segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Crítica - Hitman: Agente 47


 
Hollywood vem há tempos tentando levar os videogames de maneira consistente às telas, mas até agora os resultados variaram entre o minimamente tolerável (como Lara Croft: Tomb Raider) e o completamente execrável (como Super Mario Bros: O Filme) e essa segunda tentativa de fazer um filme com a franquia Hitman (e sinceramente não vi o primeiro, estrelado por Timothy Olyphant) lamentavelmente não quebra essa tendência.   

Acompanhamos o misterioso Agente 47 (Rupert Friend), um homem fruto de um projeto de engenharia genética criado para ser um assassino, que viaja o mundo em busca de Katia van Dees (Hannah Ware) a única pessoa que parece ser capaz de localizar o Dr. Litvenko (Ciarán Hinds), o cientista responsável por iniciar o programa dos Agentes. 47 não é o único atrás de Litvenko, assim como ele, o operativo John (Zachary Quinto), trabalha para um grupo criminoso que busca encontrá-lo para reiniciar o programa.

A trama parece bem simples e básica, como se espera de um filme de ação, feita apenas para dar um mínimo de contexto à pancadaria e levá-la do ponto A ao ponto B. O problema é que ela insiste em se complicar mais do que deveria criando reviravoltas em cima de reviravoltas (muitas já mostradas no trailer) que não levam a lugar nenhum e não acrescentam nada aos personagens, resultando em uma bagunça confusa, cheia de furos e com vários elementos que nunca são explicados, seja por escolha deliberada (para serem tratados em uma continuação) ou puro descuido. A misteriosa organização à qual 47 serve, por exemplo, jamais recebe qualquer atenção e o filme termina sem que saibamos quem são aquelas pessoas ou o que elas pretendiam.

A necessidade em criar eventos cada vez maiores e climáticos vai tornando as coisas cada vez mais absurdas, como o fato do líder dos vilões viver o tempo inteiro trancado em seu escritório, ao ponto de seus subordinados ficaram sem reação ao vê-lo sair. Afinal, de que adianta ser o cabeça de um império multibilionário do crime se ele é praticamente um prisioneiro em uma solitária? Talvez se tivéssemos uma ideia clara do que ele pretende isso funcionaria, mas do jeito que está soa ridículo. O modo como o filme trata os assassinos também vai exponencialmente ampliando o absurdo, ao ponto que eles mais parecem um cruzamento de Jason, de Sexta Feira 13, com o Exterminador do Futuro, já que eles aparecem em qualquer lugar e nada os mata.

Eu sei que eles são indivíduos com capacidade física e mental ampliada, já era assim no jogo, mas aqui eles são praticamente super heróis. Os sentidos ampliados de Katia mais parecem os poderes telepáticos do Professor Xavier e o indestrutível personagem de Zachary Quinto com sua "armadura subcutânea" praticamente coloca o filme no domínio da ficção científica. A questão nem é o absurdo por si, mas que o filme parece levar a sério esses exageros, tornando tudo ainda mais risível.

Essa invencibilidade dos personagens acaba prejudicando as cenas de ação. Elas são bem feitas, bem coreografadas e não economizam na brutalidade e na violência, mas os personagens são tão superiores que nunca sentimos que eles estão em perigo ou em qualquer dificuldades, pelo contrário, percebemos que claramente são capazes de escapar ilesos com facilidade. Assim, vê-los eliminar horda atrás de horda de inimigos acaba sendo tão enfadonho e pouco empolgante quanto jogar o game usando um cheat de invencibilidade, inicialmente é até divertido vê-los despachar os adversários sem esforço, mas a apelação logo perde a graça.

O filme ainda tenta se aproximar do game em algumas cenas envolvendo furtividade e o 47 vestindo diferentes disfarces, mas o sucesso do protagonista é tão certo, que tudo é desprovido de tensão. Rupert Friend faz o que pode para tornar 47 minimamente interessante, basicamente interpretando uma versão mais exagerada de seu personagem na série Homeland, um assassino em busca de sua humanidade, a questão é que na série ele tinha conflitos bem delineados e desenvolvidos e aqui seu personagem é praticamente uma folha em branco desprovida de carisma. O restante dos personagens é um bando de caricaturas que parecem saídas de algum desenho animado dos anos 80 e nenhum é particularmente interessante.

Assim sendo, este Hitman: Agente 47 é um filme de ação sem personalidade, que peca por uma trama desnecessariamente confusa, que não parece se decidir entre a seriedade e a falta de noção, com combates que rapidamente se tornam enfadonhos e personagens pouco interessantes. Talvez visto numa madrugada insone num Domingo Maior da vida acabe funcionando, mas dificilmente vale a ida ao cinema.

Nota: 3/10

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