D.U.F.F é mais um filme adolescente sobre alguém deslocado
que tenta se encaixar na rígida e cruel hierarquia social do ensino médio. Não
é um retrato mordaz desse universo como Meninas
Malvadas (2004), tampouco tem o cinismo e a ironia de A Mentira (2010), mas é suficientemente esperto e carismático para
funcionar.
Acompanhamos
Bianca (Mae Whitman), uma adolescente que é amiga de duas das garotas mais
populares da escola, mas que não é tão atraente ou popular quanto elas. Sua
vida muda quando o atleta Wesley (Robbie Amell) lhe diz que ela é uma DUFF,
sigla para Designated Ugly Fat Friend,
algo como "Amiga gorda e feia obrigatória" em português. Basicamente
é aquele amigo esquisito (não necessariamente gordo ou feio) que é usado pelos
demais para parecem mais bonitas e facilitar a aproximação com outras pessoas,
uma espécie de "escada" do grupo. Ao saber disso, Bianca decide que
não que mais ser uma D.U.F.F e pede que Wesley lhe ajude a ser como uma das
garotas bonitas e populares e conquistar o garoto por quem é apaixonada, Toby
(Nick Eversman).
A
narrativa toca nos mesmos temas de busca por identidade e auto-aceitação que
boa parte da ficção adolescente explora, como o recente Cidades de Papel, além de explorar os conflitos já familiares, como
a busca por um par na formatura, o bullying
(ou ciber bullying nesse caso) e até
o já tradicional momento em que a protagonista parece estar prestes a conseguir
a pessoa de seus sonhos apenas para se dar conta de que gosta realmente de seu
melhor amigo.
Não
há nada de exatamente novo e surpreendente, embora aqui e ali evite de cair no
lugar comum, a exemplo da decisão de não vilanizar as amigas de Bianca como
patricinhas dissimuladas e mostrar as garotas como verdadeiras amigas com
razões genuínas para gostarem de Bianca e que não se importam com rótulos. Nesse
sentido, o principal acerto da história é no modo em tratar como os
dispositivos digitais estão completamente integrados à vida dos adolescentes e
são uma extensão de suas identidades, com caixas de texto e hashtags pipocando na tela a todo
momento, como se estivéssemos em algum ambiente virtual, tanto que quando
Bianca decide se afastar das amigas temos uma engraçada cena envolvendo as três
com seus celulares enquanto descurtem e excluem as redes sociais umas das outras.
Por outro lado, a tentativa do filme em abordar a questão do bullying virtual e suas consequências
também é interessante, mas o tema acaba não recebendo a cuidado devido e é
resolvido muito rápido e muito fácil quando uma das amigas de Bianca, que
convenientemente é uma hábil hacker,
tira o vídeo ofensivo do ar.
Outro
grande trunfo é a dupla principal do filme, especialmente Robbie Amell, já que
fazer alguém tão estúpido e cafajeste não soar aborrecido ou caricato não é tão
fácil quanto parece e requer uma certa competência, além de uma boa dose de
carisma. Claro que ele acaba revelando ser algo mais que isso conforme o filme
avança, mas se ele não tivesse conseguido atrair nosso interesse já de início,
a virada do personagem não convenceria. Já Mae Whitman trabalha bem a
"esquisitice", por assim dizer, que a distancia dos colegas, bem como
o charme e carisma que nem ela mesma parece saber que tem. A atriz também é
eficiente em mostrar como o bullying
e as fofocas podem abalar até mesmo alguém confiante e despreocupada com
opiniões alheias como Bianca. Além da dupla, alguns coadjuvantes roubam a cena,
como a mãe dela (Allison Jenney), seu professor de jornalismo (Ken Jeong) e o
diretor da escola (Romany Malco), que geram momentos engraçados sempre que
aparecem.
D.U.F.F pode não ser tão inovador quanto se considera ser,
mas ainda assim é uma comédia bem interessante sobre aceitar quem somos e não
se conformar com os rótulos dos outros.
Nota:
6/10
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