorável Michelle Monaghan que tem pouco o que fazer com sua personagem além de ser um interesse romântico para Sandler, algo que piora quando constatamos que quase não há química entre eles.

O roteiro também tem lá sua parcela de problemas, em especial no modo como trata a conduta do personagem de Dinklage que em dado momento comete uma trapaça deliberada que põe em risco toda a humanidade, mas isso não repercute de modo algum, já que logo depois ele é novamente aceito pelos personagens sem receber qualquer tipo de repreensão ou punição por sua conduta, pelo contrário, ao final ele consegue exatamente o que queria. Aliás, como o personagem dele conseguiu usar "cheat codes" no mundo real? Principalmente porque ele não dispunha dos mesmos "botões" do jogo original e antes que reclamem que estou sendo implicante, isso não é um detalhe marginal, é um elemento principal da trama que muda radicalmente seus rumos. Se é para criar uma reviravolta, ela precisa sim fazer sentido, senão não há coesão no universo ficcional e qualquer coisa vale.

Além disso o arco de Ludlow também não faz muitos sentido, já que todos os personagens de games aparecem com um visual completamente pixelizado, mas a guerreira pela qual ele é apaixonado tem uma forma perfeitamente humana por pura conveniência de roteiro, o que não deixa de ser um desperdício de potencial cômico, já que ele interagindo fisicamente com alguém pixelizado renderia imagens engraçadas.

Já que falei na graça dos personagens de games ela se resume a mostrá-los para nós como quem dissesse "lembra desse personagem? pois é, ele está no filme, não é engraçado?" e, logicamente, não é suficiente para fazer rir. Como é um filme produzido por Adam Sandler e sua Happy Madison, não poderia faltar também humor escatológico e em determinado momento o personagem Q*Bert urina no chão e, bem, é isso, essa é a piada, basicamente associando a visão de urina a risos instantâneos. A única piada que funciona é a que envolve Pac-Man e seu criador, Toru Iwatani (Denis Akiyama), que ao contrário do que o filme enganosamente dá a entender não se trata de uma ponta do verdadeiro Iwatani, mas sim um ator interpretando-o. O estranho de tudo isso é que Iwatani de fato aparece no filme em uma pequena ponta como um técnico de fliperama.

As cenas de ação são corretas e tem efeitos especiais bem executados, mas com exceção da perseguição envolvendo Pac-Man, lhes falta intensidade e encantamento. Para suprir a falta de energia das cenas de ação, algumas vezes o filme recorre ao uso da música, como na cena do Donkey Kong na qual o filme apela para a canção We Will Rock You do Queen nos dar a empolgação que as imagens não estão conseguindo fornecer. Assim, há pouco de realmente memorável nos embates com os personagens de games e muito irá deixar sua mente minutos depois de sair da sala do cinema.

Pixels traz uma nostalgia afetuosa aos games do passado, mas a nostalgia sozinha não consegue compensar os personagens pouco interessantes e uma trama preguiçosa, cheia de soluções simplistas.


Nota: 4/10

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