É
compreensível que as histórias de extermínio e sobrevivência de judeus na
Europa continuem a interessar ao cinema, afinal apesar de mais de meio século
depois da queda do Terceiro Reich, ainda existem muitos crimes que permanecem ocultos
e muitas sequelas desses crimes permanecem ainda hoje. Este A Dama Dourada é uma dessas histórias e
havia aqui um grande potencial que infelizmente não se concretiza.
No
filme, a octogenária Maria Altmann (Helen Mirren), uma judia austríaca que
fugiu da ocupação nazista para viver nos Estados Unidos, descobre que sua irmã
estava juntando documentos para reaver as obras de arte da família, roubadas
pelos nazistas durante sua ocupação do país. O mais importante delas é um
retrato de sua tia Adele (Antje Traue) pintado pelo simbolista Gustav Klimt,
que os nazistas renomearam como "A Dama Dourada" para ocultar a o
fato de que a modelo retratada era judia. Sem ter a quem recorrer, ela leva a
questão a Randy Schoenberg (Ryan Reynolds), advogado filho de uma amiga sua, e
juntos partem para Viena para reaver a obra, mas como o quadro passou a ser
considerado "a Monalisa de Viena" as autoridades não parecem tão
dispostas a abrir mão dele.
A
busca de Maria não é apenas por uma reparação material, mas também por uma
reparação por tudo de imaterial que lhe foi tirado, sua família, sua dignidade
e sua nação (já que fora obrigada a fugir para sobreviver) e Helen Mirren
convoca bem esse sentimento na cena em que se pronuncia ao comitê de
restauração de propriedade. Já Ryan Reynolds sai um pouco de sua zona de
conforto ao fazer um personagem mais contido e vulnerável, diferente dos tipos
engraçadinhos que normalmente faz, mas em geral consegue convencer como um
sujeito que está claramente em uma situação com a qual não está totalmente
preparado para lidar.
O
problema do filme reside, porém, no seu excesso de redundância e didatismo, que
coloca os personagens para explicar as próprias ações mesmo quando suas
motivações estão perfeitamente claras para nós ou o modo como são inseridos flashbacks que apenas nos dizem coisas
que já sabíamos. Um exemplo é quando Randy está prestes a se pronunciar frente
à suprema corte e o filme interrompe o fluxo da ação para nos mostrar um flashback de Maria viajando para os Estados
Unidos e recebendo a notícia da morte do pai. A inserção desse evento não
contribui em nada com a narrativa (pois nos dá informações que já conhecíamos)
e parece inserida em um momento inadequado, afinal a cena estava concentrada em
Randy e deslocar o foco para Maria num momento tão importante para o personagem
soa equivocado. Outro momento é próximo ao final quando Maria se lembra de sua
última conversa com a família e todos choram enquanto seu pai lhe que não se
esqueça, uma fala que soa óbvia e repetitiva, já que tudo que ela fez até então
claramente era por não ter esquecido tudo que passaram. Assim sendo, parece
menos um momento voltado para o aprofundamento da personagem e mais um modo de
tentar forçar o choro do público ao ver o trio se despedindo em prantos.
Chega
a ser curioso, já que os momentos em que o filme mais emocionam são aqueles
mais sutis como quando Maria vê o quadro da tia pela primeira vez depois de
décadas ou a cena em que ela literalmente caminha entre suas memórias ao
visitar sua antiga casa. Nas duas ocasiões há pouco ou nenhum diálogo e apenas
com sua expressão e linguagem corporal Helen Mirren consegue nos convencer do
peso que aquilo tudo tem para Maria.
É
uma pena que momentos assim sejam poucos e que durante boa parte de sua duração
o filme martele suas intenções para nós com uma mão tão pesada. A interessante
história real de A Dama Dourada acaba
se perdendo em seu excesso de didatismo e no modo forçado com o qual tenta
convocar nossa emotividade.
Nota:
5/10
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